𝘊𝘰𝘮𝘰 𝘦𝘶 𝘦𝘳𝘢 𝘢𝘯𝘵𝘦𝘴 𝘥𝘦 𝘷𝘰𝘤𝘦̂ a última carta de amor

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Desculpe, Louisa - disse, depois de me contar. - Vou voltar para a Austrália. Meu pai não está bem e parece que o castelo vai mesmo começar a servir seus próprios lanches. Tem um aviso na parede.
Acho que fiquei lá sentada, literalmente de boca aberta. Frank então me entregou o envelope e respondeu minha pergunta antes que ela saísse da minha boca.
— Sei que nunca tivemos, você sabe, um contrato formal ou algo do tipo, mas eu não quero deixá-la na mão. No envelope tem três meses de salário. Fechamos amanhã.
- Três meses! - explodiu papai, quando mamãe colocou uma xícara de chá adoçado nas minhas mãos. - Bom, é generoso da parte dele, já que ela trabalhou como escrava naquele lugar nos últimos seis anos.
- Bernard. - Mamãe lançou-lhe um olhar de aviso, indicando Thomas com a cabeça. Meus pais cuidavam dele depois da escola até
Treena voltar do trabalho.
— Que diabo ela deve fazer agora? No mínimo, poderia ter sido avisada com mais de um dia de antecedência.
- Bom... ela simplesmente vai ter de arrumar outro emprego.
- Não tem outra porcaria de emprego, Josie. Você sabe tão bem quanto eu. Estamos numa maldita recessão.
Mamãe fechou os olhos por um instante, como se estivesse se controlando antes de falar.
- Ela é uma garota inteligente. Vai achar alguma coisa. Tem um currículo consistente, não tem? Frank vai escrever uma boa carta de referências.
- Ah, grande coisa... "Louisa Clark é muito boa em passar manteiga na torrada e excelente com o velho bule de chá."
- Obrigada pelo voto de confiança, pai.
— Só estou dizendo.


Eu sabia o verdadeiro motivo da preocupação de papai. Eles dependiam do meu salário. Treena ganhava quase nada na floricultura.
Mamãe não podia trabalhar, pois tinha de cuidar do vovô e a pensão dele era mínima; papai estava sempre tenso em relação a seu emprego na fábrica de móveis. Fazia meses que o patrão vinha resmungando sobre um possível corte de pessoal. Em casa, comentava-se sobre dívidas, sobre a ilusão dos cartões de crédito. Dois anos antes, um motorista sem seguro destruíra o carro de papai e, de certa maneira, foi o que bastou para pôr abaixo o instável edifício que eram as finanças de meus pais. Meu modesto salário vinha sendo um pequeno pilar no orçamento doméstico, suficiente para ajudar a cuidar de nossa família a cada semana.
- Não vamos nos precipitar. Amanhã ela pode ir ao Centro de Trabalho e ver quais são as ofertas. Ela tem o suficiente para se sustentar, por enquanto. - Eles falavam como se eu não estivesse ali.
- E é inteligente. Você é inteligente, não é, querida? Talvez possa fazer aulas de digitação. Trabalhar em um escritório.
Eu me sentei enquanto meus pais discutiam que trabalhos eu poderia conseguir com minhas poucas qualificações. Operária de fábrica, especialista em ferramentas mecânicas, passadora de manteiga.
Pela primeira vez naquela tarde, tive vontade de chorar. Thomas me olhava com seus grandes olhos redondos e, sem dizer nada, me deu a metade de um biscoito babado.
- Obrigada, Tommo - falei apenas movendo os lábios, sem emitir som, e comi o biscoito.
* **
Ele estava na academia de ginástica, como eu sabia que estaria. De segunda a quinta, pontual como um relógio suíço, Patrick ficava lá se exercitando ou dando voltas na pista bem-iluminada. Subi a escada abraçando a mim mesma para me proteger do frio e entrei devagar

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