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Anna Vega.

O calor de Los Angeles era muito parecido com o do Brasil, então, foi realmente a única coisa que eu não senti falta quando acordei no meu primeiro dia pós-férias. O que era estranho, pois já estávamos no final do ano.

Eu tinha um compromisso nos estúdios da Waner Bros. em LA: precisava pegar o script do roteiro do próximo filme e assinar o contrato, assim fechava logo o negócio. Era mais um filme de ação, mas estava confiante de que seria divertido e proveitoso a experiência, uma vez que estar em Hollywood estava me sobrecarregando muito. Filmes conceituais, participações em séries, todos muito dramáticos. Precisava me divertir, pelo menos uma vez.

Saí do banho com a toalha amarrada acima dos peitos e olhei o relógio, tomando um susto. Tinha que estar lá 10:30, mas já eram 10:15.

- Ai, merda...

A viagem havia sido cansativa, pelos menos quinze horas de vôo. Tive a sorte que a doméstica cuidou bem de casa, encontrei ela impecável. Apenas deitei e dormi, mas nem mesmo o compromisso com o sono me impediu de acordar a tempo.

Fui até o quarto e me arrumei com pressa, pegando a primeira roupa que encontrei: uma camisa do meu time de futebol favorito - que aliás, é o Santos Futebol Clube - e um short jeans cintura alta. Para os pés, um tênis vans preto. Óculos escuros para esconder as olheiras de uma noite mal dormida e os meus cabelos arrumados num coque bagunçado - sim, bem fanfic da minha parte. Não me dei o luxo de tomar qualquer café, decidi que pegaria um na cafeteria do estúdio quando saísse da reunião e pronto. Apenas escovei os dentes, peguei as chaves do carro e vazei.

Talvez eu tenha arrumado algumas multas, mas definitivamente não iria me atrasar mais do que já estava atrasada.

O trajeto todo levou uns 20 minutos. Cinco minutos atrasada, para ser mais exata. Tentei passar com pressa pela portaria mostrando o crachá e o horário do meu compromisso, com a sorte de que os porteiros foram compreensivos e bem rápidos, não demorando para que eu estacionasse o carro perto da entrada do prédio em que eu entraria. Desligando o veículo e saindo de qualquer jeito, comecei uma corrida contra o tempo até a sala onde eu faria tudo isso. O meu telefone tocou, eu sabia que era a minha empresária mas não ousei atender. Meus tênis chiavam pelo piso dos corredores enquanto eu andava rápido. Quando finalmente cheguei na porta da sala, agradeci a Deus. Abri a mesma e me deparei com um rapaz de costas. Ele parecia estar recebendo seu próprio roteiro e conversando sobre com a diretora, Greta Gerwig. Depois de um tempo escutando a conversa, reconheci a voz.

Ryan Gosling.

Hollywood inteira sabia qual era o seu novo comportamento desde a separação. Talvez fosse o cara mais rodado em Los Angeles, não havia alguém da classe de atrizes que não tivesse experimentado o que ele tivesse a oferecer na cama. Talvez, fosse uma forma de preencher o vazio que Eva Mendes tinha deixado na sua cama, ou simplesmente estava querendo experimentar todo o tipo de mulher depois de tanto tempo casado. De toda forma, conhecia o tipo cafajeste dele. Havia um problema: eu era apaixonada em homens cafajestes, mas qualquer tipo de jogo de sedução era interessante para mim. O mais velho de 1,84 metros de altura percebeu a minha presença atrás dele e olhou na minha direção. Quando seus olhos me encontraram, foram da minha cabeça aos meus pés com um sorriso que somente um cafajeste saberia dar. Retribuí o sorriso, revirando os olhos. Sabia muito bem onde isso poderia acabar.

O mais velho deu espaço para que eu pudesse entrar na sala e chegar na mesa. Greta entregou o roteiro na minha mão, com um sorriso amigável. Talvez, ela mesma tenha percebido o clima que a sala ganhou com uma simples troca de olhares. A única surpresa foi encontrar aquele safado na sala de roteiros.

- Bom dia, Greta. Desculpa a demora, acabei de voltar do Brasil. Quinze horas de vôo, duas horas de fuso horário. Minha cabeça ainda tá se colocando no lugar... - Falei, pegando o bloco cheio de páginas.

- Tudo bem, Anna - ela disse, enquanto separava os outros roteiros - Aliás, acabamos de fazer o teste pro par romântico da sua personagem. Acho que você já percebeu quem vai ser.

Só podia ser brincadeira.
Olhei novamente para Ryan, que me olhava com um sorriso presunçoso. Ele estendeu a mão para me cumprimentar, colocando os óculos escuros no topo da sua cabeça.
A pior coisa num homem gostoso é ele ter consciência de que é gostoso.
Ele usava uma camisa regata que dava uma visão privilegiada dos seus músculos e uma calça moletom, que fazia até a mais pura das mulheres pecar mentalmente.

- Vai ser um prazer trabalhar com você, Anna. As pessoas falam muito bem de você, sabia? - Ele disse, com um sorriso sugestivo - Sabe, algo me diz que a gente vai ter muita química.

Balancei a cabeça negativamente, dando outra risada. Ele era exageradamente descarado, sua linguagem corporal gritava flerte. Sua respiração era um convite pra cama dele, mas homens desse jeito eu gostava de brincar. Arqueei uma das sobrancelhas e segurei a mão dele para cumprimentá-lo, olhando-o nos olhos.

- Química a gente constrói, depende de como vai ser entre nós - falei, num tom provocativo.

- É melhor a gente ter, você vai entender quando dar uma olhadinha no roteiro... - Ele sussurrou, desviando o olhar para Greta, se certificando de que ela não estava prestando atenção.

A voz dele ao meu ouvido trouxe um arrepio, que fez ele sorrir vitorioso. Como podia ser tão... Cafajeste?!
Olhe para o loiro como se o fuzilasse com os olhos, arrancando uma risadinha dele.
Greta deu algumas informações sobre o início das gravações e avisou para nós passarmos no jurídico para assinarmos os contratos da gravação. Antes de sairmos da sala, a loira falou:

- Ah, às sete horas vai ter uma social pro elenco se entrosar, sabe? Assim eu vejo logo quem se odeia, quem se ama e faço os ajustes no roteiro... - Ela disse rindo - E do jeito que vocês estão, talvez acabem se amando e se odiando bem rápido.

Ryan deu uma risada e eu revirei os olhos. Era impossível suportar um ambiente com ele se você era uma presa, ainda mais quando a presa era previsível. Só não sabia até onde eu iria resistir, considerando que ele era um dos únicos americanos que realmente tinha algum poder de sedução para qualquer mulher.
Apressei o passo para que ele não viesse atrás, mas como as pernas dele eram maiores, não demorou muito para que ele chegasse na mesma velocidade que a minha.

- Você é muito ruim em fingir que não quer, Anna - ele disse, com um tom debochado.

- Ou você não aceita a ideia de que eu posso não querer ir pra cama com você... - Sugeri, com o mesmo tom de deboche na voz.

Ele arqueou uma das sobrancelhas, colocando as mãos nos bolsos da calça moletom. Claro que eu estava mentindo, mas quem sabe se ele se humilhar por mim a nossa química não fique mais promissora.

- Isso vamos ver... - Murmurou ele, chegando junto comigo na sala do jurídico. Com um cavalheirismo oportunista, ele abriu a porta - Damas primeiro.

Revirei os olhos e entrei, sentindo os olhos de Ryan rolarem pelo meu corpo novamente atrás de mim. Assim que passei, ele fechou a porta e foi atrás. Minha empresária e o dele estavam presentes, mas por mera formalidade. Logo assinamos os papéis e fomos liberados, assim como nossos empresários que não trocaram mais que uma meia dúzia de palavras com a gente. Já no caminho do estacionamento para pegarmos nossos carros, Gosling me acompanhou até o meu carro e colocou os óculos no rosto.

- Te vejo na social da Greta ou você vai se fazer de difícil ainda? - Ele perguntou, com um sorrisinho malicioso de fazer qualquer uma tremer as pernas.

- Talvez - respondi, arqueando uma das sobrancelhas. - E você deveria ser mais discreto, não acha?

- Nah, eu sei da minha fama - Ryan confessou, pegando a chave do seu próprio carro se afastando - Até mais tarde, Anna Vega. Eu vou te convencer.

- De quê?

- De ir pra cama comigo, ué - ele disse se rasgando de rir.

Como eu disse, a pior coisa do mundo é um homem que sabe que é gostoso. Porque eu também tinha certeza que em algum momento esse cafajeste iria me convencer e eu acordaria na cama dele.

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