Nada aquilo havia sido planejado.
Você nunca planejaria ou sequer se permitiria despedaçar daquela forma.
O que havia sido planejado: uma visita surpresa ao seu namorado de dois anos e meio, um oficial das forças especiais - vocês já estavam a pouco mais de cinco meses sem se verem por conta de diversas implantações e trabalhos nos quais ele era submetido.
Você vestiu seu vestido mais fofo - aquele florido azul e branco delicado que era justo na cintura e soltinho ao longo das pernas. Você usou seu perfume mais caro - aquele docinho do frasco laranja com minúsculas partículas de glitter que se espalhavam por sua pele a cada borrifada.
Tudo sairia perfeito.
É claro que você não disse nada; seria um surpresa e ele já estava longe por tanto tempo que seu corpo se arrepiava de ponta a ponta ao imaginar estar junto dele novamente.
É claro que você planejou chegar à base do quartel, cumprimentar os subordinados e colegas dele e perguntar onde ele estava. Tudo enquanto segurava uma bolsa de couro marrom adornada com um laço de fita de cetim vermelho, contendo duas taças de vidro e um dos melhores vinhos de sua adega - o Prosecco guardado desde seu último aniversário.
Você caminhou até o escritório dele com passos cuidadosos e muito bem planejados, hesitando apenas o suficiente para evitar qualquer ruído ou passo em falso que pudesse comprometer o carinho e a saudade que você vinha cultivando meticulosamente ao longo dos últimos cinco meses.
Quando você abriu a pesada porta de madeira e viu aquilo, o sorriso brilhante que enfeitava seu rosto bruscamente desmoronou.
Foi como se arrancassem o coração do seu peito, esmagando-o até se transformar em uma massa gelatinosa e nojenta, para então atirá-lo no chão e pisoteá-lo até que não restasse nada além de apenas algumas manchas escuras no linóleo - seu amado namorado, aquele que conhecia desde suas alergias a frutos do mar até seu amor por livros de uma coleção específica, o mesmo que esteve ao seu lado quando perdeu muitas oportunidades importantes e esteve te apoiando em todos os momentos, aquele que ovacionou sua nomeação na secretaria estadual e celebrou quando você entregou sua tese de doutorado com antecedência e recebeu as notas de honra e mérito do programa - esse mesmo estava ali, nos braços de outra mulher.
Os dois estavam entrelaçados no sofá no canto da sala, as mãos dele, que um dia percorreram sua pele e memorizaram cada depressão e sarda, agora exploravam as coxas dela, apertando e acariciando carinhosamente a carne. As mãos dela estavam na nuca dele, puxando-o para mais perto como se estivessem prestes a se fundir em um único ser naquele momento.
Você ficou parada ali, estática, imóvel, com o coração afundado no peito, durante vários minutos enquanto eles pouco se davam conta da sua presença ou que a porta havia sido aberta - algo dentro de você quebrou; você não sabia ao certo o quê, mas aconteceu, e não foi nada bonito.
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𝐎𝐧𝐞 𝐒𝐡𝐨𝐭𝐬 𝐰𝐢𝐭𝐡 𝐆𝐡𝐨𝐬𝐭
RomanceMinha pequena coleção de histórias e one-shots com Simon Riley em português Only fem!reader