Capítulo 6

721 46 7
                                    

Na manhã seguinte acordei de 4:00, já tinha feito minha mala na noite anterior então me arrumei rapidamente e esperei Jeremy me pegar. Ele tinha ligado ontem à tarde para perguntar como foi o almoço e eu acabei falando mais do que devia. Contei que iria passar um semestre lá e ele começou a surtar então já sabia o assunto que iríamos conversar hoje.

Um pouco antes dele chegar lembrei de pegar o vestido e vou admitir que foi um pouco difícil arrumar um espaço para colocá-lo, mas no final acabei levando na sacola que ele já estava mesmo. De 5:00, Jeremy aparece na minha porta. Dessa vez ele pegou o carro da mãe, já que dividia sua semana entre ela e seu pai. Passava o final de semana e a segunda-feira aturando sua mãe que tinha 50 anos e namorava um carinha de 20 que fingia gostar dela mesmo sendo óbvio que ele estava de olho na mesada do final de mês.

Coloquei minha mala no banco de trás do carro que era bem menor que a sacola do vestido. Pedi a Jeremy para colocar o vestido no porta mala já que era o único lugar que cabia.
- Onde você arrumou isso? - ele perguntou fazendo força para a sacola entrar.
- Longa história. Você não gostaria de saber. - falei enquanto pegava minha bolsa preta que havia usado no dia da entrevista.
- Tudo bem. Vamos? - perguntou depois de conseguir com muita dificuldade colocar a sacola.

A rua estava bem mais deserta que o normal, mas eram apenas 5:10 e acho que mesmo por ser um dia de semana as pessoas não precisavam acordar tão cedo. Enquanto íamos para o castelo em silêncio tentei quebrar o gelo e colocar uma música no rádio. A mãe dele era bem mais mão aberta que seu pai e nos deixa mexer nas suas coisas, digamos que ela é uma mãe moderna.

Quinze minutos depois já estávamos no portão do castelo. Jeremy me ajudou a carregar a mala e o vestido. Digamos que... ele carregou tudo sozinho, mas não tenho culpa se ele insistiu tanto. Quem nos recebeu foi o príncipe que ficou bem impresionado quando viu Jeremy.
- Deixe eu ajudar. - ele disse pegando as sacolas.
- Não precisa. Eu posso carregar... - Jeremy falou puxando a sacola de suas mãos - Alteza. - e continuou andando pelo corredor.
- O quarto dela fica no segundo andar. Podem perguntar as criadas que estiverem por lá. - o príncipe falou e depois sumiu nos deixando sozinhos.
- Sério, eu posso carregar. - falei depois que senti pena dele.
- Eu também posso. - comecei a rir da sua atitude.

Subimos umas 200 escadas e eu quase desisti na metade do caminho, mas Jeremy não, continuava com aquela sua vontade de fazer o bem ao próximo (sei). Ao entrar no quarto ele imediatamente soltou as malas e suspirou. Comecei a rir da sua cara e de como foi patético aquele seu teste de carregamento de peso.
- Uau. Que quarto hein? - ele disse analisando o lugar.
- Uau mesmo. - falei estupefata e logo ficamos num longo silêncio.
- Vou sentir sua falta. - ele falou de repente.
- Também vou. - disse indo em sua direção e pegando sua mão. - Muita.
E o beijei. Um beijo bem demorado e suave. Não ia conseguir ficar longe dele por muito tempo. Quando nos afastamos ele alisou meu cabelo e me abraçou.
- Promete que você nunca vai me abandonar?
- Prometo. - engoli um seco e me soltei de seus braços quando percebi que o príncipe estava na porta nos observando. Quase que pulei quando vi seu rosto.
- Que susto! - exclamei com um pouco de vergonha.
- Desculpem. Apenas vim para ver se você já estava bem acomodada e acho que acabei interrompendo a despedida de vocês. Com licença.
- Ah! Interrompeu mesmo. - Jeremy disse e o príncipe o fuzilou antes de se retirar.
- Você é doido? Ele é o príncipe e meu chefe.
- Tanto faz. Esse carinha é muito intrometido. - só faltava essa.
- Acho melhor você ir antes que a rainha passe por aqui e veja eu dando uns pegas em um rapaz bem na frente dela. - sorri só para aliviar a tensão.
- Tudo bem. Sábado estarei esperando sua família e você na praia para um pequenique especial.
- Tá bem. Já que você insiste tanto... Eu falo com eles. Prometo. - e dei meu último beijo antes dele sair por aquele corredor.

Guardei minhas roupas em um armário branco. Utilizei apenas duas gavetas e depois fui dar uma olhada no banheiro. Coloquei meu shampoo, sabonete e hidratação na prateleira e minha escova de dentes guardei em uma caixinha. Terminei de arrumar tudo e agora só faltava devolver o vestido. Procurei uma criada por perto e pedi para levá-lo ao príncipe e dizer que eu agradecia sua generosidade, mas que não seria mais necessário.

Assim que arrumei tudo tomei um belo banho, lavei meus cabelos e coloquei um longo vestido amarelo claro junto com minha sandália rasteira. Saí do quarto para dar uma olhada no castelo e acabei esbarrando com a criada que levou o vestido para o príncipe e ela falou que já havia entregado. Fiquei aliviada por não ter levado e vestido e ver o príncipe depois daquela cena no quarto, mas em uma hora ou outra iríamos nos encontrar.

Dei uma volta pelo jardim. Eu era fascinada por flores, um amor desde pequena quando minha mãe me fazia cuidar do jardim da vizinha em troca de um dinheirinho. Posso dizer que aquele dinheiro me ajudou muito em casa, mesmo sendo pouco.

Conversei com alguns guardas enquanto não tinha nada para fazer. Descobri que o rei e a rainha já haviam acordado e estavam no escritório. Pensei em ir atrás do príncipe mais logo mudei de ideia quando o vi com uma linda moça de cabelos pretos longos em um belíssimo vestido azul. Eles estavam sorrindo e de mãos dadas e quando ele viu que estava o observando logo soltou a mão dela. Me senti uma intrusa, invadindo sua privacidade.
- Desculpem atrapalhar. Estava dando uma olhadinha pelo lugar. - falei e com certeza estava ficando vermelha.
- Não se preocupe querida. Não atrapalhou nada. - disse a moça segurando nas minhas mãos com delicadeza e fixando seus lindos olhos castanhos nos meus. Seu olhar era tão forte que deixaria qualquer um com medo e também tenho certeza que deixa muitos apaixonados.
Ela saiu nos deixando sozinhos em silêncio. Dei um sorriso desajeitado e quebrei o silêncio fazendo uma pergunta.
- É sua... namorada? - falei apontando na direção que a menina saiu.
- Não. - ele falou imediatamente com nervosismo.
- Calma. - falei - Acho que vocês combinam. - disse dando um sorrisinho.
- Que nada. Eu... ela... - ele começou a gaguejar. - somos amigos. - completou finalmente.
- Ah, sei. - falei - Você sabe que pode confiar em mim, não é? - eu disse o encarando - Somos amigos agora. Querendo ou não, vamos conviver juntos. - falei e levei um susto(não aguentava mais) quando um guarda apareceu de repente. Ele disse que o rei gostaria da minha presença e da do príncipe no escritório real.
Eu o acompanhei ao lado do príncipe até uma longa sala que parecia um escritório, com uma mesa e... Espera. Era aquela sala na qual eu fiz minha entrevista e pude perceber que já havia outro vaso no lugar do antigo.
O rei estava sentado em uma cadeira bastante confortável, que mais parecia um trono, e a rainha estava lhe mostrando uns papéis. Antes mesmo do guarda nos anunciar, a rainha nos mandou entrar.
- Mãe. - disse o príncipe lhe dando um beijo no rosto.
- Majestade. - fiz uma reverência e esperei enquanto ela cochichava com o rei alguma coisa.
- Aqui está. - o rei disse me entregando uma papelada. Pareciam currículos, mas não para um emprego, e sim para príncipe. Que ridículo. Se casar por dinheiro.
- Quero que veja cada papel e escolha as melhores. As que forem mais bonitas, mais ricas, que saibam fazer coisas mais importantes que escolher uma boa roupa e principalmente simpática. Isso não pode faltar. Escolha umas...quinze. Marque entrevistas e encontros. E... Não se esqueça da festa que daremos. Faça isso nessa semana. Sexta- feira quero um relatório sobre cada uma e... Sobre a festa, pode falar com Callina, ela é nossa organizadora de eventos. Então... Dúvidas? - a rainha disse arqueando uma sobrancelha.
- Ahn, sim. Quer que eu marque entrevistas com todas e escolher as quinze melhores?
- Isso mesmo.
- E depois quer que eu faça encontros? Delas com... O príncipe? - perguntei achando ridículo o que eu mesma estava falando.
- Aham. Vejo que entendeu. Pronto. Se precisar de algo... Estarei aqui. Pode ir para seu quarto começar. Quero saber como está indo a cada dia.
- Está bem. - falei indo para o meu quarto. Ainda não estava acreditando que aquilo era real. Pobre príncipe.

Na hora do café preferi tomar no meu quarto. A criada trouxe, então tive todo o tempo aproveitado. No quesito beleza eu tirei umas dez. Depois vi as que tinham mais condições. Exclui umas três. Nossa...ali contava toda a sua vida. Depois tirei umas oito, pois no papel dizia que não sabia fazer nada. Nem cozinhar, nem falar três línguas(que era o mínimo), apesar de que eu acho que cozinhar não é necessário. Tudo bem. Acho que meu dia se resumiu nisso. Escolher a futura rainha.

Simplesmente aconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora