O carro chegou de 20:00 em ponto. Peguei minha bolsa prata e um papel muito importante antes de entrar no carro. Quando abri a porta, vi um carro muito luxuoso preto que brilhava bastante no escuro. Entrei em silêncio até a hora que pude ver o mesmo motorista que havia me levado outro dia. Assim que ele me olhou deu uma risadinha, eu acho que foi quando se lembrou do primeiro dia que me levou para casa de carruagem e eu só fazia pular por causa dos solavancos.
- Boa noite. - ele falou ainda com um ar de riso ao abrir a porta.
- Boa. - falei tentando não o encarar.
Assim que entrei, ajeitei meu vestido que já estava um pouco amassado e tentei passar o caminho todo olhando apenas pela a janela. Em instantes eu já podia ver a cerca branca e a enorme casa de madeira que sinalizava a entrada da fazenda. Desci do carro e logo passei a mão pelo meu cabelo para que ficasse quieto. Abri minha bolsa só para ter certeza de que o papel ainda estava ali.
- Obrigada. - falei enquanto o motorista me ajudava a sair do carro.
- Por nada senhorita. - ele falou me fuzilando com seus brincalhões olhos castanhos escuros. - Tenha uma boa noite. - sorri indo até a cerca branca e antes de tentar abrí-la percebi que já estava aberta. Segui uma iluminação fraca que eu acho que seriam velas e só parei quando vi uma mesa para duas pessoas com várias velas ao redor e o príncipe em pé segurando um buquê enorme de rosas brancas. Ele usava paletó branco e seu cabelo estava penteado para trás com gel deixando apenas uma pequena mecha caindo sobre seus olhos. Ele parecia um deus grego.
- Ahn...- falei procurando as palavras certas. - Oi. - sorri nervosa. Ele começou a se aproximar rindo.
- Oi. - ele falou bem perto. - Você está perfeita.
- Obrigada. Você também não está nada mal. - sorri de lado.
- Obrigado. É para você. - ele disse me entregando o buquê.
- Como...Como você sabia que minhas flores preferidas são brancas?
- Digamos que...eu te conheço mais do que você pensa.
Fiquei vermelha.
- Ok. Por enquanto vou aceitar essa resposta.
- Por aqui. - ele me ofereceu o braço enquanto caminhávamos até a mesa. Quando eu ia puxar a cadeira para me sentar ele gritou desesperado. - NÃO!
- O que foi? - perguntei confusa.
- O cavalheiro é que puxa a cadeira para a dama.
- Você ainda é desse tempo? - perguntei conseguindo puxar uma enorme gargalhada dele.
- Admiro as etiquetas. - ele sorriu de um modo que pudesse mostrar suas covinhas.
- Então...O que temos para o jantar? - perguntei olhando para os pratos de porcelana branco que já estavam postos na mesa.
- Você verá. - ele falou enquanto um homem vestido de paletó preto colocava uma garrafa de vinho na mesa. - Vinho? - ele perguntou.
- Você sabe que eu não bebo né? Mas tudo bem. Pode colocar um pouco. - na mesma hora me lembrei do papel. - Ah! Antes que eu esqueça... - abri minha bolsa e pude sentir seus olhos me estudando. Quando peguei o papel dei um suspiro e o entreguei.
- O que é? - ele perguntou enquanto eu o entregava.
- Um rascunho.
Quando ele abriu o papel sua sobrancelha direita se arqueou. Ele estava fascinado, parecia uma criança.
- Esse...Eu...Você...- ele começou a gaguejar.
- É você. Eu te desenhei. Na verdade é mais um rabisco, passatempo. Gostou? - sorri estudando seu rosto que não mostrava nenhuma emoção definida.
- Esse sou eu? É assim que você me vê? - ele me encarou e esticou sua mão para encontrar a minha.
- Digamos que sim. Só que você é bem melhor ao vivo. Sua beleza nem se compara. - eu acho que falei demais. E muita besteira. Argh! Eu acho que fiquei vermelha.
- Eu achei perfeito. E se eu for tão bonito quanto seu desenho, vou me sentir bastante privilegiado. Você desenha muito bem.
"Ah, você é sim, pode ter certeza". - pensei.
- Eu acho que tem muita coisa ai dentro que você não tem coragem de colocar para fora. - ele falou soltando a minha mão e ficou sério. - Alice...posso te fazer uma pergunta? Mas preciso que seja totalmente sincera.
- Claro. - engoli um seco nervosa.
- O que sente por mim? - ele me olhou um pouco triste. - No outro dia quando eu lhe perguntei você falou que ainda amava Jeremy, mas eu sinto que...Não sei, sinto que mentiu para mim.
- Charles eu não...- me levantei da cadeira com a intenção de sair dali antes de responder aquela pergunta.
- Por favor, Alice. - ele também se levantou e ficou bem atrás de mim.
- Eu não aguento mais. - virei para lhe encarar e comecei a chorar. - Não sei o que está acontecendo comigo- lhe abraçei de impulso. - Só... não me deixa, por favor. - lágrimas desciam pelo meu rosto de modo involutório. Levantei meu rosto e lhe encarei. Seu rosto estava bem próximo ao meu. Sua respiração se misturava com a minha. Seu cheiro se misturava com o meu. - Eu...preciso de você. - seu rosto se iluminou ao ouvir aquelas palavras, mas eu sabia que ele queria ouvir outras.
- Alice...- ele falou meu nome de uma forma doce. Colocou uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. - Eu nunca te deixaria. Nunca. - nossas testas se tocaram e ele segurou meu rosto com suas mãos.
Fiquei aliviada ao ouvir aquilo. Eu precisava dele mais do que nunca. Seu toque me acalmava e eu era completa perto dele.
Terminamos o jantar como pessoas normais e depois resolvemos passear um pouco pela fazenda.
- Soube que gosta de cavalos. - ele falou enquanto andávamos lado a lado.
- Soube é? - lhe encarei toda desconfiada.
- Sim, e espero que aceite cavalgar comigo.
- O quê? Como acha que vou cavalgar com esse vestido?
- Como sou um cavalheiro que pensa em tudo, deduzi que viria de vestido, por isso trouxe uma roupa adequada que irá lhe vestir perfeitamente. - na mesma hora apareceu uma menina que devia ter uns 16 anos e me pediu para acompanhá-la até a casa de madeira.
Ao entrar vi vários empregados trabalhando. Eu não sabia que alguém morava ali, muito menos que era tão arrumada. Pelo que é por fora você já imagina algo do tipo mansão do terror. Era uma casa típica de filme caipira. Cortinas com estampas floridas, mesa de madeira, sala sem televisão e vários porta-retratos...Espera! Peguei um porta-retrato no armário de madeira que me chamou bastante atenção. Havia um menino na foto e eu acho que era...Charles. Ele devia ter uns 5 anos, seus cabelos eram quase loiros por causa do sol e seu enorme sorriso já demonstrava como estava feliz. Estava tentando montar num cavalo e no canto da foto havia outro garoto que devia ser um pouco mais velho que ele. O menino tinha cabelos castanhos escuros e ajudava o príncipe a subir no cavalo.
- Senhorita? - uma senhora se aproximou examinando a foto.
- Desculpe só estava vendo. - falei colocando-o de volta na estante.
- Ah! Como eles cresceram.
- Quem é esse garoto no canto da foto?
-Eric. Seus pais não gostam muito de falar nele, e sempre que falam há apenas tristeza.
- Eric? - perguntei confusa.
- Sim, o irmão do senhor Charles.