Luxúria

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TW: Dub-con

Uma semana.

Já fazia uma semana em que Ricardo estava trancado no apartamento de Sandro, andava livremente, ia para onde queria... só não podia sair. De início não se importou muito, o acordo que eles fizeram era bom o bastante para si, não podia mentir, estava até contente. Podia fazer o que queria o dia todo, tinha comida e coisas para se distrair, Sandro estava aos poucos voltando com sua personalidade marrenta natural, que Renan precisava admitir, que adorava. Pensou que era suficiente.
Porém nos últimos dias, a vontade de sair vinha crescendo. Só dar uma volta.

Renan havia acabado de acordar, aquela manhã em São Paulo estava bem fria, ao contrário do próprio corpo que se encontrava quente após uma noite de sonhos nada apropriados, era como se sua libido que houvesse sumido nos primeiros dias, apenas voltasse com tudo. Estranhamente Sandro não estava no quarto, imaginou que ele tivesse saído.
Saiu do quarto se espreguiçando, sem sinal de nenhum café, já que o carioca havia pedido a Sandro para que o deixasse fazer o café sozinho... a casa parecia mais vazia do que o normal sem o paulista por perto.

Chegando na cozinha, acabou percebendo a porta do escritório de Sandro entreaberta, geralmente ele fazia questão de deixar tudo fechado. Estava mais curioso do que estava com fome. Caminhou até a porta preta com cautela, como se estivesse fazendo algo errado, espiando pelo canto conseguiu ver Sandro deitado sobre a mesa, parecia estar dormindo.
Ricardo empurrou a porta devagar, adentrando o escritório. Paredes pretas, grandes estantes no fundo da sala e uma escrivaninha bagunçada no meio, com um computador que parecia novinho mas bem usado.

O carioca explorou a sala um pouco. Dezenas de livros e decorações nas prateleiras, entre elas viu um quadro deitado, estendeu a mão para levantar e viu que havia vidro quebrado, provavelmente do porta-retrato. Havia uma foto velha ali, uma foto de família com três pessoas.

Uma mulher usando um vestido vermelho comprido, com de cabelos negros escorridos, olhos puxados tão pretos quanto seus fios, neles contendo um claro cansaço, um olhar de derrota e tédio. Ao seu lado havia um homem alto e forte usando um terno e barba semi-grisalha, um olhar imponente e duro... no meio, havia uma criança magra e franzina usando uma camisa de botão, cabelos curtos e negros, e com as mãos juntas, parecendo as apertar firmemente.
Claro que reconheceu na hora, era Sandro e sua família. Seu pai era exatamente como havia imaginado. Voltando seu olhar à criança, seu olhar era inconstante. Seria medo ou determinação? Derrota ou imponência? Era como se mimicasse ambas as expressões dos pais, incerto sobre onde ir.

Achou melhor deixar o quadro ali, deixou do mesmo jeito de antes, a foto virada para baixo, sobre os cacos de vidro. Não iria falar sobre o que havia visto, apenas agora tinha uma imagem para ilustrar a relação entre Sandro e sua família.

Deixou de observar o escritório, agora tornou sua atenção ao pobre paulista que parecia ter dormido no meio do trabalho, apenas de camisa social e cueca e em cima do computador, ao lado de uma caixa de remédios para insônia.
Seu rosto estava em cima do teclado, pressionando a tecla "f". Haviam algumas páginas de "effes" sendo escritos naquele momento... não querendo o acordar, apenas fechou o arquivo após salvar.
Ainda sorrindo, analisou a expressão nada confortável no rosto do... ahm. Namorado? Depois discutiriam isso melhor... estava com o cenho franzido, a mandíbula cerrada com força, quase todo o rosto contorcido em uma expressão de tensão. Não conseguiu deixar de notar que o paulista estava fazendo um biquinho muito fofo naquele momento, e o jeito que os cabelos negros caíam feito uma cachoeira sobre aquela pele pálida, deixava a figura de Sandro quase angelical, etérea.

Ricardo acariciou a nuca do jovem, recebendo de volta apenas um murmúrio incoerente. O carioca deu uma risadinha, não conseguindo se segurar de deixar um beijinho sobre a têmpora.

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⏰ Última atualização: Sep 12 ⏰

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