— Acha que eu seria muito mais convincente ao oferecer um Balde
KFC do que um Chicken McNugget? Acho que não.
- Bom, então temos de procurar algo ainda mais longe.
- Nossa cidade tem apenas quatro linhas de ônibus. Você sabe disso. E você disse que eu devia procurar o ônibus de turismo, mas liguei para a estação e ele para de circular às cinco da tarde. Além disso, é duas vezes mais caro que o ônibus normal.
Syed recostou-se na cadeira.
— A essa altura, Louisa, eu realmente preciso dizer que, sendo apta e capaz, para continuar a receber seu auxílio, você precisa...
- ...mostrar que estou tentando conseguir um emprego. Eu sei.
Como explicar para aquele homem o quanto eu queria trabalhar?
Ele tinha alguma ideia do quanto eu sentia falta do meu antigo emprego? O desemprego era um conceito, algo vagamente citado nos noticiários, que referia-se a estaleiros ou fábricas de automóveis. Nunca pensei que se pudesse sentir falta de um emprego como se sente de um braço ou de uma perna, algo que está sempre ali, que faz parte de você.
Não imaginei que, além dos medos óbvios sobre dinheiro e futuro, perder o emprego fizesse a pessoa se sentir inadequada e um pouco inútil. Que pode ser mais difícil levantar de manhã do que quando se é brutalmente trazido à consciência pelo toque do despertador. Que você pode sentir falta dos colegas de trabalho, não importando quão pouco você se identificava com eles. Ou até mesmo que você pode ficar procurando rostos conhecidos ao andar pela rua. A primeira vez que vi a Sra. Dente-de-leão vagando na frente das lojas, parecendo estar tão sem rumo quanto eu, tive de lutar contra o ímpeto de ir até lá e dar um abraço nela.
A voz de Syed interrompeu meu devaneio.
- Ah, isto aqui pode dar certo.
Tentei dar uma olhada na tela.
- Acabou de aparecer. Neste minuto. Uma oferta de emprego como cuidadora assistente.
— Eu lhe disse que não sou boa com...- Não é com idosos. É uma... vaga confidencial. Para ajudar na casa de alguém, e o endereço fica a menos de três quilômetros de onde você mora. "Cuidados e companhia para deficiente físico." Você sabe dirigir?
— Sei. Mas eu teria de limpar o...
- Não é necessário limpar traseiros, pelo que entendi. - Ele examinou a tela. - Ele é... tetraplégico. Precisa de alguém de dia para ajudá-lo a se alimentar e para assisti-lo. Geralmente, nesse tipo de emprego é preciso acompanhar a pessoa quando ela quer ir a algum lugar, ajudar com coisas simples que ela não possa fazer. Ah. Paga muito bem. Muito mais do que o piso.
- Provavelmente porque deve envolver limpeza de traseiro.
- Vou ligar para confirmar isso. Se não precisar, você aceita fazer uma entrevista?
Ele perguntou como se houvesse dúvida.
Mas nós dois já sabíamos a resposta.
Suspirei e peguei minha bolsa, pronta para voltar para casa.— Jesus Cristo - exclamou meu pai. - Dá para imaginar? Como se já não fosse castigo suficiente ficar numa cadeira de rodas enferrujada, você ainda tem como acompanhante a nossa Lou.
- Bernard! - minha mãe o repreendeu.
Atrás de mim, vovô ria com a caneca de chá encostada na boca.Continua................
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𝘊𝘰𝘮𝘰 𝘦𝘶 𝘦𝘳𝘢 𝘢𝘯𝘵𝘦𝘴 𝘥𝘦 𝘷𝘰𝘤𝘦̂ a última carta de amor
RomancePrólogo Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10