VIII- Encarando a realidade

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Estar no meu quarto não é mais uma novidade, pois ele era o meu único refúgio no momento.

Satoru estava mexendo nas minhas coisas, enquanto Shoko trançava o cabelo de Suguru.
Por um lado eu estava aliviada pelos dois estarem vivos e Shoko não estar sozinha, pelo menos nesse universo tudo parece dar certo, o problema é que eu não sei até quando isso durará.

— Eu queria ter provado pelo menos um pedaço do seu bolo de aniversário.— Shoko reclama.

— Não foi culpa minha se a Bruna e Catherine pegaram mais da metade quando ninguém estava prestando atenção.— digo, em minha defesa. Soube dessa notícia pela tarde, e ri tanto— Eu prometo fazer um bolo só pra você antes que tudo acabe.— falei sorrindo, enquanto prendia o grampo de estrela no cabelo de Suguru.

— Como assim?— os três perguntam. Suguru tirou o cabelo do rosto e me encarou, Shoko franziu a sobrancelha. Satoru parecia não ter expressão alguma, mesmo sem aquela venda.

Ai, caramba. O que eu digo agora?

Tossi algumas vezes, fingindo estar engasgada. Eu não era ruim em mentir, era até uma habilidade minha, não que eu sinta tanto orgulho assim.

— Então... eu estou pensando em sair da escola.— revelei. Em parte não era mentira, pois eu realmente pensava naquilo desde a conversa com o KMB, no fim da tarde.

— Mas, porque isso?— Shoko pergunta.

— Os motivos são bem óbvios Shoko, você sabe como é a nossa rotina.— Suguru diz.

Como pode uma pessoa ficar triste assim por causa de uma mentira em uma realidade que não a pertence? Eu queria ficar com eles ali pra sempre.

— Você não me contou sobre isso.— Satoru diz. Ele não parecia chateado, mas eu sabia que no fundo estava.

Porra, isso não é real. Repeti para mim.

— Porque eu não tinha certeza antes. Isso não tem nada a ver com o que temos.— disse. Eu me sentia uma adolescente de novo, cheia de emoções que não podia controlar.

— Vamos, Shoko.— Suguru a chamou.

Shoko fez um "joinha" com a mão, e foi embora.

Eu sentei no tapete em frente à cama, esperando Satoru dizer algo.

Não é real. Nada disso é real.

— Pretende ficar aqui até quando?— ele pergunta, pegando o gatinho de pelúcia.

— Não tenho nada definido.— pelo menos isso era verdade— Já tem um tempo que me sinto cansada, as missões me deixam assim.

— Porque não me contou? Eu poderia te ajudar...— a raiva de mim crescia por dentro do meu coração— Eu posso fazer algo?

Eu queria gritar dizendo: Você pode ser real para mim?
Mas eu não podia dizer aquilo.

— Não, eu acho que não.— respondi.

Depois do que eu disse, o silêncio tomou conta do quarto. É horrível quando você quer dizer tanto algo a alguém e não pode.

Eu não conseguia encará-lo, pois sabia que iria chorar, mesmo que fosse tudo uma ilusão. O pior é que mesmo se quisesse voltar, eu não saberia como viver depois de ser feliz aqui. Eu estava vivendo um sonho com meus amigos.

Porque sonhos não duram pra sempre?

— Eu vou preparar o nosso jantar.— ele diz, devolvendo a pelúcia na cama e indo em direção a porta— Podemos conversar sobre isso depois?

𝗞𝗠𝗕 𝘀𝗲 𝗮𝘃𝗲𝗻𝘁𝘂𝗿𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗽𝗲𝗹𝗼 𝗺𝘂𝗹𝘁𝗶𝘃𝗲𝗿𝘀𝗼 Onde histórias criam vida. Descubra agora