Acordei cedo como sempre. Eu trabalhava para sustentar a minha família. Meu pai era sapateiro, ganhava pouco e minha mãe estava doente. Minha irmã nos abandonou assim que completou dezoito anos e se "apaixonou" pelo filho do padeiro. Ainda teve a coragem de nos mandar uma carta dois anos depois dizendo que estava grávida de uma menina e muito feliz. Lembro de que meus pais choravam toda noite e se faziam de fortes no outro dia. Bem, minha infância foi bem normal e agora que estou com dezenove anos vou fazer parte de uma seleção de meninas para trabalhar como ajudante da familia real. O príncipe vai escolher sua esposa e para isso precisa de uma moça responsável e de bom gosto para o cargo. Eu me candidatei, pois trabalho como garçonete da única lanchonete da cidade e acho que o emprego não vai durar muito. Briguei com uma cliente que viu um fio de cabelo loiro no seu prato e disse que era meu, mesmo meu cabelo sendo castanho e o dela loiro. Eu fiz um barraco e a cliente acabou indo embora sem pagar e eu que levei o prejuízo. Meu patrão, John, avisou que da próxima vez nem a amizade de anos que ele tinha com meu pai faria eu ficar com o emprego.
Desci para fazer o café da manhã e depois levar no quarto da minha mãe. Meu pai já tinha ido trabalhar às 5:00 horas da manhã. Tudo o que eu queria era dar uma vida boa e confortável para eles. Eu estudava todo dia e o máximo que consegui foi um emprego como garçonete.
Minha mãe já estava respondendo melhor aos remédios que o doutor havia passado mais ainda continuava presa aquela cama. Vesti uma saia justa preta até o joelho, uma blusa branca com mangas e um salto preto. Fiz um coque com meus longos cabelos castanhos e estava pronta. Esperei pela enfermeira que cuidava da minha mãe. Ela se chamava Chloe e tinha quase a minha idade. Era bem divertida e muito amiga da minha mãe.Todos comentavam que seu namorado a traía com sua amiga de trabalho, mas não sou eu que vou dizer isso a ela né? Peguei minha bolsa, dei um beijo na testa da minha mãe e fui correndo para ver se pegava o metrô a tempo. Saindo de casa esbarrei com o meu vizinho(que era muito gato) de 40 anos que nunca namorou na vida. Dizem que ele não gosta de relacionamento sério, outros dizem que ele é gay, mas eu prefiro pensar na primeira opção. Eu nunca consegui me apaixonar, exceto quando era pequena e tinha um menino que nunca olhava para mim e era paparicado por todas as meninas. Ele se chamava Jeremy. Eu era caidinha por ele até o dia em que ele se mudou para a Califórnia e ninguém ouviu falar dele.
Consegui chegar a tempo na estação de metrô, o único lugar que tinha era ao lado de uma cartomante. Ela queria ler a minha mão,mas eu disse que estava com pressa. Ela insistiu tanto que acabei cedendo. Disse que eu iria conquistar o que tanto queria e disse algo que fiquei bastante surpresa, eu iria me apaixonar.Quando cheguei ao castelo havia uma fila enorme de mulheres eufóricas e ansiosas para falar com a realeza. Esperei duas horas pela minha vez. Conheci uma ruivinha de 16 anos que era bastante feliz e eu amei seu sorriso. Sempre quis ser uma pessoa que ri de tudo. Minha mãe dizia que tinha pena de mim por eu nunca ter tido a experiência de ter dado uma gargalhada. Não que eu nunca tenha dado uma gargalhada, eu só, sei lá... Não tive uma familía normal como todas as outras.
O castelo era perfeito. Cheio de
detalhes, quadros, jarros antigos, lustres que brilhavam mais que o sol e concerteza aquelas cortinas eram de seda.
-Senhorita?
Me virei e vi que o mordomo estava se dirigindo à mim.
- Sim?
- Siga-me por favor.
Ele me dirigiu até uma sala enorme, na qual quando entrei vi o rei e a rainha dando gargalhadas enquanto um rapaz alto de costas olhava pela janela. O mordomo anunciou a minha chegada e eles voltaram a postura de elegância. Fiquei um pouco incomodada com tantos olhares voltados à mim.
-Sra. ...?- perguntou a rainha se referindo a mim.
- Holt. Alice Holt. - respondi com um pouco de timidez, o que era estranho.
- Quantos anos você tem, querida? - continua a rainha com o questionário.
- 19 anos.
- Experiência?
- Trabalho como garçonete.- nessa parte consegui atrair a atençao do príncipe que ficara de costas desde que eu cheguei ali.
Quando ele se virou seus olhos se prenderam aos meus. Aqueles olhos cor de mel que faria qualquer mulher ficar apaixonada. Menos eu,claro. De repente esqueci o que estava falando.
- Sra. Holt? Está ouvindo?- dessa vez foi o rei que falou. Um homem com 50 anos muito bem vividos.
- Si-i-im! - comecei a gaguejar e o príncipe começou a rir do meu nervosismo. Tentei prestar atenção no que realmente importava, quando dei dois passos para trás tentando me equilibrar em algo. Quando esbarrei em um jarro que caiu no chão e se partiu em mil pedaços, do mesmo jeito que a minha esperança em conseguir aquele emprego. Acabou tudo. Tive vontade de chorar feito uma criança de três anos e abraçar bem forte a minha mãe.
- Meu Deus! - exclamou a rainha vindo em minha direção. -menina, você tem ideia do que fez? Meu lindo jarro. Essa peça é uma relíquia. Bem, era.
- Ai meu Deus, me desculpem. Não queria ter causado tudo isso. - Tentei me ajoelhar para juntar os pedaços, mas minha saia não deixava. Era tão apertada que... Nããooo.
- A...a...a...mi-i-i...- Não conseguia falar nada.
- Você está bem? - disse uma voz bem masculino, calma e firme.
- Minha saia. - cochichei. Isso não podia ficar pior. Minha calcinha de bolinhas estava aparecendo a metade.
Uma mão quente e forte tocou o meu braço com muita delicadeza me ajudando a levantar.
- O que disse? - ele franziu a testa.
- A minha saia rasgou.
Ele me examinou e ficou vermelho. Eu acho que também fiquei porque ele deu um sorrisinho.
- Não olha. - disse tentando esconder o resto de dignidade que tinha me restado.
- Desculpe! Acho melhor você trocar de roupa.
- Mais eu não tenho roupa. Outra ideia?
- Na verdade tenho sim. - disse me olhando maliciosamente o que me deixou um pouco assustada.
O príncipe me levou até uma sala enquanto a rainha reclamava com as empregadas dizendo para terem cuidado com seu jarro. O lugar parecia um salão de beleza porque várias mulheres ajeitavam os cabelos enquanto faziam as unhas. Não entendi porque estava ali até o príncipe chegar com um longo vestido beje com bordados muito delicados. O vestido era perfeito, o mais bonito que meus olhos já viram.
- Veja se cabe. - disse o príncipe oferecendo o vestido.
- Não posso aceitar. Acha mesmo que vou para casa vestida nisso. É enorme e eu volto de metrô.Imagine só, uma louca com um vestido de princesa.
Ele deu um sorriso.
- Não se preocupe, mando lhe levarem de carruagem. Mais se preferir pode ir com sua saia rasgada aparecendo a metade da calcinha. - disse indo guardar o vestido.
- Espera. - gritei tão alto que eu mesma me assustei. - Vou precisar desse vestido.- disse pegando de seus braços.- E da carona também.