Novo lar

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Um calafrio percorria seu corpo; uma sensação de que iria desmaiar a qualquer momento dominava todo o seu ser. Você se encontrava no corredor longo, escuro, frio e tão familiar. Olhou para suas roupas e viu que estava vestindo uma camisola branca que batia em seus joelhos, uma regata cheirando a roupas velhas. Caminhando descalço pelo corredor, seus pés coçavam, vibrando de uma parede para outra. Continuando a caminhar, avistou um elevador no final do corredor, despertando sua curiosidade e medo. Parou em frente a ele e viu a porta pesada de ferro se abrir, revelando um cheiro moribundo que revirava seu estômago. As paredes do elevador estavam cobertas com manchas pretas, amarronzadas e vermelhas, um vermelho vivo. Escutou uma voz aguda familiar chamando por você pelo corredor. Seus olhos se abriram rapidamente, despertando de toda aquela sensação tenebrosa. Ao olhar para o lado, viu pequenas mãos de seu irmão mais novo te cutucando desesperadamente, dizendo que chegaram. Você respondeu com um resmungo, tentando raciocinar toda a situação. Ao olhar pela janela do carro, deparou-se com um tempo chuvoso, mas fresco, seu irmão ao seu lado, e seu pai dirigindo o carro. Ah, sim, você estava de mudança para uma nova cidade. Foi difícil se acostumar com a ideia depois de tanto tempo no mesmo lugar. Limpando a garganta, olhou para a janela e disse sonolentamente: "Ah, chegamos." Um prédio grande estava à sua frente, sob a chuva e o céu cinza. Seu coração acelerou ao pensar nas mil e uma possibilidades de como seria sua nova moradia. Inspirou fundo, abriu a porta do carro para você e seu irmão saírem, aproximando-se juntos, de mãos dadas, da calçada do prédio, encarando-o de cima a baixo.
Na mesma hora, os dois se encararam pensativos, mas aceitando a situação. Parecia um lugar sério.

- Aqui é tão triste! - o caçula disse, olhando para você com aqueles olhinhos redondos.

- Impressão sua, Milo. Apenas o dia chuvoso te dá essa sensação - você disse sorrindo, tentando ignorar o fato de que concordava com ele. Seu pai logo a chama para ajudar a carregar todas as mudanças, junto com o caminhão que havia parado alguns minutos depois de estacionar o carro.

- Filha! Leve sua mala e a do seu irmão de roupa primeiro e depois volte para ajudar aqui em baixo.

Afirmando com a cabeça, você foi até o carro, pegou as duas malas e entrou, caminhando devagar no grande prédio. Um longo corredor estava à sua frente, com paredes levemente amareladas e portas aparentemente antigas, algumas pintadas e outras não. Depois de pegar a chave do apartamento no balcão, sua ficha realmente havia caído; tudo que você viveu na sua antiga cidade ficou para trás. Indo em direção ao elevador, repetia o número do seu apartamento para não esquecer. Entrando no elevador, uma sensação diferente percorreu seu corpo, um déjà vu intenso, e você logo se viu no mesmo elevador do maldito pesadelo. Enquanto a porta se fechava, o corredor obscuro era visualizado da mesma maneira que estava no sonho, e em um piscar de olhos, tudo voltou ao normal. Olhando em volta, tudo estava ocorrendo normalmente bem. Você engoliu seco e apenas deixou a sensação escapar em um suspiro, observando os números de cada andar mudando até chegar ao seu. A porta logo se abriu, e pegando a mão do seu irmão, você observava de porta em porta até achar o número correspondente ao seu novo lar. O barulho do encaixe da chave destrancou a porta, e logo um ar frio percorreu seu corpo. Seu irmão explorava rapidamente cada cômodo, animado com a situação, enquanto você apenas observava os pequenos detalhes lá. Deixando as malas largadas em um dos quartos, vocês dois desceram rapidamente para começar a mudança, a grande mudança.
Se passaram pelo menos uma hora e meia indo e voltando, levando grandes e pequenas caixas. Você estava exausta; a única coisa que queria agora era se jogar em sua cama e dormir por três dias seguidos. As coisas importantes já estavam montadas, o que era um grande peso a menos nas costas, mas pensar em arrumar todas as suas roupas, peça por peça, e colocar todo o quarto em ordem cansava só de pensar. O sol já estava se pondo, e a noite aparecia.

- (Seu nome)! Vamos brincar! Por favor.

Seu irmãozinho ainda mantinha muita energia acumulada, o que te deixava impressionada.

Ah, Deus, Milo, estou exausta! Amanhã brincamos, ok? Ainda temos muita coisa para arrumar.

Você dizia enquanto ia em direção à cozinha até seu pai, que parecia ainda ocupado em arrumar tudo em pequenos detalhes.

- Pai, ainda temos amanhã! O que vamos comer hoje?

Na mesma hora, seu pai parecia ter despertado de um transe intenso.

- Que horas são?! Ah, filha, me desculpe, achei que ainda era cedo.

Você riu com a reação do mais velho enquanto se sentava na mesa de jantar.

- Vamos pedir uma pizza! Por favor!

Na mesma hora que o caçula ouviu, foi correndo para a cozinha rapidamente, animado com a ideia.

- Isso, papai! Vamos pedir pizza, por favor!

- Ok, Ok! Vocês venceram, vamos pedir sim.

O mais novo logo se viu mais animado que antes enquanto comemorava. Você, pelo contrário, estava morta de cansaço, mas apenas deu um sorriso em sinal de vitória; ninguém estava afim de cozinhar. Após pedir a pizza, o apartamento estaria silencioso se não fosse seu irmão brincando com um pequeno aviãozinho para lá e para cá. O interfone é tocado logo avisando que o pedido havia chegado. Você desceu rapidamente para pegar o pedido. Subindo com a pizza, você viu dois garotos no corredor com algo na mão. Um de cabelo longo e azulado e baixo, e outro alto de cabelo longo e castanho.

𝐸𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑚𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠- 𝑆𝑎𝑙𝑙𝑦 𝐹𝑎𝑐𝑒Onde histórias criam vida. Descubra agora