I still want to be best friends

208 19 54
                                    

Após três filhos, Hyojung esquecera o som do silêncio. Em dias ruins, com os nervos pinçados devido aos alunos pedantes, bom-humor arruinado pelos colegas de profissão e pernas doloridas graças à viagem em pé no metrô lotado, sua maior cobiça era tranquilidade e um banho quente. Os deveres maternos, todavia, consumiam-na em tempo integral, e dentre as funções mais extenuantes estava mediar a animosidade dos gêmeos.

Ambos possuíam ótima disposição para a discordância, e, não raro, gritos pirracentos eram seu comitê de boas-vindas ao chegar do trabalho. Impressionava a facilidade com a qual Yeonjun revelava a faceta infantil da irmã, quem, por sua vez, fazia brotar dele uma seriedade estranha, incompatível com o rapaz desleixado.

Com pouco a ser feito, Hyojung suspirava, exausta. Restava-lhe aguardar pacientemente o estágio no qual se tornariam adultos, dando-lhe a tão sonhada tranquilidade. Ou assim pensara ela no decorrer dos anos, até descobrir no silêncio fonte ainda maior de preocupação.

Há mais de uma semana, a residência Choi fora monopolizada por uma calmaria estagnada, e nem sua caçula, atenta ao clima pesado, parecia inclinada a rompê-la. Agora, YooA espiralava um peão na palma da mão aberta enquanto Hyonjung penteava seus cabelos, sem nenhuma de suas habituais exclamações alegres.

Era um cenário incômodo. Decerto mais inquietante que a pândega causada por três crianças. Qualquer ruído acima de um sussurro estrondava pelos corredores, unindo-se somente ao relógio de pêndulo na sala, o qual badalava duas vezes ao dia com a impavidez costumeira, o único foco de normalidade naquela guerra fria.

Hyojung tornou a observar a filha mais velha e franziu o cenho. Diferente da criatura ajuizada a qual conhecia, representante de turma e Diretora Social do Grêmio estudantil, raramente desequilibrada e nunca relapsa, Arin largava-se no carpete rosê, encurvada numa postura que ela mesma reprovaria. O cabelo tinha nós, e dos dedos projetavam-se unhas não-aparadas, uma falta grave contra o regulamento do time de cheerleading.

Segurava uma revista sobre a grade televisiva mensal de ponta cabeça, nas páginas abertas havia o anúncio duma nova reprise de Punky, A Levada da Breca com a personagem vestida de astronauta, realmente parecendo flutuar sob gravidade zero. Os olhos de Arin, no entanto, vidravam no corredor além da porta aberta, onde a típica bagunça do quarto vizinho estava em exibição e Yeonjun rabiscava num caderno à escrivaninha.

Era uma situação alarmante e inédita. Apesar das brigas inacabáveis, os gêmeos nunca agiram dessa forma, há dias sem trocar uma única palavra, lançando olhadelas na direção um do outro às escondidas e obviamente desestabilizados.

Dessa vez, a razão para a desavença parecia mais complexa que o turno de lavar a louça, alguns Snickers surrupiados da geladeira, CD's e fitas embaralhados ou bonecas pintadas de canetinha. Exceto sobre o envolvimento de Soobin, quem agora mal frequentava sua casa, Hyojung pouco sabia além do que deduziu por si mesma.

Foi-se a época em que ambos lhe confidenciavam seus problemas, que buscavam seus conselhos. Mesmo preocupada, ela decidiu dar-lhes espaço — já crescidinhos, torcia para se resolverem sozinhos, e tentava mostrar-se disponível caso necessário, embora o humor da dupla não contribuísse.

— Ele não comeu nada? — murmurou a garota, pela enésima vez.

Hyojung prendeu um esgar monótono.

— Acho que não. Não que eu tenha visto.

— Você deveria perguntar, mãe. Isso já faz dias!

— Por que você não pergunta?

Bufando selvagemente, ela afundou o rosto na revista. YooA riu baixinho, enfim preenchendo o ambiente com alguma cor até a mudez esquálida pairar de novo.

Yewon's Brother • YeonBinOnde histórias criam vida. Descubra agora