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Quatorze • Memórias & Segredos

Memórias & Segredos

27 de Março

Inveja.

Aquilo que formalmente poderia ser definido como um desejo irrefreável de possuir algo pertencente a outrem.

Certamente Louis não se considerava um invejoso. Por toda vida fora cercado de oportunidades e possibilidades incontáveis, por bens materiais conquistados a seu bel prazer. Um garoto adorado por todos ao redor, o filho único cuja atenção era inteiramente depositada sobre este e suas vontades reinavam como a máxima ordem, asseguradas por sua abastada condição.

No entanto, certos pesares em sua vida vagamente recolhiam sentido ao vivenciar novas realidades. Louis acreditava pertencer a uma família comum, cujas ocupações frequentemente eram reconhecidas como mais urgentes que divertidos passeios a cavalo após o almoço ou saudáveis jantares em família.

Embora Tatiana se esforçasse para ser a melhor mãe possível, preocupando-se em conversar com Louis diariamente e o lembrar do amor incondicional que possuía por ele, Hector persistia arduamente em desprezar suas obrigações paternais para com Louis.

Percerbera o quão desprovido de uma boa relação familiar era, ao contemplar o relacionamento entre Harry e a família. Gostaria de pertencer a um lar amoroso, cuja ambição do homem não superasse a importância de seu papel como marido e pai. Porém, Louis não poderia fechar os olhos para todos os sinais que recebera ao longo da adolescência.

Tatiana era uma mulher forte e inteligente, jamais mostrou-se ambiciosa, embora absolutamente todo legado dos Tomlinson lhe pertencesse por herança. Afastada de importantes atividades administrativas, a jovem mulher cuidava de coordenar as tarefas que aconteciam na grande casa da propriedade. Acreditava ser feliz ao poder dedicar tempo para Louis.

Mas o herdeiro Tomlinson desacreditava na felicidade de sua mãe.

Ao longo de sua vida, certas cenas foram presenciadas, de forma que memórias ruins salpicassem as lembranças de sua infância. Se forçasse um pouco seus olhos profundamente azuis, um pequeno filme se passaria.

O amarelo queimado abraçava o laranja sobre suas cabeças, percorrendo os quatro cantos do céu, que relutava em preservar seu azul celeste. Os pés cobertos com a gosmenta lama amarronzada batiam contra o solo amaciado pela verde grama. Facilmente se entregava aos arrepios causadas pela sensação da gosma arenosa escorrendo entre seus dedos desprotegidos, enquanto torcia para que Tatiana não observasse a sujeira que seus passos deixaram na grama do belo jardim cuidado.

A bola debaixo do braço escorregava na pele úmida e brilhante com o suor do garoto. Louis não precisava checar se Bruno seguia atrás de si, sabia exatamente o caminho distinto que o melhor amigo percorria diariamente, ao voltarem para a grande casa, no fim da tarde. Igualmente aos demais funcionários, Bruno vivia na segunda propriedade naquelas terras.

Sorrateiramente rodeou a lateral da casa, em busca da mangueira verde que Pedro, o jardineiro, usava para cuidar do jardim em cada manhã. Abandonando a bola em meio aos canteiros de lírios, que floresciam majestosamente em meio ao orvalho e frescor floral, agachou-se para engatinhar por debaixo da janela do escritório de Hector. O homem a mantinha aberta.

Enquanto lameava a grama debaixo de si, a cada jato de água recebido diretamente da mangueira, o som de vozes ecoando sobre sua cabeça roubou parte da calma daquele fim de tarde.

— Não pode me afastar da parte administrativa da fazenda, Hector. Eu participei do crescimento desse negócio e meu pai criou a mim para assumir Rei do Gado — claramente era a doce voz de Tatiana, embora agora banhada por amargura e receio.