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Sete • Gélido Riacho & Biscoitos Estrela

Gélido Riacho & Biscoitos Estrela

10 de Março

— Esse lugar é muito bonito, meu favorito aqui na fazenda — disse o cacheado.

Sentados à beira do riacho de águas claras, ele e Louis admiravam como Theo parecia entreter-se com a queda d'água ao fundo.

— Vem todos os dias aqui? — Louis o perguntou. Estavam ali apenas vinte minutos.

— Quase todos os dias, a menos que haja muita tarefa a ser feita ou um temporal muito ruim. Minha mãe se preocupa muito por ser filho único. Sempre diz que pode me ocorrer algo, que não devo vir desacompanhado.

— Como faz para vir quando Theo não está aqui?

— Oxe, eu fujo — pôs o olhar claro sobre Louis, esboçando um sorriso sugestivo — e lido com o puxão de orelha quando volto.

— E ela nunca te descobriu? — lhe devolveu o sorriso.

— Claro. Por isso, sempre que pode, pede para o Guilherme vir comigo. Mas eu não gosto de vir acompanhado dele, ele sempre flerta comigo e é muito chato ouvir as baboseiras que ele sempre repete quando estamos a sós.

— O que ele te fala? — franziu o cenho.

— Bobagem — encolheu os ombros — coisas sobre casamento, ser um bom marido para mim e que ele sempre quis ser pai. Não dou corda, mas continua sendo muito chato. Ao menos ele nunca tentou algo à força, bom, só uma vez.

Embora as palavras soassem como murmúrios, Louis havia colocado toda sua atenção naquela pequena e infeliz declaração.

— Você quer me contar?

— Nunca contei a ninguém, não porque é um segredo, mas por não ser exatamente algo que alguém queira contar como se fosse uma piada sem graça — o disse.

Não era um assunto delicado, porém um tanto incômodo.

— A dois anos atrás, quando completei dezesseis, minha família estava aqui a tão somente um ano. Eu adorei o campo, mas não conhecia o lugar completamente. Minha mãe não me permitia vir ao riacho sem companhia, como ainda é atualmente. Ela pediu que Guilherme me trouxesse aqui.

— Ele tentou algo com você? — sua respiração havia alterado-se consideravelmente à medida em que aquela conversa avançava entre eles.

— Ele me imprensou contra aquela árvore — apontou, em um gesto simples e usando sua cabeça — e disse que queria um beijo. Eu fiquei bastante nervoso, só tinha dezesseis anos e ele era maior de idade, tinha vinte e três na época. Além do mais, estávamos a sós.

— Ele te beijou?

— Encostou os lábios na minha bochecha, eu virei a tempo. Ele ficou muito bravo, mas quando se afastou eu corri bastante. Nós nunca falamos sobre o ocorrido, parece que nunca aconteceu e ele realmente deve achar que apaguei da memória.

Não havia modo de receber tal informação de forma positiva. Harry havia sido assediado, aquilo era um crime.

— Sinto muito que tenha vivido essa situação — em um ato delicado, pôs a mão sobre a sua.

— É coisa do passado — suspirou — meus pais não sabem, só você sabe. Eu prefiro que continue assim.

— Posso te perguntar algo? — o observou acenar — por que nunca contou a João sobre?

— Louis, somos só eu e meus pais. Muitas pessoas trabalham na fazenda, mas minha família é pequena e a nossa experiência no ramo é muito curta. Guilherme é um homem ruim, mas é muito inteligente e é a única pessoa que ajuda meu pai a tocar os negócios. Ele não confia em mais ninguém.