- Está louco? Não pode se casar comigo. Veja o que fiz, como estou, olhe a vergonha que está passando junto a mim.
- Apesar da comoção... isso não muda o que vir fazer aqui, lady Magnus. Voltei para casar com a senhorita e estou pedindo a vossa mão apesar do esforço que está fazendo.
- Não pode...
- E por que não poderia?
Lady Vivienne saiu correndo empurrando uns dois convidados que encontrou em seu caminho. Ninguém a deteve por motivos óbvios. Por uns minutos tive a impressão de a ceninha não fora a maior surpresa da noite e sim minha resposta. O duque Magnus que recordara como deveria mover as pernas para andar conseguiu aproximar-se e respirou pesadamente chamando minha atenção.
- Por favor, não desista e vá atrás dela.
- Ontem à noite vossa graça não a seguiu, por que hoje o farei?
- O senhor a surpreendeu. Ninguém consegue essa proeza por aqui.
Resolvi ir atrás de dama e sai andando meio perdido pelo jardim da fazenda. Estava bem escuro, mas a lua estava clara o suficiente para não precisar de velas para me locomover. Minha desvantagem era grande mesmo assim caminhei ao redor buscando pistas de onde uma menina mimada e especialista de plantas poderia estar em meio a árvores e arbustos. Notei que uma das árvores apresentava um pouco de lama molhada no seu troco, imaginei que ela deveria ter subido. Encostei na base da árvore e rezei para que estivesse lá em cima ou minha fala seria bem estupida.
- A senhorita poderia parar de fugir tanto assim, será cansativo procurá-la sempre.
- E quem lhe disse que irei fugir do senhor? – Ouvi lá de cima e sorri para mim mesmo ao responder.
- Pois voltei a menos de vinte e quatro horas e é a segunda vez que a senhorita sai correndo como uma criança mimada.
- Não sou mimada!
- Pois parece ser. Ontem achei que fosse corajosa por enfrentar me na frente de nossos pais, mas mudei de opinião.
- Não me importo com vossa opinião.
- Que seja. Será um casamento muito feliz com ambos não se importando com a opinião do outro.
O silêncio durou mais do que nas outras frases. Por um minuto acreditei que a dama já tivesse fugido novamente sem ter notado. Olhei para o alto procurando por sinais e vi dois pés descalços balançando. Na certa deveria estar pensando sobre o assunto. Apesar das roupas um certo tanto justas e desconfortáveis que usava, aproveitei a distração e subi na árvore também sentando no galho mais forte que consegui encontrar ao seu lado. Ela ainda continuou em silêncio.
- Não lembro de nenhum juramento que lhe fiz. Deveria estar bêbado na ocasião...
- Estava. Entretanto achei que tivesse palavra. Sumiu depois disso.
- E é por ter palavra que estou aqui casando me contigo.- Forçadamente! – gritou para mim.
- Concordo. Mas estou aqui...o que vamos fazer?
- Não quero me casar. – Choramingou ela.
- Temos escolha?
- Não...
- Então vamos descer dessa árvore e pensar em algo que podemos fazer.
No que falava mudei meu pé de galho para descer. Meu pé escorregou em um pouco de lama que deveria ter caído do vestido encharcado da lady. Cai da árvore sentindo uma forte dor nas costelas.
[...]
A dor levou me até a escuridão. Quando abria os olhos via coisas diferentes: na primeira vez vi lady Vivienne sobre mim, mesmo suja e com flores pelos cabelos achei a visão muito bonita, ela falava comigo só que as palavras não atingiram meus ouvidos; na segunda vi o duque de Wycliff e outros convidados levando me para a casa da fazenda, vi sangue no duque e pensei em como ele tinha se machucado; na terceira porém vi os dois duques gritando um com o outro, tentei manter me de olhos abertos, mas foi impossível.
[...]
Alguém colocou algo gelado sobre minha cabeça. Queria tirar, mas mesmo braços não respondiam. Forcei meu corpo para levantar e uma dor insuportável apertou minhas costelas.
- Acalme-se senhor, vai acabar estourando os pontos.
A voz era de Oliver, o empregado que colocaram a minha disposição. Respirei com dificuldade e tentei abrir meus olhos. A luz do dia deixava essa parte mais complicada, abri e fechei várias vezes até conseguir focar Oliver. Ele estava com cara de quem passou a noite acordado, olhos cansados e com sangue nas vestes. Quando tentava entender o que havia acontecido ele tirou a compressa fria, molhou em uma bacia ao lado da cama e colocou novamente em minha cabeça.
- Tire isso de mim, é horrível.- O senhor está com febre, melhor manter a compressa.
- O que aconteceu? – Tentei sentar, porém Oliver me impediu.
- Lady Magnus derrubou o senhor da árvore.
- Como? – Perguntei confuso.
- O senhor não deve lembrar-se porque perdeu muito sangue. Ontem à noite a lady estragou vosso noivado. O senhor a seguiu. A lady o desafiou a subir em uma árvore e quando achou que ela fosse ouvir suas palavras a dama o derrubou sobre um arbusto. Uma estaca de madeira atravessou vosso corpo. Segundo o médico que lhe deu os pontos o senhor quase morreu, sr. Ethan.
Eu quase morri? Havia subido em várias árvores na infância. A madre dizia que poderia ser um desportista se quisesse pelas habilidades corporais. Claro que nunca subi a noite atrás de uma dama mimada, mesmo assim o “quase morreu” fez avaliar melhor minha situação: valia a pena todo esse sacrifício por umas moedas e a verdade sobre minha origem? Cheguei à conclusão que não valia e que deveria voltar para Londres o mais rápido possível. Isso... iria escrever para o sr. Ethan e abandonar a missão. Não considerava me covarde por isso, na verdade considerava me tolo em dar continuidade nessa história de me passar por outra pessoa.
- ...essa dama é um perigo para o senhor – notei que Oliver ainda estava falando e quis entender. A escuridão tentava levar me novamente e precisava manter me alerta. – Acredito que o duque fez o correto em expulsá-la daqui!
- Que? – Repeti sem entender mais nada.
- O duque de Wycliff pois fim ao vosso noivado depois do acontecido, disse que nada era mais precioso do que vossa vida e que não fazia mais gosto pelo casamento.
- Sério? – Sorri mesmo com dor.
- Sim senhor. Foi uma gritaria só. O duque de Caelan tentou conversar, mas como a própria lady entrou aqui ameaçando tentar matá-lo novamente, o duque não teve dúvidas: colocou a para fora e jurou que ele mesmo a mataria se a visse novamente perto da fazenda.
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A solução do duque
RomantiekO que fazer quando um estranho lhe oferece a oportunidade de saber quem você é? Um guia de carruagem na Londres do século XIX tem seu mundo invadido pelo filho do poderoso duque Wycliff. A semelhança entre ambos será o suficiente para trocarem de lu...