Capítulo 4 - Territórios

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Serena

Eu corri o que meus pés permitiam, ainda ofegante e me maltratando mentalmente por ter deixado o véu cair, sem paciência apenas pulei os muros baixos da casa onde morávamos. Não era uma casa super chique como as do centro ou os palacetes, mas era simples, ela estava abandonada, o motivo era que diziam que estava assombrada, mas na verdade é que antes ela era ocupada por uma casa de Umbanda. 

Dona'ninha que nos deixou ficar aqui cuidando do lugar que por mais que não fosse mais usado por eles, ainda era sagrado e precisava de sempre cuidados, e nós mantínhamos tudo em ordem. Eu digo que foi um grande milagre os Capitães da Areia não descobrirem ainda essa casa, apesar de ficar 10 minutos de distância do Trapiche, acredito que quando eles descobrirem que seus "inimigos" dormem literalmente quase ao seu lado eles vão enlouquecer.

Abri devagar a porta vendo Vitória ainda sentada no sofá velho de esfarelado de couro com apenas uma vela acesa me esperando, ela me olhou cerrado e percebeu que eu estava cansada. "O que aconteceu, demorou mais que antes"- Ela sentou mais para o lado do sofá me dando espaço.

Ao me sentar me estiquei completamente e suspirei- "Quase que Pedro Bala me pega"- Seus olhos se arregalaram em surpresa, ninguém antes havia conseguido nem sequer me alcançar pelos becos.

Vitória se aproximou de mim- "Porra...Ele te viu?" Neguei com a cabeça e ela pareceu mais tranquila.

"Eu cortei caminho como sempre pelos becos até o Gonzaga, mas então quando ele estava contando o dinheiro para me entregar ele soltou algo dizendo que ele pagaria a metade da metade pelas joias da Joalheria, imagino que Pedro Bala estava escutando pelo lado de fora ao lado da porta, porque notei ter alguem lá, e então escondi o dinheiro e sai correndo e ele me seguiu- Disse ao retirar de dentro do meu sutiã o bolo de notas e a mesma sorriu e começou a contar, olhando para mim

"Onde esta o seu véu?"- Vitória me perguntou mas logo depois pareceu entender- "Ele caiu enquanto corria né?"- concordei e ela suspirou- "Bom agora ele tem uma lembrança sua, que romântico..."- ela zombou de mim fazendo uma voz fina e suspirando feito os livros de contos de fadas que lia para as meninas mais novas

Eu ri dando um leve empurrão nela "Para de ser besta, amanhã tenho um trabalho para nós" -Ela assentiu e logo depois guardou o dinheiro na caixa embaixo do sofá onde ficavam todo o dinheiro e moedas do grupo e fomos ir dormir.

A casa tinha apenas 4 cômodos, 1 banheiro, 2 quarto que dividíamos eu e Vitória e outro de Roberta, Pietra e Alice, já que era o quarto maior para elas, e a cozinha sala tudo junto, não tinha muitos móveis, as camas que tinham estavam sem pés e com algumas rachaduras, mas serviam para usar, e era em nosso quarto que ficava um guarda-roupa velho e surrado de madeira.

Nossas roupas eram boas, afinal a gente ia frequentemente em lojas para pegar algumas peças emprestado sem devolução, se me entendem. Deitei na cama de casal que ficava onde eu e vitória dormíamos, me deitei e me tampei com um lençol por não estar um dia frio, e logo depois Vitória já se deitou ao meu lado e fomos dormir.

Pela manhã acordei um pouco mais tarde que o comum, e então fui até a cozinha onde as meninas já tomavam um café, gelado mas era o que tinha, e um pão normal. "Bom dia meninas"- Eu disse ao sentar em uma das cadeiras de pé bambo com meu café na mão

"Bom Dia" - Elas me responderam em conjunto e logo depois Pietra já perguntou - "A Vitória disse que você tem um trabalho pra gente fazer, qual é?" - Ela perguntou enquanto sacodia as mãos sujas de farelo de pão, e as outras meninas me olhavam atentamente.

" Sim, mas vamos tomar café tranquilas e sentamos ali na sala para discutir sobre - Elas concordaram e nós então depois fomos até o sofá elas todas estavam sentadas enquanto eu estava de pé para explicar a elas o plano

"Vai Serena, conta logo seu plano" - Vitória disse, a mesma me conhecia quando eu estava pensando em alguma coisa, então sorri a elas e comecei a explicar.

" Eu vou entrar na base dos Capitães da Areia." - Elas arregalaram os olhos surpresas, mas Pietra mantinha o rosto normal.

"Como assim? Explica melhor..."- Pietra me olhava com curiosidade e então peguei da mesa uma das nossas conchas douradas com nossa sigla

" Eu vou entrar lá bem na madrugada de hoje, e bem ao lado de onde Pedro Bala dorme vou deixar isso"- Balancei a concha em minhas mãos e elas pareceram entender

"E se ele te pegar lá mana?" - Alice parecia preocupada e eu sorri

" Não vai acontecer isso, e é por esse motivo que estou falando com vocês agora, eu preciso de alguém para distrair quem fica de vigia na porta"- Olhei para elas e logo Roberta se levantou

" Eu vou com você, eu gosto de distrair" - Nós todas rimos e então demos inicio ao plano. 

Narradora

Na calada da noite, Serena, guiada apenas pela luz tênue da lua, aproximou-se do território inimigo juntamente com Roberta. Com agilidade e destreza, elas conseguiram driblar as sentinelas e deslizar pelos becos estreitos que levavam ao esconderijo dos Capitães da Areia.

Roberta a seguia, ambas nervosas e com o coração pulsante, seus sangues corriam feito balas em suas veias. Ao chegarem perto do trapiche se encostaram na grossa parede ao lado de cimento, o gelo do material passara por suas costas arrepiando sua coluna, a mesma ofegante olhara apenas um pouco para ver quem seria que estava de vigia, e ao notar ser o Volta Seca. 

A mesma saberá quem ele era pois correra um murmuro do mesmo em dizer a todos ser afilhado de lampião, e a mesma ao ver aqueles trajes característicos voltou a cabeça para se esconder e sorriu para Roberta sussurrando em um volume quase inaudível.

"É aquele Volta Seca, que se veste feito lampião"- A mesma concordara e sorrira para ela, e então Roberta deu a volta no trapiche ficando na parede oposta a de Serena e então Roberta caminhara para praia tranquilamente. 

Serena notara Volta Seca sorrindo ao ver a garota andando movimentando seus quadris e se aproximara dela. Enquanto Roberta dava uns amasso no garoto, que por sorte estava escuro e as nuvens tamparão a luz da lua, o rosto de Roberta estava indecifrável naquele momento. 

Ao chegar no Trapiche, Serena com coração pulsante e uma mistura de adrenalina com determinação. Cautelosamente, ela entrou sorrateira no local onde os Capitães descansavam. Ela passou pelos garotos que dormiam feito pedra e em posições que a mesma não acreditava que eram possíveis dormir. 

Ao adentrar mais no trapiche encontrara onde o chefe deles dormira, separado dos outros em uma cama quebrada. A luz fraca revelava a figura adormecida de Pedro Bala, sua expressão tranquila na quietude da noite, o mesmo estava apenas de bermuda e Serena não pode deixar de olhar para o abdômen do garoto que era magro mas definido. 

Serena deixou a concha dourada com delicadeza, posicionando-a estrategicamente ao lado do lugar onde Pedro Bala repousava. O brilho do objeto reluzia como uma mensagem simbólica, desafiando os Capitães da Areia e mostrando que elas estavam em um nível acima dos deles em questão de esperteza.

O silêncio da noite foi quebrado apenas pelo sussurro suave do vento e pelo som distante das ondas. Com a missão cumprida, Serena deslizou para fora do Trapiche, desaparecendo na escuridão como uma sombra audaciosa. Roberta quase não notou a saída da amiga de tão discreta que foi, e então largando o garoto que estava aos beijos correu para longe sem dizer uma palavra e logo depois as duas felizes e sorridentes se abraçaram como dever cumprido.

"Ele até que beija bem, se precisar de mim novamente"- Roberta disse e ambas riram e voltaram para a casa abandonada.

Entre Mares e Amar - Pedro BalaOnde histórias criam vida. Descubra agora