Cruzando caminhos

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Passando pelos corredores, não era difícil perceber que era um lugar silencioso e estranhamente frio. Decidiu, então, descer para o primeiro andar e explorar o lado de fora enquanto aguardava o elevador. O elevador descia normalmente quando, de repente, foi interrompido e dois garotos entraram. Seu coração disparou imediatamente; por algum motivo, a imagem dos rapazes tinha sido gravada em seus pensamentos. Ao observá-los, notou detalhes, como o abuso de cabelo castanho, e algo que reconhecia muito bem: a inicial "SF".

-Sannity Fall- você disse em um tom de voz baixo, mas ainda audível.

Os dois garotos, na mesma hora, olharam confusos na sua direção.

-Uh?- disse o garoto de cabelo azulado, olhando para você. Não podia deixar de notar os olhos do azulado, que combinavam com seu longo cabelo.

-Ah, a banda da sua blusa, eu conheço!-disse tentando disfarçar, limpando a garganta. Era difícil não perceber a encarada que deu no garoto. O mais alto, ainda desconhecido, colocou as mãos nos bolsos e virou para você também.

-Legal, nunca vi sua cara por aqui. Você é nova?

-Sim, sim, me mudei ontem- respondeu, e de repente, o mais baixo se manifestou, lembrando do último encontro de vocês.

-Você é a garota da pizza que me cumprimentou ontem?

Uau, garota da pizza. Que ótima memória- pensou consigo mesma.

-Sim, sou eu. Boa memória.

-Sou Sally, e esse aqui é Larry, disse, logo percebendo que o andar deles já havia chegado.

-Bem-vinda. E qual é o seu nome?

- Sou [seu nome], mas pode me chamar de [seu apelido].

-Prazer te conhecer. Aliás, ótimo gosto para música, cara-Larry disse.

Você soltou um sorriso tímido. Parecia que não era tão ruim conviver nesse lugar; ainda havia pessoas da sua idade. "O que poderia dar errado?" pensou.

Os dois garotos estavam saindo quando Sally interrompeu, virou-se rapidamente antes da porta fechar.

- Vem com a gente qualquer dia desses!

A porta se fechou, e eu parei para refletir. Seria o início de uma grande amizade com os garotos?

Com Sally e Larry:

- Cara, o que foi isso? - Perguntou Larry, esperando Sally alcançá-lo no corredor.

- Ela parece legal. Quem sabe não seja mais alguém para o nosso grupo?

- Não é por nada, mas e tudo isso que a gente tá vendo? Realmente acha que alguém novo ia acreditar?

Sally ficou pensativo com as palavras de Larry. Realmente, ele tinha razão. A garota parecia alguém cuja personalidade se encaixasse, mas seria alguém de olhos abertos para outro mundo?

- Hum, bem, você está certo por esse lado, mas não custa tentar, quem sabe?

Larry apenas deu de ombros, e os dois continuaram a seguir seu caminho até o apartamento dele.

Após explorar o lugar, absolutamente nada lhe despertava interesse. A situação piorava com a chuva, que talvez explicasse o frio, mas isso ainda não o convencia. Refazendo todo o caminho, voltou para casa, preocupada com o despertar de seu irmão e seu pai.

Enquanto caminhava novamente próximo de sua casa, uma sombra reapareceu nos cantos da parede, a mesma sombra. Você apertou os olhos, repetindo mentalmente "são coisas da minha cabeça, nada disso é real". Ao abrir os olhos, a sombra persistia, encarando sua alma, desafiando sua crença na realidade. Ela se aproximava, tomando forma, e em alta velocidade passou por você, atravessando-o como se levasse consigo parte de sua essência.

Ao olhar para trás, seguindo a sombra, dirigiu-se ao elevador, levando-o aos últimos andares superiores. Uma voz em sua mente sussurrou "Vá atrás", e sem hesitar, você correu até a caixa de ferro e metal antes que a porta se fechasse. Ao se dar conta do ocorrido, desesperada, começou a apertar qualquer botão à sua frente, mas nada funcionava.

Quando o elevador parou bruscamente, seu corpo tremia e a porta se abriu lentamente, indicando que havia chegado. Você estava nos corredores, mas tudo era diferente. O mesmo prédio, mas em um andar totalmente abandonado, com madeiras jogadas, teias de aranha e paredes sujas.

- Que porra é essa?! - exclamou para si mesma, espantada, enquanto observava o lugar perplexa.

Apertando desesperadamente o botão, era sua única reação, tentando sair dali a qualquer custo! Aquilo simplesmente NÃO poderia ser real. Quando o elevador deu sinal, você sentiu um alívio quase palpável; faltou pouco para ajoelhar e agradecer, mas, mesmo assim, permanecia paralisado enquanto respirava ofegante. Descendo lentamente, finalmente chegou ao destino do seu andar, e você correu desesperadamente até seu apartamento.

Ao abrir a porta, seu pai, visivelmente preocupado, exclamou:

- Filha! Fiquei preocupado, onde você estava!

Assustada, você olhou para seu pai e fechou a porta lentamente, ainda tremendo pela situação minutos atrás.

- O que aconteceu? Que cara é essa? - indagou ele.

- Nada! Apenas tropecei quando estava vindo.

- Está tudo bem mesmo? - o mais velho disse desconfiado.

- Está sim, eu fui explorar aqui, como você disse ontem. - Tentando distrair seu pai de perguntas estranhas, você se dirigiu até a geladeira, pegando uma garrafa de água.

- Encontrou algo ou alguém? - insistiu ele.

- Ah, sim, é, dois garotos que moram aqui. Só isso. - Você bebia a água enquanto seu pai falava, fazendo de tudo para não compartilhar a experiência inexplicável.

- Ainda temos que desempacotar algumas coisas, filha. Vamos começar o mais cedo possível. Depois, pode sair de novo.

- Não tô afim! - pensou alto - Quero dizer, que por hoje já deu, sabe?

Seu pai apenas lhe lançou um olhar desconfiado, enquanto a atmosfera misteriosa pairava no ar.

Após um longo dia desempacotando caixas de roupas e objetos, finalmente havia terminado. Você se encontrava na sala com seu pai, orgulhoso após tanto trabalho.

-Fizemos um bom trabalho!- disse ele, enquanto uma gota de suor escorria de seu rosto. Soltando um suspiro, você apenas concordou.

-O jantar fica por minha conta! Seu quarto tem tantas coisas, deve ter sido cansativo! Você é acumuladora, sabia? - o mais velho disse em tom de brincadeira. Você riu genuinamente enquanto caminhava em direção ao seu quarto, agora completo em cada detalhe de sua personalidade.

Sentando-se na beira da cama, encarou a prateleira com seu pequeno quadro, onde a foto sua e de sua mãe estavam lado a lado. Caminhando lentamente, pegou a foto delicadamente e acariciou-a.

-São apenas coisas da minha cabeça, certo mãe?

Ouvindo passos rápidos em direção ao seu quarto, rapidamente colocou tudo no lugar. Era seu irmão, cheio de energia, que vinha até você.

-Vamos brincar hoje? Por favor!

Sorrindo genuinamente, você o pegou no colo junto com o aviãozinho que o pequeno nunca largava.

𝐸𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑚𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠- 𝑆𝑎𝑙𝑙𝑦 𝐹𝑎𝑐𝑒Onde histórias criam vida. Descubra agora