𝐖𝐡𝐞𝐧 𝐲𝐨𝐮 𝐤𝐧𝐨𝐰, 𝐲𝐨𝐮 𝐤𝐧𝐨𝐰

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"Uma cafeteria, tenente, é sério?" A voz carregada de incredulidade de Gaz soou meio fragmentada, meio confusa, como se aquilo fosse uma possibilidade particularmente improvável – e realmente era.

A atmosfera pesada do galpão, impregnada com o odor metálico de suor e fumaça parecia refletir o estado desgastado dos quatro soldados. Os homens estavam cansados, exaustos, quebrados após a volta da última missão; o que todos queriam era ir para um bar esquecido por Deus e descontar as agruras da vida enchendo a cara de uísque até esquecerem o próprio nome e caírem bêbados – exceto Ghost que queria ir em uma cafeteria, a porra de uma cafeteria.

Gaz e Soap se entreolharam como se pela primeira vez estivessem prestes arriscar as próprias gargantas e desrespeitar o tenente apenas pela ida à tal cafeteria.

John levantou uma sobrancelha e exalou a fumaça do charuto que já quase findava, provavelmente já sabendo do que se tratava – mas a curiosidade era maior, ele queria mesmo ver aquilo com os próprios olhos.

"Tudo bem, mas espero que o café pelo menos tenha cheiro de álcool", John se levantou da cadeira e descartou a bituca do charuto em algum canto do chão, caminhando até a pesada porta de madeira e a empurrando para abrir.

"Mas-", Soap tentou argumentar, sem sombra de dúvidas ou eufemismos ele era o mais infeliz com a escolha repentina de trocar o bom e velho Bourbon por café açucarado.

"Chega, Johnny. " Ghost finalmente interviu, a voz rouca e imponente reverberando nas paredes do galpão, cortando o ar como um sinal de autoridade que ele geralmente só usava em campo, decidido.

"Porra, tá de sacanagem..." Com um bufo frustrado, Soap coletou a jaqueta e seguiu todos para a porta da frente, seguido por Gaz, que estava simplesmente em um estado de resignação, já aceitando que a noite não terminaria em álcool ou embriaguez, mas sim em xícaras de porcelana e copos de papelão.

Os quatro homens entraram no jipe gasto de Price; os dois sargentos sentados no banco de trás, emburrados como crianças que haviam sido negadas de lanchinhos ou brinquedos, o capitão no volante e Ghost no banco do carona, com o olhar distante – se alguém parasse e reparasse bem, havia um certo um traço incomum de esperança e excitação no olhar normalmente morto e discreto do tenente.

Quando eles chegaram à tão falada loja e Price fazia as manobras para estacionar o carro, a primeira coisa que Ghost fez foi tirar as luvas e a balaclava com a tão temida estampa grosseira de caveira, passando as mãos no cabelo como em um gesto quase (mas perceptivelmente) nervoso.

Gaz conseguiu evitar que o queixo caísse – aquela era talvez a segunda ou terceira vez que eles o viam sem a máscara que lhe cobria o rosto até mesmo durante o sono.

Infelizmente, Soap não conseguiu a proeza de ser tão discreto, incapaz de conter sua surpresa e curiosidade. "Que caralho, tenente? "

Price quase conseguia ouvir as engrenagens rodando em seu cérebro em mais uma vez arqueando a sobrancelha.

"Olha a boca, MacTavish." Ghost reverberou sério de novo, mas agora parecia quase abafado por algo ainda adjacente, falando besteira apenas para encobrir um sentimento maior, estalando os dedos distraidamente.

A campainha de metal presa à porta ressoou aguda quando eles entraram no ambiente aconchegante da cafeteria.

O pequeno grupo de soldados não podia estar mais deslocado do seu habitat natural ao se sentarem em uma mesa relativamente pequena, onde seus corpos exaustos pareciam desproporcionais e grandes demais diante da delicadeza natural do lugar, posicionando-se junto às amplas vidraças que ofereciam uma visão direta da movimentada calçada e rua – contrastando com os diversos casais envolvidos em conversas íntimas e flertes que ocupavam os assentos do longo balcão, enquanto colegas de trabalho e amigos celebravam happy hours com cafés adornados e sobremesas questionáveis que enchiam as mesas e o ar com grande animosidade.

𝐎𝐧𝐞 𝐒𝐡𝐨𝐭𝐬 𝐰𝐢𝐭𝐡 𝐆𝐡𝐨𝐬𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora