Capítulo 13

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Me acordei com muita dor de cabeça. Quando olhei ainda sonolenta para a poltrona ao lado da minha cama, vi o vestido todo amarrotado, então me lembrei da noite anterior. Nitidamente. Jeremy apanhando do príncipe Charles, a minha conversa com Raíssa, eu dançando com Jeremy. Ai! Tentei levantar da cama, mas minha cabeça deu várias pontadas. Fui tomar banho para ver se tirava todo aquele peso que estava me consumindo. Lavei meu cabelo e fiz as pernas. Vesti uma saia vermelha com uma camiseta branca e resolvi andar para pensar em tudo que me atormentava. Resolvi passear por uma fazenda perto do palácio. Era parte da família real e parte de um comerciante bastante rico do meu bairro. Qualquer um podia passear por lá e ver os animais. Poucos sabem da minha paixão por animais, especialmente cavalos. Desde criança visito essa fazenda, mas quando minha irmã fugiu e mamãe adoeceu ficou sendo raro as nossas visitas até pararmos de vez.
Fiquei vendo de longe perto de uma cerca um homem treinando seu cavalo. Quando ele me viu o observando veio na minha direção. Devia ter uns trinta anos, com cabelos pretos no ombro e muito bonito. Ao se aproximar sorriu.
- Gosta de cavalos? - ele perguntou acariciando a crina do cavalo.
- Se eu gosto? - perguntei fazendo-o me encarar. - Eu adoro. - sorri maliciosamente.
- Que ótimo. É difícil encontrar garotas que gostem de cavalos. Na maioria das vezes elas tem medo só de olhá-los. - ele me fuzilou.
- Pois é. Desde pequena eu visito essa fazenda. Sempre cuidei dos cavalos, porcos, vacas...Até o dia em que minha irmã fugiu de casa. - ele me olhou com pena. - Mas não importa. Ahn...Me chamo Alice. - sorri lhe oferecendo minha mão.
- Roberto, prazer em conhecê-la senhorita. - eu pensei que ele iria apertá-la, mas a beijou delicadamente. - Sinto muito que não posso mais conversar com a senhorita. Tenho muitos afazeres, com licença. - ele saiu e continuou seu treinamento.
- Não acredito! - ao me virar vi o príncipe descendo do seu cavalo, vestido como um peão. Seu chapéu de couro marrom escuro dava um destaque no seu cabelo castanho claro. Usava uma calça marrom e uma blusa abotoada até a metade branca. Pela blusa dava para ver seus músculos... - Senhorita, o que faz aqui?
- Não lhe devo satisfações magestade. - falei virando de costas irritada.
- Está irritada comigo? - ele perguntou aparecendo no meu campo de visão.
- Não interessa. - falei andando para o mais longe possível e acabei enroscando minha sapatilha dourada nos musgos.
- Me desculpe pelo que fiz com seu... - ele fez uma pausa - Ex-namorado.
Dei de ombros.
- Não quero falar sobre isso.
- Espere por favor. - ele segurou meu braço com delicadeza e pude sentir um choque.
- O que foi? - perguntei lhe encarando irritada.
- Não quero que fique com raiva de mim. - ele se aproximou de mim, mas eu dei um passo para trás. - Está com medo de mim? - ele perguntou levantando as mãos.
- Não. Só não quero que se aproxime muito.
- Não entendo. - ele falou colocando as mãos no bolso na calça.
- Eu pensei um pouco sobre o que Jeremy falou e...Acho melhor ficarmos um pouco distante. Sei o que sente por mim e espero que com essa distância e com sua nova mulher possa perceber que na verdade não me amava. - falei triste.
- Entendo. E você? - ele perguntou levantando meu rosto de um modo que pudesse encarar aqueles lindo olhos...Para!
- Eu o que?
- O que sente por mim? - ele perguntou sorrindo.
Na verdade nem eu sabia o que sentia por ele. O que eu sentia por ele?
- Eu... - seus olhos brilharam - Não sei. - tirei suas mãos do meu rosto. - Ainda amo o Jeremy. - falei por fim e seu rosto ficou com uma expressão que me deu medo. Ele estava...triste. Corri para longe dele. - Sinto muito. - cochichei para mim mesma. - Mas não posso te dizer a verdade.

Voltei para casa de taxi e mesmo sem trabalhar, o dinheiro que recebi trabalhando aquele tempo no castelo demoraria bastante para acabar.
Assim que cheguei em casa e que não vi ninguém, comecei a chorar e só parei quando alguém bateu na porta. Deveria ser muito importante porque a pessoa batia desesperadamente. Ao abrir a porta olhei de um lado para o outro e não vi ninguém. Olhei para o chão e vi um pequeno buquê de rosas vermelhas. Eram lindas e cheirosas. Abri o bilhete que vinha acompanhanando o buquê. O cartão tinha um cheiro doce e delicado. Sentei no sofá e comecei a ler o cartão.
"Senhorita Holt, se está lendo essa carta é porque recebeu as flores que mandei. Estou muito triste que tenha ficado com raiva de mim, por isso, gostaria de que aceitasse meu convite para um jantar com direito a uma valsa. Por favor Alice, eu não aceito um não como resposta. Lhe espero na fazenda, amanhã às 20:00. Até lá, senhorita."
Sorri ao ler a carta. Porque ele tem esse poder de me fazer sorrir sempre que leio uma carta sua? Guardei a carta na minha caixinha branca de jóias e peguei um copo transparente e enchi de aguá para depois colocar as flores com delicadeza sobre a minha penteadeira.

Desci para assistir um pouco de televisão e fiquei assistindo até a hora do almoço quando meu pai chegava do trabalho para depois de 30 minutos voltar para sua sapataria. Troquei a saia por um short jeans claro e fiz uma trança com meu cabelo. Pensei em assistir um filme e vi um bastante bom que tinha como protagonista Anne Hathaway chamado Um Dia. Foi inspirado num livro de David Nicholls e eu chorei do começo do filme até o final.
Quando meu pai chegou e me viu com um lenço no nariz começou a rir da minha cara.
- Para pai. O filme é muito lindo. - falei em meio aos soluços. Quando olhei seu rosto, percebi o quão velho ele estava. E cansado. Seus olhos azuis já não brilhavam e seus cabelos castanhos já apareciam alguns fios brancos. Me levantei do sofá e o abraçei. Em seguida beijei seu rosto.
- O que é isso agora? Está tão carinhosa. Ah! Foi o filme. - Sorri ainda em seus braços.
- Não! É porque eu te amo, pai. Sei que eu não sou aquela pessoa que diz amar todo mundo, mas...Eu te amo, pai. Muito.
- Eu também filha, você não sabe como. - e acariciou o meu cabelo.
- Que cena linda. - mamãe falou fechando a porta de madeira num rangido. - sorri para ela e também a envolvi num abraço. Ficamos ali sorrindo e abraçados como uma família...Normal.

Na terça-feira de 20:00 como combinado eu fui até a fazenda. Mamãe ficou perguntando, perguntando, perguntando tanto que eu acabei falando para onde ia. Era impossível mentir para ela. Também me fazia lembrar de Juliet. Os cabelos quase loiros de Juliet sempre me deram inveja até o dia em que ela falou que preferia o meu cabelo castanho ao dela. Os olhos castanhos de mamãe também influenciaram bastante para Juliet parecer mais com ela. Por isso que as vezes fico um pouco triste quando olho mamãe. A aparência das duas é um absurdo. Já papai...Sempre eu era comparada a ele. Foi sempre assim.

Mamãe me ajudou a escolher uma roupa comportada, simples e que servisse para um encontro. Acabei escolhendo um vestido azul escuro até o joelho com mangas de renda e um salto prata. Deixei meu cabelo solto e fiz uma maquiagem mais natural. E...Estava pronta para o encontro mais estranho que já tive na minha vida.


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