Prólogo

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Prologo

Existe formas de existir, sem se sentir vivo. Eu estava morta. Eu precisava estar morta.

 Eu queria estar morta.

No momento de escuridão e dor, eu não pedi pelo nome de Deus. Eu não implorei para Ele para me dar força ou me levar, eu não conseguia acreditar que Ele me amava.

 Se esse Ser existia mesmo, porque Ele me deixava sofrer tanto? Por que eu estava destruída, despedaçada? Eu apenas existia. E não queria existir.

­—Por favor, por favor – minha voz saiu desesperada, havia no final das contas uma voz, eu não sabia até onde ela aguentaria ir – Ele não pode estar morto. Ele não está morto!

—Makenna...

 Eu não conseguia parar. Eu não conseguia parar de chorar. Minhas mãos bateram com força contra o corpo inerte no chão, sem resposta. Elas estavam ensanguentadas, o cheiro de sangue preenchia minhas narinas me dando náuseas, mas eu não parava de tentar. Eu não podia.

—Por favor, Dirk. Por favor, não me deixe... Por favor.

Há um limite para nossa consciência, para não perdemos a razão pelo menos. Eu havia perdido. Meu inferno particular havia aberto as portas, os demônios andavam ao meu redor, e Dirk não voltava. Ele tinha que voltar.

—Você não pode me deixar, Dirk – um soluço saiu da minha garganta, fazendo meu corpo tremer. Braços fortes me abraçaram, tentando me tirar do chão, sem sucesso – Você precisa voltar.

—Makenna... Eu sinto muito – a voz familiar de Theodore, não conseguiu me fazer desistir. Meus pulsos bateram mais fortes contra o peito musculoso e ensanguentado, tentando buscar vida para aquele coração – Ele não vai voltar, meu anjo. Dirk está morto.

Dirk está morto... Dirk está morto... Dirk está morto...

Não... Não... Não... Não... Não... NÃO!

Dirk não podia estar morto. Eu deveria estar morta.

 Um soluço. Dois... três... vários soluços.

 Eu podia ver minhas paredes desabando a minha frente no meu inferno particular. Eu podia ver os olhares de piedade vindos de todos os lados, de preocupação, de curiosidade sobre mim.

­—Me deixem em paz!

 Me afastando dos braços do meu padrinho, senti minhas pernas fraquejar e a pontada de dor espalhar por toda a minha perna. Minha roupa estava toda ensanguentada, mas eu não conseguia sentir dor, eu não conseguia sentir nem ao menos o ardor. Eu só sentia torpor.

Eu só sentia vontade de acabar com aquilo de uma vez por todas.

—Ele não pode estar morto. Eu não confio em vocês! Eu não confio em ninguém...

—Makenna querida, você está em choque e está baleada.

Theodore tentou me segurar novamente, mas consegui me arrastar pateticamente para trás, sentindo finalmente dor na região atingida. Mas não me importei, os soluços aumentaram, quase convulsionando minha garganta.

—Quem vai me proteger do monstro agora que ele está morto?

Mas o monstro também estava morto agora. Dirk havia o matado... Ele havia matado meu monstro... E morreu.

Minha culpa.

 Minhas pernas fraquejaram, meus joelhos cederam ao chão, e tremi, sentindo mais dor se espalhar por meu corpo, além da emocional. Eu gostei da dor. Mas ela não o suficiente.

 Meu monstro estava morto, e meu amor também.

Tapando a boca com as mãos, tentei segurar mais um soluço, olhando ao redor. O monstro estava morto ali.

 Ele nunca mais iria me machucar e me tocar. Eu nunca mais iria olhar para ele.

 Mas eu nunca mais iria olhar para Dirk.

Dirk havia salvado minha vida. Porra, ele salvou tudo e se foi.

Dirk estava morto.

 Arrastando-me para o corpo mais próximo, o baque da realidade veio como mais um tiro, mais potente acertando meu coração.

Eu nunca mais iria passar as mãos pelos seus cabelos enrolados. Eu nunca mais iria me deitar sob seu braço e me sentir protegida. Eu nunca mais iria vê-lo de novo. Porque, Dirk não era um príncipe encantado que salva uma princesa e vive com ela. A vida não é bonita, ela é um inferno, mas Dirk tinha sido o único motivo que havia me feito permanecer nela com sanidade.

Algo fino perfurou minha pele, um líquido quente percorreu minhas veias, tentando me tirar daquela realidade que eu estava ali. Meu corpo amoleceu, meus olhos pesaram. As vozes começaram a ficar distantes, mesmo eu lutando contra isso.

"Ela só tem dezesseis anos."

"Ela é apenas uma garota."

"Ela só tem um irmão pequeno."

"Como ninguém desconfiou desse monstro?"

"A mãe dela tem que ser presa também!"

"Ela podia estar morta."

 "Ela já deve não se sentir merecedora de viver."

Não me deixem dormir! Eu não queria dormir! Mas a dor me entorpeceu, minhas mãos sujas agarraram os apoios mais próximos, a vontade de continuar, lutando contra a vontade de me desligar.

Mas eu me desliguei.

 

Esposa por ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora