Sentei no chão da cozinha e chorei a porra da noite toda.
Eu amei um cara uma vez. Pelo menos acreditei que sim.
Ele era o cara perfeito, nós íamos nos casar, comprariamos uma casa na Flórida e aí o narrador diria:
"E viveram felizes para sempre."
Mas não existe essa de felizes para sempre aos dezesseis anos.
Jurei que seria ele meu primeiro e meu último mas tive de por um fim no que tínhamos. Chega uma hora que o amor não é mais o suficiente para sustentar uma relação e eu não estava dando conta de tudo. Foi um término tranquilo, sem brigas ou traições, por isso doeu. Precisei desaprender a amar.
A Jackie veio correndo pro meu apartamento assim que eu liguei. Ela sempre esteve comigo diante de todas as piores situações que já passei, e eu não agiria diferente quando seus pais e sua irmã morreram em um acidente trágico na estrada. Eu nem imagino como deve ser a dor, a maior que eu já senti foi por um cara, meu primeiro namorado e desde então nunca mais quis experimentar outra vez.
Dois anos depois, quando ela recebeu a notícia, passei uma semana acolhendo-a no apartamento da minha mãe. Fiz questão de estar presente ao máximo na vida dela até, do nada, seu tio Richard levá-la para morar com uma "nova família" em uma cidade no interior do Colorado e escola completamente diferente. Então perdemos o contato, não por completo, mas parcialmente. Honestamente, sinto muitas saudades.
Eram oito da noite quando um número desconhecido me ligou.
- Alô? Boa noite.
- Boa noite. Gostaria de falar com Gwen... Gwen Berkshire, por favor.
- Ah!? Eu mesma, eu sou a Gwen.
Eu não costumava receber muitas ligações.
- Que ótimo! É um prazer querida, aqui quem fala é Katherine Walter.
Fiz um som para que ela prosseguisse, confusa. Me sentei no sofá da sala e comecei a rabiscar em um caderno que estava lá em cima. Katherine Walter, por algum motivo esse nome me soa familiar.
- Você é amiga da Jackie Howard, não é?
Levantei do sofá assim que ouvi o nome dela. Ajeitei os óculos e prestei total atenção em cada palavra da tal mulher.
Katherine é a matriarca da família Walter, aquela em que a Jackie está convivendo junto. Ela me disse que viu a Jackie em ligação comigo e a ouviu mencionando meu nome algumas vezes durante conversas paralelas com seus filhos.
Senti uma pontada no peito quando ela disse que por mais que a Howard estivesse indo bem na escola e conseguido se entrosar com o pessoal da cidadezinha, ela vinha ficando um tanto sozinha em uma casa cheia de garotos adolescentes e hormonais. Katherine me convidou para passar o verão junto com eles, e fazer uma surpresa para a mais nova integrante da família durante a primeira festa de veraneio.
- Tem certeza? Eu iria adorar é claro, mas com sete filhos e ainda a Jackie? Não quero ser um problema para você e o seu marido.
Pude jurar que Katherine estava sorrindo do outro lado da linha.
- Não se preocupe querida. Adoraríamos receber você aqui, principalmente pela Jackie... seria bom, sabe? Ela poder estar junto com alguém que esteve com ela a vida toda.
Acho que fiquei conversando com ela até tarde da noite, quando finalmente decidi concordar, animada com a ideia. Como acabei de fazer dezoito anos, só precisei me ajeitar com minha mãe e organizar horários.
- Tudo bem então! Pela Jackie, não é?
Durante a semana seguinte, comprei um presente para o aniversário de dezoito da Jackie que será durante o verão e experimentei alguns biquínis diferentes, observando meu corpo magro e bem pálido na frente espelho. Tirei os óculos, coloquei as lentes e desembaraçei o cabelo comprido e loiro bem claro.
Suspirei fundo.
Eu não sou a pessoa mais extrovertida, isso é fato. Mas sempre fui boa de conversa, seria moleza fazer amizades, não seria? Depois do termino foquei completamente nos estudos e ainda não me dei um tempo pra extravasar e aproveitar a mim mesma, foram dois anos assim. De algum jeito, acredito que umas férias da movimentada e cinzenta Nova Iorque me proporcionará um bom momento para isso.
Pensei em mandar mensagens para Jackie, mas aí estragaria a surpresa, então escondi o celular de mim mesma. Eu não faço a mínima ideia de como devo agir ou o que levar para uma viajem no interior, confesso que eu perdi um pouco o costume de sair de casa. Katherine me disse que ficarei no quarto da Jackie e devia me sentir sempre em casa, a mulher me passou todas as informações para o dia que eu ia chegar e como chegar. Ela é um doce, mesmo com apenas uma conversa me senti acolhida.
Na noite anterior a viagem, antes de dormir, um calafrio atravessou meu corpo. Uma mistura de ansiedade e empolgação. Me agarrei no pensamento de que daria tudo certo, vou reencontrar minha amiga, aproveitar os raios de sol e talvez, se minha incapacidade atlética permitir, aprender a andar a cavalo.
Vai dar tudo certo. Vai ser muito bom.
Minha mãe vive me dizendo que preciso aprender a ser mais otimista.
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𝘴𝘪𝘭𝘦𝘯𝘤𝘦 ⸺ alex walter
Fanfiction- talvez, alex. esse tal ápice que você procura esteja fora dos livros também. por que não tenta escrever sua própria história? gwen berkshire conhece jackie howard desde sempre. as duas cresceram juntas nas ruas movimentadas da cidade de nova york...
