𝐃𝐚𝐝𝐝𝐲 𝐈𝐬𝐬𝐮𝐞𝐬

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Os problemas com seu pai apenas aumentavam e se agravaram com o passar dos anos.

Na verdade, você mal conseguia se recordar quando foi a última vez que o homem mal-humorado e falso moralista foi de fato seu amigo ou parceiro em algo quando você precisava dele – as lembranças continuamente se desvaneciam em sua mente.

Desde a sua adolescência, seu pai havia mudado drasticamente, adquirindo um comportamento ainda mais rígido e bruto, revelando uma postura ainda mais severa e áspera. E apesar da sua mãe sofrer com isso também, você parecia se sentir fragilizada e enfraquecendo mais e mais a cada palavra dura que ele lançava em sua direção.

Cada frase e palavra era uma fina adaga mal afiada que atravessava você milhares e milhares de vezes, viajando pelo seu corpo e o rasgando continuamente, nunca deixando a dor cicatrizar, sempre renovando o ferimento e sempre arrancando a casca, mesmo quando você tinha a ilusão que melhoraria.

Cada grito fazia você retornar à imagem da garotinha de seis anos, vulnerável e sempre com tanto medo, que se encolhia junto à sua mãe em busca de refúgio e que ficava apreensiva de chegar perto do seu pai, nunca conseguindo responder à altura sem lágrimas brotarem nos seus olhos instantaneamente, fazendo-a recuar e se proteger em seu casulo de solidão, mais uma vez.

Você tentou de tudo – estudar mais, trabalhar mais, sair de casa, contribuição no pagamento das contas, passar mais tempo se dedicando nas tarefas domésticas, mudar de cidade.

Mas seu pai era o monstro que vivia embaixo da sua cama. Ele não deveria, mas você com certeza o achava o próprio bicho papão que persistia em encontrar maneiras de aterrorizá-la mesmo depois que você se tornou uma adulta.

Nem mesmo morar em outro país pareceu mudar alguma coisa – ligações e mensagens ainda eram o meio dele descarregar toda a frustração em você, de criticar, de degradar e diminuir você, como sempre fazia.

Você estava sozinha em casa há alguns meses, Simon, seu noivo, havia saído para uma missão. A solidão era palpável e constantemente dolorosa, e você ansiava pelo retorno dele para conseguir preencher o vazio deixado pela ausência.

Mas agora, tudo desmoronou novamente – o escudo que você criou envolta de si mesma durante anos desde que saiu de casa para se sentir minimamente protegida das palavras duras do seu pai – não eram nada, não serviam de nada, era tudo tão insignificante como se você nunca sequer tivesse tentado alcançar alguma aparência de paz. Parecia agora tão frágil e ineficaz.

Você estava encolhida no chão, na beira da cama, soluçando incontrolavelmente como a criança fraca e chorona que você nunca deixou de ser.

Mais uma ligação, mais palavras duras e críticas que você nem sabia ao certo do porquê as estava recebendo, mas sabia que e de onde elas sempre continuariam a vir.

Embora seu pai fosse, inegavelmente, um trabalhador dedicado durante toda a vida, oferecendo a você o melhor que podia, você temia cortar laços ou priorizar seu próprio bem-estar mental, receando que isso fosse interpretado como ingratidão, e a ideia de se sentir ainda mais pequena e fraca do que ele já a fazia sentir era insuportável.

Você nem sabia há quanto tempo estava chorando, lágrimas jorravam incontroláveis de seus olhos e seu nariz estava encharcado e corado, o chão abaixo do seu rosto estava molhado e seu cabelo também estava meio úmido.

Você já havia desistido de todas táticas de escape – nem mutilações ou golpes violentos auto infligidos, nem auto piedade ou tentativas de escrita em um diário para tentar amenizar a dor. Nada funcionava, nada afastava os sentimentos de fraqueza, insegurança e insuficiência que seu pai instalava em seu peito como uma praga persistente.

𝐎𝐧𝐞 𝐒𝐡𝐨𝐭𝐬 𝐰𝐢𝐭𝐡 𝐆𝐡𝐨𝐬𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora