Cap. 9. Uma carta.

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                   Passei quase uma semana de repouso. Não que gostasse de ficar deitado sem fazer nada, porém o duque fez Oliver prometer que iria cuidar de mim com a própria vida. Ele o fez. Percebi que Oliver era bastante informado no quesito fofocas local. Contava me histórias de todos os moradores da fazenda e dos arrendatários também. Fiquei sabendo que a duquesa tinha um amante; que o duque não podia beber leite ou passava a tarde toda trancado em seus aposentos; que não era bom comer carne de porco da fazenda pela falta de higiene de quem o preparava. Aproveitei o conhecimento de Oliver para meu próprio benefício.

                  - Diga me Oliver, sobre o duque de Wycliff, acredita que deva ter outros filhos além de mim?

                - Bastardos o senhor quer dizer? Filho mesmo só o senhor.

                - Sim, bastardos. Queria saber se existe a possibilidade de ter bastardos do duque.

               - Quando cheguei aqui na fazenda Wycliff o senhor já havia sido mandado para os estudos, após isso nunca ouvi nada que poderia comprovar que o duque traísse a duquesa. E olha que contra a dama tem bastante provas, não esconde seus affair de ninguém. O duque mesmo deve saber e fingi que nada acontece.

               - Parece ser tão rígido e aceita traições. Não entendo...

                - Senhor, acreditamos que a duquesa tem vosso pai nas mãos. O duque nunca a contraria, nunca a desobedece, nunca a ofende.

                 - Mas quanto a bastardos ou alguma história estranha antes de sua chegada, já ouviu falar?

                - Tem uma história estranha envolvendo a duquesa, nunca entendi muito bem. Mas parece que a parteira do vosso nascimento foi a própria duquesa.

                - Eles não se casaram bem depois da morte da primeira duquesa?

                - Sim, mas a cozinheira jurou que na noite do vosso nascimento levou água quente para o quarto. Estranhou que a parteira da vila não estava, porém disse ter visto a velha chegando mais cedo. No quarto estava a duquesa vossa mãe e a duquesa vossa madrasta. A cozinheira reconheceu a duquesa no dia do casamento com o vossa graça, mas fingiu não lembrar.

                   - Curioso isso. O porquê ela estaria no quarto? Será que tentou fazer algo de mal a duquesa, quero dizer... minha mãe?

                    - Acho que não senhor, o vosso nascimento aconteceu como deveria. Vossa mãe viveu mais anos depois disso como o senhor bem sabe.

                     - Mas deve ter acontecido algo. Muito estranho casar exatamente com a parteira do único filho.

                    - Sim, senhor. Nós, os empregados, chegamos à conclusão que o casamento foi por gratidão, ou que vossa graça se apaixonara pela mulher que cuidou de vossa mãe.

                    - Pode ser também.

                   - O caso é que a duquesa não era muito jovem quando uniu-se ao vosso pai. Achamos que os dois já se conheciam e que poderia ser uma amante. Até esperamos a aparição de bastardos, mas nunca vieram. Então os empregados insistem na opção do casamento por gratidão.

                    Fiquei pensando em tudo que Oliver contara enquanto esse recolhia os pratos do almoço que estavam sobre a mesa do quarto do sr. Ethan. Apesar de me sentir melhor não tinha permissão de sair dali.

                    - Ah, já estava me esquecendo. O senhor recebeu uma carta.

                    Oliver tirou um envelope simples do bolso do paletó e entrou em minhas mãos. Acreditava que seria do sr. Ethan e achava melhor não abrir na presença do empregado. Esse por sua vez ficou esperando que abrisse a carta. Coloquei-a na cama e disse que não era nada importante. Oliver saiu com ar desconfiado e notei que deveria ter cuidado com ele também, afinal, eu tinha os meus segredos.

                   A carta não fora enviada no meu nome, Adam, na verdade nem no de Judith, governanta de sr. Evans em Londres. A carta estava em nome do sr. Clark Green. Nunca ouvira falar desse sujeito e imaginei que fosse algum convidado da festa de noivado desejando melhoras. Abri o envelope.

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Caro sr. Evans,

                      Escrevo te para saber como está de saúde.

                      Não posso visitá-lo por ordens severas.

                      Achei que culpando me por vossa queda acabaria com o noivado,
porém não imaginava que romperia uma amizade de anos entre nossos pais.

                      Arrumei um problemão.

                      Vosso pai, o duque de Wycliff, colocou guardas na divisa de nossas propriedades, ele acredita que eu possa querer matá-lo de verdade. Juro que nunca tive a intenção de machucá-lo e que preocupo me com vossa saúde.

                      Meu pai ainda pretende nos casar, disse que eu preciso ser a dama que o senhor merece ter como esposa. Disse que quer mandar me para
alguma dessas escolas doutrinadoras de jovens rebeldes. Sei que é uma
péssima hora para lhe pedir ajuda. Na verdade entendo se preferir deixa
me ir embora, mas não tenho ninguém para recorrer. Arrependo me por
não ter esperado vossa recuperação para pensarmos juntos como nos
livrar do casamento. Responda me por esse nome e endereço que está
no envelope, a carta chegara até mim. Espero que em tempo.
                                                                           V. M.

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                       Li a carta duas vezes por não acreditar no seu conteúdo. Ouvira de Oliver que a lady se culpara pela queda e acreditei que o desfecho teria sido satisfatório para ambos: não seriamos forçados ao casamento, porém não deu muito certo seus planos. E quem era o sr. Clark Green? Certamente se poderia entregar correspondências também poderia ajudá-la com isso. Decidi rabiscar um negativa seca e deixar que a lady arrumasse seu “problemão”, pois estava firme na minha vontade de voltar a Londres.

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Cara lady Magnus,

                       Agradeço a preocupação. Ainda estou de repouso e minha
recuperação vai muito bem, obrigado.

                      Sinto muito que seu plano
de romper o noivado não tenha o resultado que desejava. Voltei para a fazenda disposto ao casamento e acredito que não possa fazer mais nada para te ajudar.

                      Vejo que ainda tem um amigo que possa recorrer, às vezes o Sr. Green tenha uma solução que lhe agrade.
                                                                 

E. E.

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Obs. da autora: As cartas tinham fontes diferentes para cada personagem, porém o app não aceitou a configuração.

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