𝐘𝐎𝐔 𝐃𝐎𝐍'𝐓 𝐊𝐍𝐎𝐖

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Você não sabe

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Você não sabe

As pessoas lotam os consultórios psiquiátricos, se entorpecem de remédio pra ansiedade, remédio pra depressão, remédio pra pressão, remédio pra dormir, remédio pra acordar, remédio pra viver, pra fazer viver quem quer morrer, remédio pro irremediável, pra dor que não passa. Pra ferida que ninguém vê, vãs tentativas de resolver o caos interno, as pessoas tentam remediar uma dor que parece que nunca vai ter fim, um sofrimento que vem de dentro. Bem fundo. Tão fundo que nenhum remédio ou substância tóxica é capaz de alcançar.

Estava sentada em meu lugar, com a cabeça deitada sobre os braços. Depois que acordei percebi que Seojun não estava mais lá, provavelmente pensou que ficaria com vergonha depois daquilo. E como ele estava certo, onde eu estava com a cabeça ao atender aquela ligação? Não que eu esteja arrependida, mas não estou pronta para relembrar tudo aquilo novamente.

Eu me sinto estranha hoje. Como se algo tivesse mudado dentro de mim, algo que eu não sabia explicar. Foi como se eu tivesse a sensação de estar perto do meu irmão, e parecia que se eu continuasse fingindo sorrisos e agindo como eu tenho agido há alguns anos eu me afastaria cada vez mais dele. Eu deveria agir como a verdadeira Sayeon para me manter perto do meu irmão.

Por algum motivo Haewoon está sentado em minha frente virado para trás, olhando-me atenciosamente, ele suspirava enquanto parecia querer falar alguma coisa, entretanto, não falava nada. Levanto meu olhar encarando os olhos escuros do maior, que era incrivelmente atraente.

— A aula já vai começar, não deveria ir para sua sala?

— Eu troquei de turma, agora eu estudarei com você. — Sorria suavemente olhando em meus olhos, suas bochechas adquiriam um leve tom de vermelho. — Você está diferente hoje, mas um diferente bom. Você sempre sorri, e não dá para perceber quando está bem ou quando está mal, mas hoje você entrou na escola com uma expressão calma e serena, mas sem sorriso. E eu senti que está sendo sincera consigo mesma agora, sem forçar um sorriso para não demonstrar à ninguém. E eu prefiro te ver assim, verdadeira em relação a si mesma. — Sorrio singelamente pela preocupação do maior.

— Obrigada, Hae, por ser meu amigo. — Ele abre um sorriso que deixa aparente suas covinhas. Seu sorriso era muito bonito, e porque eu estou reparando nisso?

— Sayeon. — Escuto uma voz calma ao meu lado, ao levantar o olhar percebo seus olhos preocupados, sorrio para ele tentando o acalmar. — Podemos conversar?

— Podemos. 

Fomos andando juntos até uma parte isolada dos corredores, não sem ganhar olhares curiosos e chocados em nossa direção. Fazia sentido, afinal deixamos de ser amigos há um tempo, e desde que eu voltei nós não trocamos muitas palavras. E claramente isso era culpa minha, eu me afastei.

— Me desculpa. — É a primeira coisa que eu faço assim que paramos de andar, ele me olha confuso. — Eu não deveria ter ido embora, não deveria ter deixado você ou o Seojun, não deveria ter agido como eu tenho agido. Me desculpa por te fazer me odiar, era uma forma de lidar com tudo isso que estava acontecendo, uma forma de não pensar na morte do Seyeon... E isso é-é minha culpa.

— Ei, para com isso, para com isso, Sayeon. Não assuma uma culpa que não é sua, todos nós escolhemos um jeito para lidar com a falta dele, você sendo o que sua mãe quer, eu guardando tudo para mim, e o Seojun me culpando. Mas acontece que somos amigos, e ele não iria querer nos ver assim, nos odiando. E eu não te odeio, nunca te odiei, por mais que você fizesse de tudo para eu te odiar eu não consigo. Porque você é minha melhor amiga, uma irmã que eu nunca tive. — Ele me abraça, e pela primeira vez eu me vejo chorando em seu abraço, sem vontade de sair do mesmo. Tínhamos uma relação única, ele era um irmão para mim, muitas vezes isso deixou o Seyeon com ciúmes, mas sabia que isso era brincadeira. Eu solto um sorriso grande com o afago dele em minhas madeixas, velhos hábitos nunca mudam. 

— Obrigada, por não me odiar. E você também é como se fosse um irmão para mim. 

— Olha, eu sei que faz tempo que não nos falamos, mas pode contar qualquer coisa para mim. Não é saudável guardar tudo para si.

— Tá bom, mas agora não. Uma hora eu vou falar, mas primeiro preciso aprender a lidar com isso.

——————«•»——————

Ao voltarmos para a sala percebi que os olhares de todos se voltaram para nós, é claro que isso acontecia. E desta vez realmente era engraçado ao meu ver.

Sentei em meu lugar e ignorando os olhares de todos comecei a escrever no meu caderno com capa vermelha, era um diário de depressão. Minha psicóloga havia recomendado que eu fizesse um para colocar os meus verdadeiros sentimentos nele, ao invés de descontar de maneira errada e dolorosa. 

Hoje eu percebi que Lim Jukyung estava agindo estranhamente com Suho, será que ela gosta dele? É o único motivo, porque tenho certeza que ele não ameaçaria ela, não é?

Não é, na hora da aula de história ela levantou abruptamente e falou que precisava ir ao banheiro, mas quando voltou entregou uma bebida para o Lee, a bebida favorita dele, e saiu de perto com uma expressão cansada. Ela não agiria deste modo se gostasse dele, pelo menos não com aquela expressão forçada que ela dava quando fazia algo por ele. Então, ele sabe sobre o rosto sem maquiagem da Limju? Se ele estiver ameaçando ele, ele vai ver só, não é porque voltamos a ser amigos que vou deixar ele chantagear a minha melhor amiga.

— Deixa que eu levo, Ju. Vai descansar, não precisa fazer tudo isso por ele. Ele não vai contar. — Pego a caixa com vários papéis de sua mão e vou andando em direção à escada para ir para a secretária.

Ao chegar perto da mesma percebo Seojun e seus amigos, o maior deles segurava um espelho para o Han, e eu não percebi que enquanto eu andava ele ia indo em minha direção, assim esbarrando em mim. Assim que seus amigos perceberam se afastaram um pouco.

— Tampinha?

— Me desculpa, foi mal. — Tento andar, mas ele coloca a mão na parede em minha frente.

— Ei, Sayeon, porque fez aquilo? Sabe o que poderia ter acontecido se eu não aparecesse lá? Se eu não tivesse chamado seu médico particular? — Ele parecia irritado. — Ia mesmo desistir de tudo? Porque?

— Não dá para agir como se nada tivesse acontecido, como se meu irmão não tivesse se matado, como se minha amiga não estivesse mnorta, como se meus pais fossem perfeitos, como se eu fosse perfeita... Então me deixe desistir, me deixe ir, se isso não é bom para mim. Bem, eu não quero saber. Me deixe parar de tentar, me deixe parar de lutar, eu não quero o seu bom conselho ou razões pelas quais eu estou bem. Você não sabe como é

Ele me olhava sério, e ali bem de perto me lembrei de um dos motivos pelo qual me afastei dele, principalmente. Ele era lindo, tão lindo que me fazia doer o peito. Eu poderia voltar a ser amiga deles, mas não conseguiria me manter perto dele o suficiente. Ou acabaria me perdendo para sentimentos tolos.

— Sayeon... — Desvio o olhar e ele coça a garganta. — Meu-meu capacete, trás amanhã.

Ele mudou de assunto.

— Está bem. — Digo baixo, passo em baixo de seu braço e saio de lá com um sentimento conflituoso no peito, encaro meus pés enquanto ia em direção aonde deveria ir. Isso não era amor, não poderia ser.

Me desculpe, mas eu não acredito no amor, eu até queria acreditar, mas a vida vem me obrigando a fazer o contrário. Quando eu acreditei que seria sincero, acabei me deparando com o que costumo chamar de decepção ou tapa na cara. Sabe aquela escorregada que você precisa dar pra aprender a levantar? Então, é disso que estou falando. Isso é o amor.

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𝒪𝓊𝓇 𝑀𝑒𝓁𝑜𝒹𝓎 - 𝐇𝐚𝐧 𝐒𝐞𝐨𝐣𝐮𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora