capítulo 14

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Rodrigo Carter


___ como você está? _ minha mãe perguntou receosa.

Olhei para minhas pernas ainda engessadas.

___ sinceramente? Eu não sei, eu não lembro de nada, não tenho a pessoa que eu amo do meu lado, tenho três filhos que eu reneguei e não menos importante, eu corro sérios risco de ficar tetraplégico _ suspirei fundo desviando o olhar da minha mãe, odiava ver ela me olhando com pena.

___ bom, em relação a Gabi eu posso pedir para vir te ver _ ela disse balançando o celular.

___ duvido muito que ela venha _ murmurei fechando os olhos.

Desde o dia que eu pedi para ver as crianças ela não tem vindo me visitar, no máximo ela faz uma chamada de vídeo para minha mãe, e só pergunta como eu estou e desliga a chamada, a gente não fica 10 minutos se falando.

Eu confesso que quando a gente começou o relacionamento, eu não gostava dela e sim das coisas que ela me proporcionou com o dinheiro. Mas com o tempo, eu fui me apegando a ela, conheci mais a pessoa dela, e vi que ela era amorosa, cuidadora, amiga.

Eu morava na favela, mas não gostava de levar ela, mas teve um dia que ela me perturbou tanto que eu a levei. Fiquei com tanta vergonha, minha casa era de tijolo só tinha um quarto, uma cozinha/sala, e um banheiro muito pequeno.

Ela ficou tão à vontade na minha casa, ela não reparou nada e nem fez cara de nojo como algumas pessoas faziam. Como a própria mãe dela fez quando foi na minha casa. Ela não se importou onde estava e com quem estava, eu lembro o momento  exato em que eu me apaixonei por ela.

Ela estava descabelada, toda suada, descalça e suja de terra. Ela estava jogando bola com as crianças da comunidade, e no final ainda fez questão de pagar lanche para todas aquelas crianças.

Desde desse dia eu me apaixonei por ela, eu não sei o que aconteceu para a gente se afastar no casamento, mas com certeza alguma merda eu fiz.

Ainda tem a pessoa que eu sou casado que nunca apareceu para me ver, tô quase um mês internado e ela nunca veio me ver.

Escutei alguém bater na porta, mandei entrar ainda se olhos fechados, deve ser algum enfermeiro.

___ Rodrigo _ virei meu rosto tão rápido que deu uma dor na nuca.

Era a Gabriela com uma menina muito parecida com ela, a garota era a cara da Gabriela, ela é linda, ela vestia uma blusa preta de caveira, e uma calça legging preta também e um tênis na Nike, seu cabelo ia até a cintura preto e todo trançando.

Meu coração estava acelerado, ela me olhava seus olhinhos estava cheio de lágrimas, ela apertava a mão da Gabriela.

___ vejo que alguns machucados do rosto da está quase curados _ a Gabriela se aproximou um pouco.

Mas parou quando ela segurou sua mão mais forte.

___ oi Akira _ disse olhando para ela.

___ oi _ sua voz saiu tão baixa ___ eu… eu posso te abraçar? _ sua respiração estava um pouco acelerada.

___ claro, vem cá _ abri meus braços.

Ela soltou a mão da Gabriela e se jogou no meus braços, seu corpo tremia todo, abracei ela mais forte.

Sabe aquela sensação de conforto e de nostalgia? Era exatamente o que eu estava sentindo agora, parecia que todas as dúvidas tinham desaparecido.

___ como você está? _ ela perguntou secando o rosto.

___ bem melhor agora _ ela riu e se afastou.

O seu sorriso era igual ao meu

___ eu queria ter vindo antes, mas não sabia se queria me ver _ ela olhou para os lados.

Olhei para ela assustado, como assim eu não iria querer ver ela? Eu era tão repugnante que nem meus filhos eu queria ver?

Olhei para a Gabriela, ela deu ombros e voltou a mexer no celular.

___ nunca mais pense isso tá bom? Quando quiser me ver peça para sua mãe te trazer aqui aqui _ disse segurando sua mão.

Ela me olhou e olhou para a Gabriela, me olhou novamente e soltou um ar debochado.

___ tá bom! _ ela se afastou um pouco ___ mãe estou com fome.

Gabriela pegou a carteira e pegou um cartão.

___ nada de frituras, e nada de refrigerante, você já extrapolou seu limite esse final de semana. Se você comer eu vou saber _ Gabriela falava sério enquanto olhava para Akira.

Era tão estranho ver ela falando assim, ela sempre foi brincalhona, era viciada com Coca-Cola, ainda mais se tinha uma coxinha junto.

___ o que foi que está me olhando assim? _ ela disse me olhando.

___ é tão estranho você impedir alguém de tomar refrigerante e comer salgadinho _ disse rindo.

Ela riu e sentou na beira da cama.

___ tive que amadurecer, não é legal você passar a madrugada toda acordada e sendo vomitada de meia em meia hora, tendo que trabalhar no dia seguinte _ me senti mal por ela.

Ainda não acredito que eu tive coragem de fazer tudo o que eu fiz com ela.

___ mas como você está? _ me olhou.

___ nervoso, descobri que posso ficar tetraplégico _ ela me olhou com pena.

___ pensa pelo o lado positivo, você está vivo _ passou a mão na minha ___ você conseguiu lembrar de alguma coisa?

Neguei com a cabeça, ela suspirou.

___ essa semana eu devo tirar o gesso e ir para casa _ disse um pouco alegre.

___ legal, internado é um porre _ confirmei com a cabeça.

___ porque ficou esse tempo sem vir? _ olhei para ela.

___ muita coisa em pouco tempo, daqui umas semanas eu volto a trabalhar, o aniversário dos gêmeos está chegando, tô querendo dividir o quarto deles. Eles vão fazer 6 anos e já podem começar a dormir sozinhos _ ela comentou olhando a Akira entrar.

___ mãe, vamos? Já está quase na hora de buscar os gêmeos _ ela falou olhando o relógio.

Gabriela olhou no relógio e confirmou, levantou da cama pegou a bolsa e me olhou.

___ antes de você ter alta eu volto aqui tá? _ confirmei com a cabeça, ela saiu com a nossa filha

Meu Ex Marido.Onde histórias criam vida. Descubra agora