vinte e quatro - gwen

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Edna com toda certeza é uma das mulheres mais interessantes que já conheceu. Ficaram um bom tempo conversando enquanto assistiam a reprise de Rosa Selvagem uma novela mexicana da década de noventa e que Edna diz ser a melhor que já assistiu.

Estava nervosa no início, queria impressionar a senhora, afinal era avó de Alex, queria que gostasse dela.

Ainda mais depois de deixar o neto da mulher na cozinha na situação que se encontrava. Ah, como ela queria ajudá-lo a resolver seu problema ali mesmo, faria de bom grado.

Ao chegar na sala, disse que Alex tinha ido atender uma ligação no quarto, o que não fazia muito sentido, quem faria um telefonema tão cedo no verão? Mas já era tarde demais para pensar em outra história, Edna não pareceu prestar muito atenção nos detalhes, apenas sorriu muito animada e colocou café com bastante açúcar na sua xícara azul marinho.

- Que linda você. Amiga da Jackie, não é? Ah sim, Katherine me contou, está tão feliz de te receber aqui, ela quem disse!

Gwen ouvia sem conseguir tirar o sorriso do rosto. Encantada com a pessoa gentil e fofa em sua frente.

Vaidosa com toda a certeza, mas os olhos carregavam uma tristeza lá no fundo, uma que Gwen não ousaria perguntar sobre. Um sorriso combinava com ela mas do que lábios apertados.

Ela e Gwen tinham gostos parecidos, Rock antigo, interesse em tarot assim como em astologia e misticismo, líderes num geral e bolo de cenoura com calda de chocolate. Mas tinha que ser chocolate mesmo, brigadeiro feito com leite condensado, achocolatado e manteiga. Nada daquelas camadas finas de açúcar com chocolate hidrogenado, ambas detestavam isso.

- O Alex quem gosta, sabia? Chocolate das moedinhas de ouro que ele chamava quando pequeno.

Bem, ninguém é perfeito.

Quando Alex voltou, Gwen queria poder dizer que as duas já tinham se tornado amigas intimas. Falaram sobre Nova York, a cidade que Edna amava visitar e costumava ir com frequência junto do marido, também sobre Jane Austen e Franz Kafka - a última leitura de Edna, finalizada semana passada. Os três debateram sobre A Metamorfose, em três pontos de vistas diferentes depois da senhora ter indicado a Gwen misturas naturais ótimas para matizar a tonalidade dos fios do cabelo.

- Dica de uma amiga bruxa. - Edna comentou. - É segredo.

Não passou muito tempo, mas pareceram horas. Conversar com quem sabe é uma história totalmente diferente, a gente se entrega a papos banais que se tornam extraordinários, um pouco do outro fica na memória e momentos assim são o que aquecem a alma. Simplicidade e carinho, conversa de vó e um cafezinho quente na chuva realmente toca o coração. Gwen sentiu saudade da própria avó, pegou o celular e mandou mensagem na mesma hora:

[ Aproveitando muito o verão. Saudades. ]

Ninguém na família dela era tão amigável por assim dizer, conversas mais superficiais só sobre o necessário. Mandava mensagem para avó duas vezes no mês, no máximo. Uma mulher mais nova que Edna, porém mais séria, médica aposentada que ganha fortunas mas não o suficiente para emprestar para a filha. As vezes nem recebia uma resposta, mas bem, não custava fazer sua parte.

Ao lado de Alex, parte do seu corpo aquecia e formigava quando eles se tocavam sem querer, ansiosa pela próxima vez que os dois poderiam ter um ao outro. A chuva do lado de fora ficava mais bruta batendo contra a janela de vidro da sala. Estavam tão imersos nas conversas paralelas e nas cenas que revelavam os próximos capítulos de Rosa Selvagem que Gwen nem percebeu que chovia em maior intensidade, assim como não percebeu que o sono tomava conta dela quase lor completo.

𝘴𝘪𝘭𝘦𝘯𝘤𝘦 ⸺ alex walter Onde histórias criam vida. Descubra agora