cαρiтυlσ 10

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Reo's P.O.V.

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Bom, tudo começou uns anos atrás, ainda em Saitama, quando eu adentrei o berçário. Meus pais tinham condições suficientes para me pôr em um estudo particular, mas não era isso que eu desejava. Eu queria amigos e companhia, já que eles passavam metade do dia fora e quando estavam em casa raramente me davam uma atenção de verdade.

Nesse meio, eu fui para um berçário, onde eu encontrei Kunigami pela primeira vez. Lá, no entanto, era eu no meu canto e ele no canto dele, sem muita aproximação. No entanto, os tempos foram se passando e, aos poucos, todos os nossos amigos saíram do berçário, sobrando apenas eu e ele da galerinha antiga, que ficaria para o início do ensino fundamental. No início do primeiro ano, foi quando Kunigami veio em mim e viramos de fato amigos, mas ainda sim não muito próximos. A gente conversava, mas não compartilhava assuntos pessoais ou algo assim.

Até o Chigiri chegar.

Ele mudou a gente de uma maneira incrível. Ele uniu a gente, nos transformando em um grupo de verdade, antes mesmo que pudéssemos perceber isso. Chigiri era um menino de ouro, Nagi. Como eu gostaria que vocês dois se conhecessem.

Reo percebeu que Nagi sorria enquanto o via falar e encarava aqueles olhos escuros e penetrantes, tentando sair daquele olhar, mas se perdendo no caminho. Nagi ia abrir sua boca para falar algo, mas se arrependeu e preferiu deixar o menino continuar sua história.

Desde a chegada de Chigiri, eu e Kunigami nos tornamos próximos, em um nível que tudo que ocorria na minha vida, eu contava pra eles dois. Talvez eles soubessem mais de mim do que meus próprios pais, talvez mais até que eu mesmo me conhecia. No entanto, nada é só flores e claro que uma merda iria acontecer comigo e com eles.

No ensino médio, Chigiri me contou que estava desenvolvendo sentimentos por Kunigami e eu como amigo dele, tentei meu máximo para dar um apoio a ele. No entanto, a irmã de Chigiri não o aceitava, não o compreendia e tentava fazer de tudo para separa-los, sem perceber que não tinha motivo para isso. E em uma de suas várias brigas, por acidente... Ela o empurrou e ele caiu da escada.

E entrou em estado vegetativo.

E eu, Nagi... Vi toda a cena.

Reo percebeu que Nagi o olhou assustado.

O Kunigami não sabia de nada, Nagi. Eu não tive coragem pra conta-lo. Ajudei a Hikari a levar o Chigiri pro hospital e eu fui testemunha dela para a família, dizendo que havia sido um acidente, o que realmente foi, mas mentindo quando falei que foi a irmã dele. Eu disse que ele caiu sozinho. Eu menti Nagi. Menti pro Kunigami, para a mãe do Chigiri, pro pai dele, pra os meus pais e para todos que eu confiei.

No One P.O.V.

— E porque você não falou a verdade, Reo? — Perguntou, o mais alto, iniciando uma carícia nos fios violetas do menino, lhe passando segurança para continuar o que falava. 

— Eu estava apavorado, Seishi! — Colocou suas mãos em seus ouvidos. — Eu morri de medo aquele dia, odiei aquela sensação de sentir que meu melhor amigo não estaria comigo novamente.

— Ele morreu?

— Não. — Negou com a cabeça. — Mas, mal consegue falar. O máximo que ele consegue fazer é piscar. — Olhou para baixo, sentindo o vazio o percorrer de novo, se sentindo mal pelo que aconteceu. Por um instante se arrependeu de ter contado para Nagi o que havia acontecido, já que o tal poderia contar a Kunigami.

— É uma situação complicada, Reoreo. — Abaixou a cabeça, o encarando. — Mas, veja bem — Organizou sua frase para que não Reo não entendesse de outra maneira. — Bom, eu no seu lugar, contaria para o Kunigami, por que alguma hora ele vai descobrir, sabe? — Reo o olhou. 

— Por favor, não conte a ele.

— Não se preocupe, da minha boca não sai nada. — Garantiu. — Mas veja Reo, é melhor que você conte do que a irmã dele contar, não acha? — O menino negou. — E, realmente, muita gente vai se sentir mal pelo que aconteceu, porque a verdade dói.

— Dói muito, Nagi. — Lamentou, quase chorando.

— Eu sei, meu bem. — Colocou sua mão na bochecha de Reo, alisando-a com seu polegar. — Mas a verdade só vai doer uma vez. A mentira, vai doer toda vez que você lembrar dela. — Beijou sua testa. Sim, ele beijou a testa de Reo. Um surto diferente veio dessa vez. Uma sensação de alívio em união a algo que parecia ser agradecimento. — Se você não se sente bem pra contar agora, pense em fazer isso depois, mas você precisa contar agora, Reo. Não quero que fique com essa sensação de culpa o consumindo por dentro, te matando enquanto você engole as lágrimas para não piorar a sensação.

Reo lhe deu um sorriso sincero, engatinhou até Nagi e o abraçou de joelhos, deitando sua cabeça no ombro do mais alto enquanto ele, que mesmo sentado batia em sua testa. Ele soltou tudo o que prendia, libertando todo o choro que estava preso em sua goela. Nagi o permitiu sentar em seu colo, e Reo ficou ali, no colo do grisalho, recebendo um carinho aliviante enquanto chorava.

— Shh, está tudo bem. — Acariciava seu cabelo. — Luto é algo difícil e nem todos conseguem aguentar, mas é sempre bom ter alguém aqui, não é, Reoreo? — Sussurrava enquanto continuava suas carícias.

Reo deixava as lágrimas o consumirem enquanto apertava Nagi contra seu peito com força. Ele se senti confortável ali, só eles dois e mais ninguém. Sem as meninas chatas ou Isagi ou Bachira, Kunigami, Yukimiya, Zantetsu e até mesmo o próprio Chigiri. Não que aquelas pessoas sejam chatas, mas ter um momento só com Nagi também iria o fazer muito bem, já que noite passada era para eles terem tido aquele momento e não tiveram. 

Reo o conhecia a três dias. Literalmente três dias.  E mesmo assim, havia contado seu maior segredo para ele, sentindo que poderia confiar no mesmo. E confiaria. Não só seus segredos como sua confiança e principalmente: Seu coração.

Naquele momento, Nagi havia conquistado o coração de Reo.

𝐌𝐄𝐔𝐒 𝐏𝐄𝐒𝐀𝐃𝐄𝐋𝐎𝐒  , reonagi [cancelada]Onde histórias criam vida. Descubra agora