Pensamentos de curta metragem

Amor Transmasculino

Eram alguns dias depois do solstício de verão. Dormia em um quarto repleto de lembranças de alguém que me conhecia. Sem raciocinar bem, apalpava tua presença invisível com as pontas das mãos pelo ar tropical. Tentar dormir era um desafio porque fechar os olhos me levava diretamente a você e a seu olhar irreprodutível. 

Teu corpo sempre me pareceu uma grande amêndoa agridoce que eu jamais conseguia perfurar e adentrar. Tua mente era esse miolo dela. Há um inverno interno que vive em dias de chuva dentro de mim e somente o calor da tua natureza é capaz de cessar o barulho turbulento desses trovões rabugentos.

Andava tendo boas noites e bons sonhos por causa das tuas esperanças. Nunca pensei que uma infinita solidão pudesse reinar dentro desses vales úmidos que é meu peito.

Também nunca quis assustar você mostrando a rosa dos ventos que incidia sobre o pequeno vilarejo que é meu coração duro.

Atentava-se a cada passo que dava nos sonhos porque até mesmo ao efeito do inconsciente, eu te buscava, mesmo se fosse para ver um eu criado por mim que me fazia perceber os erros que não devia cometer mais. Porque até nos embriagados túneis dos sonhos, eu te encontrava com seus mesmos fios de cabelo que alinhavavam nossos tempos.

Relvas secas e dias ensolarados me faziam lembrar das tuas piadas e prosas. E os telhados encharcados e alagados que vez ou outra transbordavam de fora para dentro de mim, até as pequenas pedras que eu jogava para cima do céu, até as quatro estações de flores reitoras, até mesmo as cores não me deixavam te esquecer.

Seu andar pelo estrelado e estralado dos meus nervos me fazia sugar toda a sua vida num único olho seu.

Na sua ausência, eu sentia apenas como se não pudesse lhe ver mas minha mente sempre voava e permanecia acordada debaixo do seu travesseiro, para garantir sua boa noite de sono.

As noites que você não sonha são parte de um elaborado plano meu para fazer você aparecer como um fantasma nos meus sonhos.