I don't want to pretend

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Yeonjun havia encontrado em Soobin uma âncora, a segurança para desvendar a si mesmo e sanar aquilo que lhe faltava. No entanto, conforme a relação deles evoluía, junto ao incentivo que a franqueza de Yeonjun lhe dava, Soobin teve uma epifania: Nele, já há alguns anos, algo se perdera.

Ainda muito jovem, quando desconfiava da própria sexualidade, optou pela discrição, mas decidiu não se esconder de si mesmo, nem se sujeitar ao preconceito dos outros. De fato, acreditava comportar-se de acordo com as próprias regras, contou aos pais, conheceu rapazes e nunca reprimiu sua paixão por divas pop — ao menos era o que enxergava.

A reação dos pais foi decepcionante. Não esbravejaram, tampouco o apoiaram. Ouviram-no com semblantes neutros, pouco surpresos, e não tocaram mais no assunto. Melhor do que a rejeição completa, contudo, nada reconfortante, nada que o encorajasse a se aceitar inteiramente.

A falta de amparo em casa certamente influenciou no que se deixava mostrar ao mundo. Soobin não só aceitava ser o segredo nefasto dos meninos com os quais saía como também ratificava essa conduta. Visitava lojas de discos e instrumentos musicais cabisbaixo, zanzava nas seções de punk-rock e grunge, então seguia disfarçadamente para a ala pop, onde surrupiava o novo CD da Mariah Carey. No caixa, sentia a necessidade de justificar sua compra, e mentia alegando tratar-se de um presente.

No fim das contas, Choi Soobin se escondia em plena vista. Fingia ser apenas um mecanismo de autoproteção, entretanto, possuía um medo internalizado que custou a reconhecer, auxiliado pela coragem e transparência de Yeonjun.

Ensinara ao rapaz sobre o único amor capaz de oferecer — entre dois iguais, tão certo e válido quanto qualquer outro, embora às vezes precisasse se lembrar disso. Agora, Yeonjun o ensinava um pouco sobre liberdade. E, juntos, aprenderiam sobre aceitação.

Com o retorno de Yeonjun às aulas, àquela semana prometia pôr seus nervos à prova. Aguardava-o na entrada, consciente dos inúmeros olhares e sorrisos direcionados a ele. Ninguém sabia. Ainda. E a paranoia já carcomia sua mente.

— Soobs?

A presença repentina pegou-o de surpresa. Girou o rosto depressa, quase dolorosamente, topando com Yeonjun, cuja face alegre logo cedeu lugar à preocupação.

— O que foi? Parece bolado.

— Nada. — Tentou sorrir. — Tudo bem.

Avançaram dois passos quando a mão do namorado tocou a sua, trançando os dedos elegantes nos seus, longos e nodosos. Era uma combinação perfeita, tinha beleza e aconchego, ainda assim, Soobin travou ao fita-la. Gotas de suor se acumulavam em sua testa.

Percebendo o conflito, Yeonjun se colocou à sua frente. Encaixou ambas as mãos na lateral de seus olhos, afunilando seu campo de visão. De repente, parecia que apenas os dois existiam no imenso pátio de entrada.

— Sei que está nervoso. Também estou. — Enfim, Soobin notou o quanto o rapaz tremia. — Mesmo assim, quero fazer isso. E você?

Cerrou as pálpebras com força por breves segundos, imerso na voz doce e compreensiva.

Apesar de ter muito o que sacrificar, Yeonjun se mostrara convicto desde o princípio, nem as atitudes de Yewon após a descoberta refrearam sua disposição. Culpa e vergonha pinicaram sob a pele de Soobin, que duvidou do namorado e, naquele momento, agia como um hipócrita.

Tornou a olha-lo. O rosto o atraía feito magnetismo, a expressão felina surpreendentemente versátil, ora suave, ora intensa, e aquela boca cheia que sempre o instigara, mesmo quando lhe parecia inalcançável. Fatalmente, foi a aparência do esportista que capturou Soobin de início. Nos namoricos anteriores, isso lhe bastou. Afinal, não precisava de muito além duma carinha bonita para explorar a sexualidade.

Yewon's Brother • YeonBinOnde histórias criam vida. Descubra agora