Quando percebemos um padrão na naturalidade das coisas, a natureza tende a desencaixar. Quando reparamos que as ondas geralmente são calmas pela manhã, um certo dia, elas estarão furiosas e irão se contradizer, a própria natureza tende a modificar-se. Nada vivo sempre é o que um certo momento foi. E, a partir daí, nascem as memórias, as recordações do que era e do que é hoje.Jimin tem inúmeras memórias relacionadas à praia, incontáveis com a natureza, algo que reflete, mas que não tem o conhecimento necessário para dizer que se sabe de algo. Adora pescar, cada peixe é uma vitória e uma massagem em seu ego provando a si mesmo que conseguiu. Ama observar a lua, a claridade do sol que brilha muito e chicoteia os olhos, além de admirar o céu imensamente azul e quando as nuvens marcam presença, vê-las se movimentando.
Não obstante, sentir a euforia que a noite fornece também é uma de suas maiores paixões. A vida noturna, assim como a natureza, o prende totalmente à vida. O motiva a continuar existindo.
É um verdadeiro amante do que existe. Ele pertence ao mundo.
Prova disso é ver Jungkook quase esfolando o controle do Xbox, por estar perdendo no Mortal Kombat 11. Irá se tornar uma das melhores memórias em sua caixinha mental.
— Não vale! Esse personagem é apelão! — ergueu a voz, evidenciando seu nervosismo.
Jimin ria. Ria de Jungkook, na cara da sua plena derrota.
— Aceito lágrimas para beber, tem um copo ali — apontou.
Ele cometeu o erro de olhar, e levou mais uma surra inesperada. Jimin conseguiu atingir o fatality, e em seguida aplicar o golpe final com uma velocidade nos dedos indescritível.
— Eu te odeio.
— Foi uma derrota memorável.
— Não sabia que você sabia jogar.
— Mas eu sei.
— É, eu percebi.
A cara emburrada era a nova lei. Quem passasse pela cozinha e fosse até a sala veria aquela expressão concentrada, ao mesmo tempo que irritada de Jungkook. É óbvio, seria um belo momento para se recordar em qualquer outra situação tipo numa conversa com Hoseok sobre as habilidades dele com o controle.
— Vai com o que você joga melhor e tenta vencer. Vou pegar leve — Jimin propôs.
— Ninguém vence o Johnny Cage com você controlando. Eu estou muito puto.
— É, eu percebi — o sorriso de canto.
O ódio era falso, claro. Jungkook não o odiaria verdadeiramente apenas por ter perdido seis vezes seguidas nos kombats. No entanto, odiava com certeza o personagem Johnny Cage e se pudesse, entraria no jogo somente para quebrá-lo na porrada e dar um fatality ainda não apresentado no jogo.
Imaginou, por um curto instante, como seria ser controlado dentro de um jogo por Park Jimin. Os movimentos aleatórios que ele faria com os botões só para algum golpe que nem sabia da existência acontecesse.
— Cansei desse jogo, ele é roubado. Está no seu Xbox.
— Ah, lógico. Modifiquei tudo para que no fim eu pudesse vencer Jeon Jungkook. Que tarefa difícil...
— Estou me sentindo ofendido — fez um beiço.
— Ah, perdoe-me então.
Jungkook, assim como os costumes de Jimin, revirou seus olhos quase que teatralmente. Irritado demais para admitir que joga realmente mal comparado a Jimin.
Entretanto, o assunto mudou rapidamente para, com certeza, algo mais sério: Game of Thrones, e o suposto lançamento de House of the Dragon em 21 de Agosto. Estava perto, e eles estavam mais ansiosos que nunca.
Subitamente, uma verdade indecente era a seguinte: Jungkook queria assistir a série com ele, reagir aos episódios com ele. Mesmo sabendo que, a plataforma seria muito sacana, ao ponto de lançar um episódio por domingo, como fez com outras séries.
— Me diz, você sempre gostou de Imagine Dragons? Ou teve uma razão específica para você passar a gostar? — Uma pergunta totalmente aleatória, sem aviso prévio.
Jungkook, de início, estranhou o rumo que tomou, mas por alguma razão, achava que a resposta talvez fosse importante para Jimin.
— Tive razões. Mas por quê?
Jimin olhou para o canto do sofá, um pouco mais retraído, e ficou quieto. Olhou novamente para Jungkook.
— Acho que com o tempo, nós escolhemos aquilo que mais nos identificamos em cada situação — Refletiu.
Um cenho franzido de Jungkook foi o que recebeu.
— Me explique, não sou tão inteligente quanto você.
Ele riu.
— Por exemplo, você passou a gostar de Imagine Dragons por certas razões. Embora elas sejam pessoais, suponho que foi no momento em que você perdeu seus pais. É o que a maioria das músicas deles transmitem: força, coragem e uma dose de motivação para que você continue seguindo em frente.
Apesar de ter entendido, não sabia em que ponto Jimin queria chegar com aquilo. Então, apenas continuou ouvindo:
— Quero dizer, sei lá. É meio previsível existir. Não existe algo nesse mundo que alguém não fez ou não passou ainda, é tudo uma questão de concepção. É tudo momentâneo. Até mesmo quem somos.
— Sim, concordo com você. Mas, na questão da existência, você errou.
O queixo erguido, um sorriso de canto formando, sobrancelha arqueada. Foi refutado.
— No que, exatamente, eu errei? — A arrogância de um sabichão.
— Nunca ninguém como você existiu, e nunca ninguém como eu existiu. Como pode não ter sobrado o que fazer nesse mundo, sendo que acabamos de chegar nele?
— Talvez já tenhamos chegado há um tempo, Jungkook. Já pensou nisso? Na possibilidade de que talvez, em alguns séculos atrás, eu e você já tivéssemos nos conhecido e sentido as mesmas coisas que sentimos agora, mas com nomes diferentes?
— O que você supõe é a reencarnação, e você é cético demais para isso. Estou começando a ficar assustado.
— Bobagem, é apenas curiosidade. Tipo aqueles momentos em que deitamos na praia e refletimos sobre tudo.
Jungkook pensou por uns instantes.
— Nunca fizemos isso — induziu — Vamos?
— Agora?
— Por que não?
— Bem, pode ser.
Jimin tinha alguns surtos espontâneos dos quais subitamente, pensava sobre tudo. Por quê aquilo existia, por que somos quem somos, por que tudo é o que é? Talvez, a profundidade dos estudos em filósofos mexeu com a sua cabeça.
Na realidade, ele não faz nem ideia do por quê esses surtos repentinos o acompanharam durante todos esses anos, mas também nunca deixou de dar a devida atenção a isso.
Procurar uma resposta para todas as perguntas é algo impossível, mas era o que pretendia todas as vezes que isso acontecia, eliminando uma por uma. Até sobrar, somente, Jungkook e ele na beira da praia, olhando para o nada, e comentando sobre as músicas mais sujas de The Weeknd. E o quanto, definitivamente, eles amavam essa banda.
— Eu com certeza vou cantar "Blinding Lights" por ele, se ele não cantar — Jimin comentou.— Fique tranquilo, provavelmente ele vai. É a música mais famosa.
Passaram alguns minutos assim, olhando para o céu e pensando em como seria vivenciar uma das experiências mais incríveis da vida. E não ousaria negar, que estar no show de The Weeknd não seria incrível.
— Céus, como isso é possível?
Jungkook, até então deitado em cima do braço esquerdo, olhou para Jimin.
— O que?
— Estamos deitados aqui, juntos, papeando sobre qualquer coisa só para nos vermos. Você é super interesseiro.
— Ah, que papo é esse agora? Eu sou interesseiro? Sério?
— Sim, você é.
Sem mais nem menos, Jimin rolou para cima de Jungkook, e começou a beijá-lo. Sem enrolações agora, sem medo, sem sustos, foi por querer.
Jungkook encontrou-se confuso em seus pensamentos, mas por nenhum instante tentou parar Jimin. Mataria para que isso acontecesse de novo, e de novo. Não é agora que daria para trás.
De repente, aquele suposto receio que Jimin tanto enfrentou naqueles dias havia desaparecido em uma só noite, e ele conseguiu aproveitar não só a companhia de um garoto espetacular como tudo o que sua boca tinha a oferecer.
Porra! Foi o pensamento de Jimin.
Ele nunca tinha parado para pensar no quão bem Jungkook beija, e nem se importa em quantos beijos ele teve que dar para chegar nesse nível, até agradeceria, se não fosse meramente imprudente. Acordar com um beijo desses toda manhã não é uma ideia tão ruim.
A coisa evoluiu, Jungkook segurou em sua cintura e agora Jimin estava sentado em seu colo. Houve um aperto. Gemidos em resposta. As pernas agora bem flexionadas calaram as dúvidas incômodas e inseguras de Jimin: sim, ele estava gostando.
Respiração ofegante, coração acelerado, as mãos inquietas passeando pelo peito bem definido, e de repente, se direcionando aos cabelos magníficos. Droga! Até o álcool deixou de ser necessário, estava na hora, ele conseguia sentir que não iria mais resistir.
Levou, ousadamente, uma das mãos até onde considerava uma área proibida, embora desejada. Tocou, e teve reação. Uma dura reação.
— Porra, não faz isso — Resmungos, gostou do que ouviu. Fez de novo — Jimin!
Risadinhas maliciosas em resposta, não queria parar. Foda-se caso uma velha tarada observasse da janela a cena pornográfica acontecendo em praia pública, tudo acontecia durante a noite.
— Eu quero você, Jungkook — Um golpe baixo. Sussurro no ouvido deveria ser considerado crime.
Não conseguiu lutar, seus olhos fecharam, sua pele arrepiou. Jimin poderia fazer qualquer coisa, estava vulnerável.
Distanciou-se de seu rosto, se aproximou novamente na tal área proibida e mandou a merda a proibição com a boca.
Até a idosa pervertida ficou um tanto surpresa com a ação espontânea, e relembrou do auge de seus 21 anos. Boas memórias.
— Jimin! Aqui não... — Não havia do que reclamar, estava bom.
— Por que não?O surfista gaguejou, e mostrou-se mais confuso ainda. Um tempo atrás, Jimin o ignorava, e agora, bem, estavam a um passo de transar.
— Qualquer um pode ver...
— Ah, foda-se isso — A doçura desaparecia, conforme a malícia surgia.
E de fato, foda-se. A idade permitia, o momento também, até mesmo o lugar. Escuro, calmo, vazio. Quantas vezes na vida você pode dizer que fez sexo oral em Miami Beach, com um surfista gato que comprou ingressos para o show do The Weeknd para você?
O mar encobria os sons, os gemidos. A noite escondia os corpos, embora a lua iluminasse parte deles. O calor ajudava a sustentar a ausência de roupa naquela área e a toalha no chão permitia que a areia não incomodasse.
Foi uma noite, devidamente, inesquecível.
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Paradisíaco • Jjk + Pjm
De TodoSe mudar para Miami, definitivamente, não estava em seus planos. Park Jimin odeia mudanças, e se adaptar em um local tão diferente seria um desafio. Entretanto, ironicamente, pessoas incríveis surgiram em sua vida, tornando aquele tormentoso sentime...