𝐌𝐚𝐤𝐢𝐧𝐠 𝐋𝐨𝐯𝐞 𝐎𝐮𝐭 𝐨𝐟 𝐍𝐨𝐭𝐡𝐢𝐧𝐠 𝐚𝐭 𝐀𝐥𝐥 𝟐/𝟑

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Ghost não queria passar uma ideia de perseguição ou algo assim.

Ele realmente não fazia ideia de que você estava justamente naquela base para o qual ele foi direcionado semanas antes, apenas como um mero auxílio na próxima missão.

Ele se sentia exausto da busca incessante por qualquer notícia sua ou tentativas frustradas de contato – você nunca o respondeu.

Já haviam se passado anos mas ele se sentiu tão afetado como se tudo tivesse acontecido há apenas algumas horas atrás – a ferida ainda parecia tão fresca e aberta para urubus a cutucarem sempre que tiverem vontade, como se o tempo não tivesse passado.

Ele só queria saber porque você fugiu dele.

Ele sabe e tem certeza que você fugiu.

Ele pensava muito naquela noite. Pensava muito naquela cabana. Pensava demais no que vocês dois fizeram lá dentro.

Pensava demais (mesmo que contra a própria vontade, a enxurrada de lembranças simplesmente o alcançava feito uma bigorna que atinge o chão após ser jogada do quinto andar) na forma que ele adorou você com tudo o que ele tinha, com tudo o que restava do seu corpo, da sua alma.

Ele se despiu para você, se deixou vulnerável e cru pela primeira vez no que pareciam séculos.

Em seu rosto, as lágrimas dissimuladas de necessidade dele eram escondidas pelo escuro do quarto que os abrigava do castigo do frio lá fora; Ghost choramingou e estremeceu sobre você enquanto se despojava de si mesmo como nunca antes o fez, com ninguém.

Lá embaixo, a essência espessa e quente transbordava e escorria, pingando no porto mais seguro que ele já conheceu.

Você era dele.

Ele se lembrava de cada detalhe, por menor que fosse, ele se lembrava de tudo. Ele mapeou seu corpo inteiro, memorizou cada curva e cada declive como se sua vida dependesse daquilo – cada respiração e gemida eram como o mapa do paraíso para ele.

Ele sentiu o seu gosto por semanas a fio depois daquela noite.

E quando ele viu você, bem ali, na frente dele, tão inalcançável, quatro anos depois, como se nada tivesse mudado entre vocês, como se você nunca tivesse ido embora – ele tinha certeza de que ainda podia sentir o gosto da sua pele na língua.

E ele sentiu tanto a sua falta.

Aconteceu mais de uma vez, é claro – a primeira, na cabana em um dia de chuva, quando vocês dois perderam contato com a base por conta do mau tempo e estavam longe demais para pedir reforços e tiveram que dar um jeito de se aquecerem – desculpas para o que já emergia entre vocês há tempos.

Uma coisa levou a outra.

As outras vezes foram ações motivadas pela urgência e pela fome gritante e recém-descoberta – nenhum dos dois percebeu, antes disso, o quanto estavam carentes e necessitados um pelo outro.

Ele sabia que você também lembrava.

E para a sua angústia, ele estava certo.

Você só estava ali porque aquilo tudo foi demais. Você só estava ali porque acordava todos os dias com a memória revivendo cada toque, cada suspiro, cada pedacinho do que vocês tiveram naqueles dias.

Foi uma tortura.

Você sabia que ele não iria simplesmente abrir mão das próprias funções ou méritos por sua causa, e nem conversou sobre isso com ele – seria apenas uma questão de tempo até todos descobrirem, por mais discretos que vocês pudessem ou tentassem ser.

Seu capitão não podia perder o seu soldado mais forte e precioso que já teve, mas é claro que ele podia deixar você de lado – você, uma subtenente e mulher, que seria sacrificada se tudo vazasse.

Era assim que as coisas funcionavam – foi você quem arriscou a sua carreira construída em meio a tanto sofrimento e sangue, por um erro passageiro, um impulso impensado.

A culpa era só sua.

Ghost, no seu lugar, receberia alguns apertos de mão e seria alvo de piadas sobre ter dormido com você – a poeira baixaria com o tempo, tudo seria esquecido. Nada além de uma advertência aconteceria com ele.

Era você ali. Você não era ele. Você não era um homem. Era você e sua carreira (a sua vida inteira) que estava em risco. Tudo pelo o que você lutou e subjugou em nome, tudo seria descartado em um estalar de dedos

Seria ilusão pensar que em algum momento você teve opções.

Seu capitão deu o ultimato, sem margem para questionamentos: você seria transferida para outra base, e aquele relatório que acabaria com a sua carreira seria arquivado se você obedecesse às ordens sem questionar.

Você foi embora e nem sequer olhou para trás, abdicou de tudo naquele dia.

Você renunciou ao mais próximo que você teve de uma paixão em toda a sua vida.

Mas agora, estar no mesmo ambiente que você e ver você dias após dias – você o ignorava e evitava ficar nos mesmos ambientes que ele, desprezava sua simples presença, cuspia no chão que ele andava – era insuportável para ele e intolerável para você.

"[S/N], por favor..." ele arriscou argumentar em mais uma das suas tentativas patéticas e frustradas de tentar conversar com você, tentando sentar ao seu lado no refeitório vazio no meio da noite – um hábito que você aprendeu com ele quando ainda serviam juntos.

Você fugia dele como o diabo foge da cruz. Você não se permitia nem olhar na direção dele – você queimaria por dentro se o fizesse.

Mas ele não conseguia ficar longe de você, ele não podia resistir à tentação. Nem mesmo se quisesse, seria uma tortura. E agora você estava tão perto.

Tão perto para tocar.

Tão perto para beijar.

Tão perto para amar.

Mas você não o deixava chegar perto demais – você não podia deixar, não queria, você nunca mais arriscaria.

O que parecia ser o amor da sua vida estava diante de você, bem ali, e você não podia fazer outra coisa a não ser ignorá-lo. 

Pelo seu próprio bem.

E pelo bem dele também.

Você não queria ser cruel.

Seria muito pior se você o incitasse a algo quando você sabia que não poderia corresponder mesmo que quisesse – você não o amava.

𝐎𝐧𝐞 𝐒𝐡𝐨𝐭𝐬 𝐰𝐢𝐭𝐡 𝐆𝐡𝐨𝐬𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora