Capítulo 7- Déjà vu

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O Trapiche dos Capitães da Areia estava mergulhado na penumbra quando Pedro Bala retornou, a noite avançando e trazendo consigo as sombras que ocultavam as atividades das ruas de Salvador. Ao adentrar o espaço conhecido, algo peculiar prendeu sua atenção. Um aroma familiar flutuava no ar e em sua pele, o perfume de Serena havia ficado nele, provocando uma sensação de déjà vu.

Pedro Bala, intrigado, fechou os olhos por um instante ao se deitar na sua cama velha, focando-se no perfume que se misturava com a brisa noturna. O cheiro era inconfundível, e, de repente, uma imagem se formou em sua mente: o véu daquela garota desconhecida que caíra no chão durante a perseguição pelos becos de Salvador.

Um lampejo de reconhecimento se acendeu em sua mente. O véu, o aroma, agora Pedro Bala conectava os pontos. A garota misteriosa daquela noite, a integrante das Damas de Salvador, era Serena. O véu, o cheiro que impregnara o beco e em sua pele, tudo fazia sentido.

A revelação ecoou em seus pensamentos enquanto ele se lembrava da troca de olhares e da energia que compartilharam naquele beco escuro. O encontro casual no bar, o a enorme vontade de beijá-la no beco mais tarde, a dualidade de suas vidas convergindo em um instante tão simples.

Pedro Bala, com uma expressão mista de surpresa e fascinação, murmurou para si mesmo: "Serena... faz parte das Damas de Salvador."

Pedro Bala

Eu estava a mais de meia hora sentado na cama apenas ligando os pontos na minha mente, com aquele véu em minhas mãos e sentindo aquele cheiro, confirmando ser realmente de Serena, um estalo se deu em minha cabeça. Ela sabia quem eu era, mas eu não sabia quem ela era, e todo aquele tempo ela agirá de uma forma tão natural, como ela teve a coragem de beijar, literalmente o seu "Inimigo".

E novamente outro estalo veio em minha mente mas professor apareceu na entrada de onde eu dormia  de braços cruzados. "Professor, eu acho que descobri a identidade de uma das Damas de Salvador"- ele me olhou intrigante e surpreso e se aproximou " E eu beijei ela em um beco sem nem saber"

"Você beijou uma das Damas de Salvador? E descobriu a identidade dela?" - Professor indagou, seus olhos buscando mais detalhes.

Assenti, ainda processando a revelação que acabei de fazer. "Sim, Professor. Lembrei de um cheiro e de um véu que uma garota deixou cair durante uma perseguição. Hoje à noite, eu a reconheci, é a Serena."

Professor, com sua habitual serenidade, ponderou sobre a complexidade da situação. "Serena... interessante. Como isso aconteceu?"

Compartilhei sobre o encontro no bar até o beijo no beco. Professor ouviu atentamente, suas engrenagens mentais girando enquanto processava a nova informação.

"Mas, lembre-se, Bala, a rivalidade entre as gangues continua. Cuidado com essas conexões," Professor me aconselhou, mantendo seu olhar focado.

Narradora

Serena retornou à casa abandonada, onde as Damas do Mar encontravam refúgio, carregando consigo o peso dos acontecimentos recentes. As outras meninas, Rebeca, Pietra, Alice e Vitória, aguardavam com expectativa e curiosidade pela líder.

Ao entrar, Serena lançou um olhar sério para cada uma delas, decidida a compartilhar os eventos da noite. "Meninas, precisamos conversar. Algo aconteceu hoje que pode mudar o jogo entre nós e os Capitães da Areia."

O grupo se reuniu em torno de Serena, ansioso para ouvir as novidades. Serena prosseguiu, detalhando a visita ao bar, o encontro com Pedro Bala e o beijo no beco. Ela não mencionou que era a líder das Damas de Salvador, mantendo a discrição sobre sua posição na gangue em segredo.

"Pedro Bala, o líder dos Capitães da Areia, estava lá no bar. Ele me ajudou quando uns garotos começaram a me incomodar. Mais tarde, fomos para um beco e... bem, as coisas esquentaram," Serena explicou, escolhendo palavras cuidadosas já que Alice se encontrava prestando atenção, mas ela não deixou de notar um sorriso no rosto de Vitória, e o mesmo estava estampado no de Rebeca, seguido por Pietra que fez uma cara de nojo e Alice que parecia não compreender nada.

As Damas de Salvador ouviram atentamente, processando as revelações. Vitória, sempre astuta, questionou: "E como você sabe que ele descobriu alguma coisa?"

Serena suspirou, revelando sua inquietação. "Pelo meu perfume, quando ele comentou que era muito bom notei que usei o mesmo que usei no dia da perseguição, o mesmo cheiro do véu que ainda esta com ele, tenho certeza que agora ele deve ter ligado tudo e descoberto."- as garotas concordaram

O silêncio pairou na casa abandonada enquanto as Damas de Salvador absorviam a magnitude das revelações de Serena. O jogo entre as gangues alcançava novos patamares de complexidade, e o futuro nas ruas de Salvador parecia mais incerto do que nunca. O destino dessas jovens marginais estava entrelaçado, e cada movimento moldaria a narrativa intrincada que continuava a se desdobrar.

O quarto escuro e silencioso na casa abandonada servia como refúgio para as Damas de Salvador. Vitória, deitada em sua cama que dividia com Serena, dirigiu-se a mesma, que estava próxima se arrumando para deitar.

Vitória, com um sorriso malicioso, quebrou o silêncio: "E aí, Serena, conta tudo. Como foi o beijo do Pedro Bala? Era bom?"

Serena, ao se preparar para descansar, sorriu de volta, tentando esconder a expressão pensativa que se desenhava em seu rosto e o rubor em suas bochechas. "Foi... surpreendente. Intenso. Senti uma mistura de emoções, não sei explicar."

Vitória riu de leve. "E depois do beijo? Como você se sentiu?"- Ela parecia interessada em saber como era ficar com um dos Capitães da Areia, já que a mesma terá um pequena queda em um deles, por dizer, Professor.

Serena suspirou, refletindo sobre as sensações que o encontro havia despertado. "Foi estranho, Vi. Eu não posso negar que ele beija bem e..."- ela olhou para a amiga que esperara mas antes de falar mais do que devia pegou seu travesseiro e bateu levemente na garota. " E o resto não te interessa!"- brincou ao se deitar.

Vitória assentiu, e sorriu "As coisas estão ficando cada vez mais complicadas. Mas não se preocupe, estamos juntas nessa."

Serena sorriu, agradecendo pela lealdade de Vitória. "Obrigada. Vamos enfrentar o que vier juntas. Agora, é melhor descansarmos. Amanhã é outro dia."

Enquanto Serena apagava a vela ao lado da cama, antes das duas mergulharem em um sono inquieto, conscientes de que as intrigas e desafios das ruas de Salvador continuariam a moldar seus destinos, Vitória apenas disse:

"Sabe, o professor é um gatinho né?"- Serena levantou levemente seu corpo para a amiga que dormia ao seu lado

"Como assim Vi?"- ela perguntara a amiga que apenas fingira um ronco de mentira, Serena riu e se deitou para dormir.

[...]

Novamente no trapiche abandonado dos Capitães da Areia, antes de Professor sair de onde Pedro Bala dormia para ir se deitar também assim como os outros, ele perguntara ao amigo.

Professor revelando um interesse sutil em saber como havia sido a experiência do amigo perguntou: "E como foi o beijo? Alguma emoção especial?"

Pedro Bala, olhando distante, respondeu: "Foi intenso. Há algo nela que me atrai."

Professor, com sua habitual sagacidade, sorriu. "Se tivesse a oportunidade, beijaria ela de novo?"

Pedro Bala refletiu por um instante, antes de responder: "Sim, beijaria."

Enquanto as águas continuavam a sussurrar ao redor do trapiche, Pedro Bala e Professor compartilhavam um olhar carregado de significado, cientes de que o destino dos Capitães da Areia estava ligado ao misterioso caminho que as Damas de Salvador que trilhavam nas ruas.






Entre Mares e Amar - Pedro BalaOnde histórias criam vida. Descubra agora