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O lobo se arrastava junto a ela, mesmo que ela esperneasse e acertasse pêssegos em seu corpo, ele continuava seguindo-a, aparentemente, de modo debochado pois se arrastava junto; algumas vezes, bocejando. Em alguns momentos, a criatura parava de acompanhá-la deixando uma distância agradável antes de pular para perto de Camila de novo, a assustando e acabando com suas pequenas esperanças enquanto a ouvia praguejar.

Camila estava confusa quando finalmente chegou a porta, dividida entre correr para dentro de casa ou tentar distrair o lobo novamente para que pudesse entrar. A opção escolhida foi a primeira e, obviamente, não deu muito certo. O tempo que perdeu se levantando e correndo para dentro foi o suficiente para o lobo entrar também e, depois de um grito desesperado, Camila fechou o lobo dentro de sua casa sem querer.

- Droga, droga, droga.. - balbuciava, segurando a porta como se de alguma maneira a criatura fosse abri-la. Sua mente trabalhava em alguma coisa que pudesse ajudá-la a se livrar do lobo, mas o barulho de coisas de partindo dentro de sua casa era tão alto que a impedia de planejar alguma coisa. - Saco de pulgas idiota. - resmungou, batendo na própria porta em uma tentativa de fazer o lobo parar. - Se chegar perto dos meus quadros eu vou usar minha adaga em você! - exclamou e, em seguida, jurou ter ouvido a besta parar por alguns instantes antes de arranhar as paredes.

Raiva borbulhava quando Camila deixou a porta, indo pegar suas compras largadas no chão, gostaria de voltar a aldeia se pudesse mas infelizmente não tinha coragem de atravessar a floresta no escuro e a noite já estava tomando conta aos poucos do céu, dificultando que enxergasse. Com as sacolas na mão, voltou para perto de sua casa e a encarou. Perderia a casa para um lobo? Não, não mesmo. Não deixaria a besta dormir em sua cama enquanto ela ficava com medo do lado de fora, no frio e prendendo-no no único lugar que considerava seguro.

Camila soltou as sacolas perto da porta e a abriu, esperando um lobo desesperado sair correndo para que pudesse entrar mas, como nada estava a seu favor, isto não aconteceu. Contendo alguns palavrões, ela espiou e, se fosse possível explodiria de raiva ao se deparar com um lobo sujo de tinta branca encarando-a, sua cama dessarumada com os cobertores no chão, amontoados como um ninho e seus quadros, seus queridos quadros, espalhados por todo o pequeno cômodo. O lobo, decidido, marchou até o ninho próximo a cama, deitando sobre os cobertores de Camila, deixando um rastro de tinta por onde passava.

A cabana a qual morava não era tão grande, havia apenas três cômodos aos quais apenas o banheiro tinha uma parede para dar certa privacidade (seja lá qual privacidade Camila gostaria, já que ninguém a visitava), seu quarto se tornara uma sala e seu ambiente de trabalho e, no outro cômodo, dividido por um pequena bancada, ficava a cozinha. A cabana era bem iluminada, possuindo muitas janelas as quais Camila quase sempre evitava de fechar com cortinas porém havia apenas uma porta. Apenas uma.

Fechá-la consigo dentro poderia resultar em duas coisas as quais não a contentavam; a primeira seria acabar de uma vez por todas com o lobo, onde nenhum dos dois teria para onde correr; ou então o lobo não a devoraria como pensava e talvez na manhã seguinte se cansaria de ficar trancado na casa e fosse embora por vontade própria. Porém Camila precisava ter coragem para ambas.

As estrelas já salpicavam o céu e a floresta não passava de um borrão negro, não sabia quanto tempo havia perdido encarando a porta na esperança de ver o lobo sair mas, quando finalmente decidiu entrar vencida pelo cansaço, Camila optou por jogar as compras para dentro primeiro, para ver se o lobo ousava ao menos levantar. Uma a uma, ela jogou todas as sacolas para o meio do cômodo e nenhuma chamou a atenção do animal, o que encorajou-lhe minimamente a entrar.

Por segurança, decidiu deixar a porta entreaberta, caso ela ou o lobo decidissem sair ou seja lá quanto tempo até toda sua sanidade ir embora. Camila olhou para a cozinha e para sua cama, tentando decidir um lugar para que pudesse dormir sem acordar cuspindo sangue e com dentes no pescoço. Entre resmungos e preces, Camila pegou uma vassoura e foi até o lobo, tentando tirá-lo de seus cobertores sem deixá-lo irritado mas, a única coisa a qual conseguiu, foi mover com dificuldade os cobertores para longe de sua cama enquanto a besta lhe encarava com os grandes olhos verdes mortíferos.

Com a adaga na mão, a garota deitou na cama, sem tirar os olhos do animal e sabendo que sua noite seria uma das piores de sua vida. A criatura estava aquecida em seus cobertores, segura em seu novo ninho e ainda assim não conseguia parar de encarar a garota até que está caísse no sono, soltando o objeto de prata que segurava com tanta força por horas.

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