Uma mulher loira e muito arrumada correu em minha direção. Parei os passos decididos e fechei a cara. Mesmo sem ter certeza de quem era sabia que o verdadeiro Ethan Evans não gostava de absolutamente ninguém que vivesse naquele local. A mulher não parou nem mesmo ao chegar perto demais. Pulou em meus braços e beijou me a face.- Que felicidade em lhe ver, Ethan. Sabe o quanto rezei por sua volta? Seu pai e eu morremos de preocupação por não ter notícias suas – Olhou me o corpo todo e virou me enquanto falava. – Pelo menos alimentou se bem. Não imaginei que fosse crescer tanto assim. Está maior que seu pai. Venha! Ele ficará maluco quando lhe ver.
A mulher puxava me com tamanha força para dentro da casa que somente congelando meus pés no chão pude conter suas investidas. Se aquela fosse a duquesa Mary Louise Evans e pelo jeito era, sr. Ethan deixara claro que a mulher o queria pelas costas. Logo aceitar suas demonstrações afetivas seria o primeiro fator para destruir o disfarce.
- Chega! – Disse ríspido puxando meu braço das mãos daquela mulher que ainda insistia em segurar me – Não preciso ser carregado como um bebê pela casa. Conheço bem o caminho e minhas pernas estão perfeitas para ir andando aonde desejar. Além do mais, não entendo a surpresa. Deixaram me sem nenhum em Londres para forçar a minha volta. Queriam que eu durasse quanto tempo nessas condições?
A dama nada respondeu. Seu sorriso inicial foi coberto pela magoa das palavras pesadas que soltei. Se estivesse em Londres e aquela mulher fosse uma de minhas passageiras nunca ouviria de minha boca tamanha grosseira. Senti vontade de pedir desculpas e quase o fiz, o que me deteve foi vê-lo chegar pela minha visão periférica. Sem dúvidas o homem que chegava no ambiente era o duque de Wycliff, vi seu sangue azul pular nas veias da garganta enquanto se aproximava. Era um senhor que aparentava ter seus sessenta anos, bem vestido, cabelos curtos e grisalhos, barba bem feita e olhar de poder. Eu saberia reconhecer um homem de poder pelo porte. Se encontrasse um duque pelas ruas de Londres seu jeito de se mover e o olhar imponente já seriam o suficiente para saber que aquele senhor teria um título da coroa.
Senti vontade de fazer uma reverência, algo normal observando quem eu era e quem era o senhor que estava parado diante de mim. Segurei esse meu comportamento ao lembrar que seu filho certamente não baixaria a cabeça para o próprio pai. Pelo contrário, levantei o queixo e olhei fixamente para o homem. Ficamos em silêncio nessa guerra de olhares durante uns bons dois anos ou dois minutos, a sensação foi a mesma.
- Acompanhe me até meu escritório. – Disse por fim.
- Estou cansado da viagem. Amanhã conversaremos sobre minha vinda forçada.
- No meu escritório. Agora!
O duque saiu a passos largos. Achei melhor segui-lo. Apesar de estar tentando parecer com o filho do duque eu tinha amor na minha vida e não sabia até que ponto poderia ser ousado quando se tratava da rebeldia dos herdeiros. Passamos por várias portas e algumas estavam abertas, era impressionante a riqueza encontrada em cada cômodo daquela fazenda. Tinha mais peças de ouro expostas em prateleiras do que já tinha visto no museu. Os quadros nas paredes eram outro espetáculo à parte: obras de tamanha delicadeza e perfeição que pareciam janelas para a vista das paisagens. Os tapetes pelo chão eram cheios de detalhes e provavelmente deveriam ser tão caros quanto as estátuas que enfeitavam o grande corredor que estávamos atravessando.
O duque entrou na penúltima porta do corredor. Entrei atrás dele e não fiquei surpreso pelo magnífico escritório que encontrei. Nunca em anos como guia de carruagem de aluguel eu tinha me deparado com um escritório tão luxuoso como aquele. Além da grande mesa de carvalho que dominava o centro do cômodo as paredes do fundo estavam cobertas de livros do chão ao teto, no lado direito se estendia mais quadros e prateleiras com artigos únicos e na parede a esquerda uma mini adega que expunha diversos tipos de garrafas bem arrumas por tamanho e cor.- Sente-se!
Novamente obedeci. O duque foi até a adega e começou a preparar um copo com gelo.
- Um drink?
- Não, obrigado.
- Parou de beber como um porco?
- Prefiro me manter sóbrio quando não sou bem-vindo.
O duque misturou o líquido de duas garrafas no copo e sentou-se de frente a mim. Girou o líquido e tomou um grande gole antes de falar.
- Sua voz está...deixa.
- O que tem minha voz? – Tentei não parecer apavorado, mas falhei. Como não havia pensado nisso. Óbvio que seria descoberto por algo. Como um pai, mesmo que distante, não reconheceria seu próprio filho. Ou pior, como acreditaria estar diante de um filho diferente do que partira.
- Engrossou.
- Também sinto o senhor mais envelhecido e nem por isso pergunto o porquê. – Respondi de forma rude a única desculpa que me veio à mente.
- Minhas preocupações e sua rebeldia são a causa do envelhecimento! Deixei claro meus motivos para sua volta. Magnus não esperava que fossemos adiar tanto esse casamento. Lady Vivienne já está quase para completar vinte e seis anos, para uma mulher o termo solteirona já deve estar sendo usado ao se referia a ela. Não me importo se o casamento é ou não do vosso agrado, irá casar nesse verão querendo ou não.
- Nesse verão? Já estamos no verão. Nem noivamos ainda. Irão achar que desonrei a lady e por isso corremos com os proclamas.
- Antes se tivesse desonrado a lady, saberíamos que o casamento seria um sucesso. Nem para isso me serviu. Não quero saber de mais desculpas. Iremos hoje mesmo a fazenda do duque de Caelan marcar a data e não tem discussão.
- Cheguei de viagem agora. Não tenho condições de pedir ninguém em casamento.
- Está contrariando uma ordem minha? – Levantou-se da cadeira tão vermelho quanto seria possível.
- Não...
- Fique pronto!
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A solução do duque
RomanceO que fazer quando um estranho lhe oferece a oportunidade de saber quem você é? Um guia de carruagem na Londres do século XIX tem seu mundo invadido pelo filho do poderoso duque Wycliff. A semelhança entre ambos será o suficiente para trocarem de lu...