Will-o'-Wisp | Camren

4

Camila acordou sobressaltada no meio da noite, o peso em sua cama e os resmungos inquietos a deixaram completamente assustada e quase a fizeram cair da cama. Como se já não bastasse roubar suas cobertas e deixá-la dormir com frio, o lobo agora estava sentado em sua cama olhando fixamente para a janela, inquieto.

- Que diabos? Xô, xô, xô... - resmungou sonolenta, sacudindo a mão em direção ao animal, que não se movia nem para olhá-la. A garota soltou um som em frustração e olhou para a janela, vendo as luzes flutuantes na floresta. - Odeio vocês. - murmurou automaticamente e se esticou até a janela, destrancando-a. - Vai lá com seus amiguinhos, vai, saco de pulgas. - O lobo não se moveu, apenas soltou um resmungo antes de soltar um longo uivado. - Qual é... - choramingou, cobrindo os ouvidos com um travesseiro e chutando o lobo para fora da cama, que caiu em um estrondo.

Segundos de vitória viraram seguidos de resmungos, o lobo voltou para cama e continuou uivando, mesmo quando Camila voltava a derrubá-lo ou fechava as cortinas, as luzes flutuantes dançavam e provocavam o lobo mesmo através do tecido, como se pudessem sussurrar e o chamar para a floresta.

- Por que você não vai? - perguntou impaciente, encarando as luzes. - Te fizeram mal também?  - indagou mesmo sabendo que o lobo não responderia. Camila sabia que as luzes logo sumiriam e agradecia por isso, pois não achava que aguentaria escutar o lobo a noite inteira uivando e resmungando sob sua cama. Com a cabeça doendo de sono e os olhos quase se fechando, Camila deitou novamente na cama e pôs o travesseiro sob o rosto, desejando pegar no sono o quanto antes.

⊱⋅ ──🐺── ⋅⊰

Se soubesse onde havia deixado cair sua adaga, provavelmente seria um ótimo momento para usá-la. O lobo, o qual Camila pensava agora se poderia o chamar assim, pois estava mais parecendo um vira lata a um dos maiores predadores do mundo, estava deitado em seus pés enquanto roncava. Sim, roncava. E, quando a garota se mexeu para chuta-lo, o animal apenas se levantou e se aproximou de seu rosto, a lambendo.

- Deus, eca. - choramingou, empurrando-o. Estava com tanto sono que não tinha pensado sobre os dentes ou o quão perto ele estava de si, apenas queria enterrar a cabeça no travesseiro e dormir o resto do dia. Até tentou voltar a cochilar e por meros minutos pensou que estaria tudo bem, até o lobo lhe puxar o travesseiro. - A porta está aberta, vá embora. - disse de olhos fechados, deixando que o lobo lhe roubasse também o travesseiro, como se já não bastasse as cobertas amontoadas no chão.

O lobo resmungou, latiu e, por fim, pulou sobre Camila até que está soltasse um som frustado e levantasse da cama com os olhos em chamas, o xingando enquanto caminhava até o banheiro. O lobo até pensou em segui-la porém a porta bateu tão forte que o fez estremecer, sabendo que talvez tenha acordado a garota cedo demais.

- Hora de ir. - Camila andou até a porta, a abrindo por inteira enquanto olhava para o lobo. - Anda! - gesticulou com as mãos, novamente soltando um som frustado e indo para a cozinha. Aparentemente, tinha um novo colega de quarto indesejado.

Cabello preparou seu café e arrumou as compras que havia jogado na noite anterior, separando algo para dar ao lobo que, milagrosamente, aceitou. E não, não deu mais frutas a ele ou tentou acertar sua cabeça com o alimento.

Quando terminou, arrumou tudo e decidiu sair na tentativa de fazer o lobo a segui-la, obviamente sua tentativa foi frustada. Já poderia arriscar dizer que não tinha mais medo dele, a não ser que mostrasse os dentes ou ficasse a encarando por mais de cinco minutos, o que claramente a faria deixar a casa todinha para ele. Poderia fingir que a criatura fosse apenas um fantasma, dividindo o cômodo com ela, um fantasma barulhento e com um hálito horrendo.

Após se dar totalmente por vencida, foi para o banheiro e se estivesse em um desenho animado certamente haveria uma lâmpada em cima de sua cabeça, a fazendo abrir um sorriso gigante.

- Vem cá. - chamou-o e mais uma vez foi totalmente ignorada, a fazendo pegar uma toalha qualquer e caminhar até o lobo. - É apenas um banho, vai tirar seu cheiro de lixo. - implorou, jogando a toalha na cabeça do lobo e o puxando pelas patas. O animal estava quase se dando por vencido. Quase. - Vamos garoto. - incentivou e o lobo simplesmente resmungou, travando no chão. - Qual é o problem... Oh! - franziu a testa, como não havia se dado conta? - Vamos garota! - tentou e a loba se levantou, escapando de suas mãos e indo até o banheiro, a fazendo rir. - Sinto muito se magoei seus sentimentos. - brincou e a seguiu, parando na porta ao perceber que teria um grande trabalho.

Como previsto, a loba mal foi posta em baixo da água e já começou a se sacudir e a uivar, deixando Camila com cheiro de cachorro e toda molhada. Com a mão trêmula, a estendeu quase no focinho da loba, para ter certeza que não a morderia assim que tocasse nela. O animal lambeu sua mão e Camila podia jurar que ela sorria, talvez fosse coisa de sua cabeça.

- Você vai acabar com os meus shampoos. - fez beicinho, pegando os produtos que tinha e indo até ela, não perdendo tempo para ensaboá-la e, em troca, ganhou várias lambidas no rosto. - Você é uma loba estranha. - tirou sarro ao vê-la fechar os olhos enquanto Camila a massageava, espalhando bem o produto. Novamente, a loba se sacudiu, a derrubando e deixando espuma por todo lado. Camila fez uma careta, a empurrando para debaixo da água novamente. - Vou ficar com cheiro de cachorro por duas semanas.