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Camila queria passar o resto de seus dias em casa, porém para sua infelicidade, ela precisava ir à feira, comprar comida e outros mantimentos, sua fome era maior que seu medo; além disso, suas tintas estavam chegando ao fim. Camila pegou uma adaga e a escondeu na cintura, pegando uma blusa larga o suficiente para que o tecido pudesse cobrir a prata sem que ninguém percebesse o objeto.

Ela destrancou a porta e lentamente a abriu, colocando apenas sua cabeça para fora e estreitando os olhos, buscando por pelos negros na campina. Quando se sentiu segura, decidiu sair e andou o mais depressa possível, evitando o lugar em que viu o lobo e olhando tudo ao seu redor, parando ao mísero cantar de um pássaro para procurar a adaga e se preparar para usá-la, estava digna de ser chamada de medrosa.

Um suspiro aliviado saiu por entre seus lábios quando chegou na pequena vila, seus passos até a feira se tornaram mais lentos para procurar tudo que precisava com calma e não precisar voltar tão cedo.

Enquanto caminhava em busca de algumas ervas para temperos, escutou as pessoas conversando, assustadas e algumas tomadas de raiva, a fazendo parar e fingir estar ocupada para ouvir.

- Ontem à noite! Eu ouvi, ouvi sim. - uma mulher falou exasperada, apontando para a floresta sem parar.

- Um lobo? A senhora tem certeza? Há muitos animais lá, mas não lobos. De jeito nenhum. - o velho senhor negou.

- Eu também ouvi. Era um lobo sim. Temos que matá-lo antes que tome conta da floresta. - um jovem moço respondeu, tendo concordância da mulher.

- Se invadirem a floresta, logo estaram na vila e estaremos perdidos. - o velho senhor apertou as mãos, incomodado com a possibilidade.

Camila não queria mais ouvir, não queria escutar planejarem a morte do lobo, mesmo com medo da criatura, sabia como os aldeões eram cruéis quando se tratava de proteger seus filhos e suas criações, seria terrível escutar os míseros detalhes da carnificina.
Com a cabeça lotada de coisas, voltou a se apressar e a pegar tudo que faltava em sua lista, se demorando apenas para pegar as cores certas de tinta e um pouco de argila, queria testar algo novo e que provavelmente iria a distrair nas noites de pesadelos ou tempestades. Quando já satisfeita e cheia de bolsas, com uma lista completa, o sol se pondo e a barriga roncando, decidiu deixar a vila; não sem antes se despedir de alguns comerciantes aos quais tinha pego certa amizade e estavam preocupados com seu bem estar, o boato de ter lobos na floresta se espalhou e aumentou em um nível absurdo e rápido, muito pior que fogo em uma campina, deixando-a assustada com tal capacidade.

Camila estava voltando para casa quando, por trás, algo a derrubou. Mal virou o rosto e já se deparou com a besta, entrando em choque. O lobo, após lhe derrubar, deitou o corpo ao lado da garota e, após alguns minutos, soltou um grito agudo e assustado quando sentiu um tapa em seu rosto. Aparentemente, o estado de choque de Camila não demorava muito tempo e sua mão era bem pesada.

- Espero que te peguem! - exclamou, seu tom era uma mistura de ódio e medo, ainda assustada com a proximidade da criatura. Seus olhos encheram de lágrimas, não sabia se iria ser deixada livre desta vez ou o que o lobo preparava para ela.

A garota, já sentada, se arrastava devagar para longe, pegando a adaga em sua cintura e tentando ao máximo deixar as bolsas longe de seu caminho, para que não a atrapalhassem caso precisasse correr. O lobo permanecia deitado, a encarando enquanto esta chorava e lhe desejava a morta, enquanto apontava a adaga com as mãos trêmulas e enquanto sujava suas roupas se arrastando na terra. Se pudesse falar, de algum jeito conseguir se comunicar com a garota, provavelmente a mandaria calar a boca e ser mais corajosa, ainda assim não a julgava ou esperava que a aceitasse tão bem e de maneira tão fácil quanto gostaria que fosse, a única coisa a qual poderia fazer era esperar, esperar e esperar.

- Se não vai me machucar, por que não vai embora? - Camila resmungou chorosa, procurando por pedras ou qualquer coisa que pudesse jogar no lobo. - Está com fome? - perguntou, parando de se arrastar no chão, seria uma ideia brilhando distrai-lo com comida, porém provavelmente o faria voltar várias vezes. Sua cabeça estava fazendo um grande nó com tantas possibilidades e ideias idiotas.

Por fim, Camila cedeu e tateou por uma das sacolas, encontrando algumas frutas as quais havia escolhido com tanto cuidado, pegou algumas e jogou no lobo que apenas resmungou e desviou, mal cheirando os alimentos jogados ou demostrando qualquer interesse neles.

- Jura? Qual é! Mal agradecido, fresco. - voltou a resmungar, agora tentando o espantar com o resto das frutas que sobravam na sacola. Sem sucesso. Suas ideias eram péssimas e nenhuma funciona, certamente não tentaria se levantar e sair como se a besta não estivesse ali; não daria as costas para um lobo nem se quisesse morrer, mas ainda queria tanto chegar em casa e conseguir respirar tranquilamente, se trancar e torcer para que os aldeões encontrassem-no logo. - Vamos ver... - sabia onde estava e sabia que iria demorar, todavia chegaria em casa segura e sem dar as costas para o lobo, iria apenas se arrastar até a porta e esperar que a criatura não lhe enxergasse como uma presa em determinado momento.

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