Cap. 2. Uma dúvida.

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Por mais estranha que fosse aquela história achei melhor ir embora. O rapaz só me deixou ir prometendo voltar no outro dia após o almoço. Menti confirmando que apareceria e sai quase correndo daquela casa.

Fui direto para meu quartinho na pensão, já havia ganho um bom dinheiro e não tinha cabeça para continuar buscando por outros bêbados noite a fora. Pensei muito deitado... será que aquele homem era realmente algo meu? Óbvio que eu vinha de alguma família e mais óbvio ainda que meus parentes deveriam parecer um pouco se quer comigo, agora, encontrar um irmão? Ou um primo tão parecido? Será que finalmente poderia ter o que a vida negou? Uma família.

Acordei na manhã seguinte ainda sem ter certeza do que fazer. Se fosse ao seu encontro poderia conhecer alguém do meu sangue e me sentir completo pela primeira vez na vida. Se fosse também poderia ver que estávamos enganados e que nem éramos tão parecidos assim na luz do dia. Se fosse, quem sabe, poderia conhecer um bandido ou um assassino e me dar mal. Pronto, não iria. Melhor conviver com a dúvida do que não ter essa oportunidade.

[...]

Naquela noite já havia empurrado essa história de família para longe dos meus pensamentos. Estava ajudando uma senhora a subir na carruagem. Segundo ela contara seu filho queria ficar mais um pouco no baile na mansão dos Grimes e essa santa mãe deixou a carruagem da família a disposição do rapaz. Sem sombra de dúvidas esse filho iria usar a carruagem para outros fins bem pecaminosos, mas isso não era um problema meu. Meu dever era levar aquela senhora em segurança para sua casa.

Ouvi alguém me chamar enquanto fechava a porta da carruagem de aluguel, tive certeza que minha passageira estava bem acomodada e virei para reencontrar com o homem da noite passada.

- Por que deixou me esperando hoje, Sr. Adam?

- Boa noite, senhor. Gostaria que o levasse a algum lugar? - Desconversei.

- Lhe fiz uma pergunta! Por que deixou me esperando?

- Creio que o álcool falava pelo senhor ontem a noite. Agora, se me der licença, estou levando a senhora Gales para sua humilde residência.

- Bom, nesse caso pegue me na frente do Dunn às dez horas em ponto. Tenho negócios lá e depois quero ter uma reunião com o senhor.

A viagem até a casa da senhora Gales não foi longa. Ajudei-a a descer da forma mais gentil que consegui. Ela me pagou e não se moveu após dar as três moedas que lhe cobrei.

- Algo te preocupa muito, não é, meu jovem?

- É tão visível assim? - respondi a senhora.

- Claro que sim. Gostaria de falar sobre isso com uma velha viúva? As vezes gostaria que meu querido Louis me contasse suas aflições.

- Não se preocupe, senhora. Tenho uma reunião um tanto duvidosa mais tarde.

- Vejo que você não quer compartilhar seu sofrimento, mas não faz mal, só lembre-se que tem escolhas na vida. Sempre poderá dizer não se o resultado não lhe agradar, querido.

- Mesmo quando o assunto for família?

- Principalmente se o assunto for sobre a família. A família é a principal causa da loucura, acredite em uma velha maluca.

- Vejo muita sabedoria na senhora.

Fiz uma reverência e afastei me dela voltando para a carruagem. Fiquei guiando sem passageiros até às dez horas e fui um pouco atrasado encontrar o rapaz da noite anterior. Me dei conta quando cheguei que nem seu nome eu sabia. Como poderia querer ser ou não da família de alguém que nem o nome me foi informado?

Parei no lugar combinado e ele entrou na carruagem sem dizer nada. Imaginei que deveria levá-lo para o mesmo endereço de ontem e então parti. Quando chegamos abri a porta para ele sair, o mesmo saiu e chamou me para entrar na residência. Dessa vez a governanta não se apresentou a porta, poderia estar dormindo, imaginei. O rapaz levou me até uma salinha íntima que ficava ao lado da porta de entrada. Reparei nessa segunda visita que a casa não era muito grande, obviamente era a casa de passeio da família. Ele me ofereceu uma bebida, recusei, ainda teria a noite toda de serviço para pensar, mesmo que também não era um adepto do álcool, a bebida desorientava a todos e não era um sentimento que um pobre guia poderia ter o luxo de sentir.

- Deveria ter vindo mais cedo. Passei o dia todo esperando vossa visita. O senhor sabe como é corrido o dia de um cavalheiro? - Começou mostrando irritação na voz.

- Posso imaginar, senhor - respondi no mesmo tom.

- Por que não veio então?

- Estava em dúvida quanto as vossas intenções nessa conversar, afinal, nem apresentou-se a mim.

- Pois bem, Sou Ethan Ulrick Evans, filho do duque de Wycliff.

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