Capítulo 12 - A Delegacia

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Serena

A luz ofuscante da delegacia me envolveu enquanto adentrava a sala do delegado. O ambiente frio contrastava com a tensão que se acumulava em meu peito. Sentada em frente à escrivaninha, o Delegado Correia, com um olhar sugestivo, começou a questionar minha presença ali, enquanto misturava açúcar em seu café preto.

E então ele começou a falar - "Então, jovem, o que estava fazendo naquela confusão toda? Pertence a alguma gangue?"'

Engoli em seco antes de responder, consciente de que minhas palavras poderiam determinar o rumo das coisas. - "Não, senhor. Eu estava apenas passando pelo local. Não tenho nada a ver com gangues."

O delegado me estudou por um momento, e eu mantive um olhar firme, segurando a fachada que havia criado para proteger a mim mesma e aos que considerava família. - "E conhece aquele garoto com quem você estava correndo dos policiais, ele é Pedro Bala...sabe quem é ele?"

Cautelosamente, respondi com uma mentira que se tornara minha segunda natureza. - "Pedro Bala? Eu não sabia que era ele senhor, eu estava passando pela rua, voltando para casa quando ele me puxou pra ele senhor..."

O delegado concordou com a cabeça caindo nas minhas palavras - "E seus pais? Onde estão?"

Suspirei- "Não tenho pais. Fui deixada ainda bebê na porta da minha 'mãe adotiva', fui criada por uma senhora baiana que vende frutas na feira, Dona Maria . Não tenho pai nem mãe Senhor."

O delegado fez mais algumas perguntas, mas eu mantive a história inventada com habilidade, construindo uma teia de mentiras para ocultar o que não queria que soubessem. Cada palavra proferida era um passo em direção à preservação daqueles que eu considerava minha verdadeira família, os membros das Damas de Salvador e, especialmente, Pedro Bala.

[...]

A noite na delegacia se arrastava lentamente, marcada por murmúrios indecifráveis e pelo som metálico de fechaduras sendo trancadas. O delegado havia decidido que eu passaria a noite ali, sob o olhar vigilante das grades que separavam a liberdade da confinamento.

O delegado me encarou com uma expressão inquisitiva e determinou: "Você vai passar a noite aqui. Pela manhã, vamos até essa feira onde diz que sua 'mãe' trabalha. Se essa história não conferir, você vai para um convento. Entendeu?"

Balancei a cabeça em concordância, sabendo que cada resposta que eu dava era uma peça em um quebra-cabeça perigoso. A perspectiva de ser levada até a feira pela manhã adicionava um novo nível de incerteza à situação.

A sala de espera estava repleta de homens detidos, olhares curiosos e debochados direcionados a mim. Era um ambiente hostil, impregnado de testosterona e arrogância. Eu permanecia ali, resistindo à pressão do ambiente, ignorando os comentários insinuantes e os olhares nojentos.

Encontrei uma cadeira afastada, afundei nela e me encostei na parede. Fechei os olhos, tentando bloquear o desconforto ao meu redor. A noite na delegacia se desdobrava como um pesadelo, e eu me refugiava na escuridão momentânea do silêncio.

Os homens detidos continuavam suas gracinhas desagradáveis, mas eu mantinha minha postura, recusando-me a ceder à provocação. O silêncio, quebrado apenas pelos sons abafados da noite na cidade, proporcionava um breve refúgio.

A noite na delegacia passou lenta e interminável. Entre a dureza da cadeira de madeira e os sons noturnos abafados da cidade, eu mal pisquei, cada segundo arrastando-se em uma contagem regressiva para o amanhecer incerto.

Quando a luz pálida da manhã começou a penetrar as grades da delegacia, uma sensação de ansiedade se apoderou de mim. Os policiais responsáveis pela escolta até a feira se aproximaram, e o delegado lançou-me um olhar perscrutador. Meus olhos cansados e a falta de sono não passaram despercebidos.

Entre Mares e Amar - Pedro BalaOnde histórias criam vida. Descubra agora