𝐌𝐎𝐓𝐎𝐑𝐂𝐘𝐂𝐋𝐄 𝐁𝐎𝐘

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Garoto da moto

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Garoto da moto

As inúmeras pontas de galhos secos mostram as minhas dores, minhas angustias, escondidas  em meus olhos castanhos cor de mel que, como espelhos, refletem apenas o lado de fora, o visível. E isso é o que me tranquiliza, ninguém saberia o que se passa comigo, mesmo se meus olhos tentassem implorar.

Hoje foi um dia estranho na escola, todos ficaram surpresos por eu e Suho não estarmos retrucando tudo o que o outro fala, mas não foi grande surpresa notar que estávamos de fato apenas ignorando um ao outro. Além disso, eu e um garoto de outra turma começamos uma amizade, afinal era isso o que nossos pais queriam. Kang Haewoon era o seu nome.

Ele falou que poderíamos tentar ser amigos, não só por nossos pais, mas por nós mesmos. Eu até aceitei tentar ser sua amiga, mas falei que não iria facilitar e nem mesmo confiar nele, pelo menos por enquanto. Ele aceitou de boa, o que foi estranho. Quer dizer, ele era estranho, mas um estranho engraçado.

Depois que eu e Limju saímos da escola ela decidiu passar em uma loja de maquiagem e eu fui com ela, afim de me manter o mais longe possível de casa, que como sempre estaria vazia. Era adorável ver ela alegre com essas maquiagens, posso não gostar dessas coisas, mas não repudio o fato dela querer uma nova vida. Uma sem bullying, e se ela está feliz o que tem de mal? Ela não está cometendo nenhum crime. Acho que ela está me amolecendo, eu vivo sorrindo com as bobeiras que ela fala ou faz. Eu gosto da Ju, acho que depois de tanto tempo eu consegui uma amiga, uma que vai ficar comigo.

— Tem alguma base de cobertura mais alta? 

— Experimenta esta, já volto com uma de maior cobertura.

Percebo seu desconforto quando algumas garotas adentram o estabelecimento, ao encarar elas percebo serem aquelas garotas daquele dia, rio em escárnio revirando meus olhos. O que essas ratazanas faziam fora do seu boeiro? 

— Vem, vamos embora. Depois voltamos. — A puxo levemente pelo pulso, quando saimos de lá ela começou a correr, e eu fui atrás da minha amiga. Percebo que uma moto ia acertar ela, pulo tirando ela da frente, o motoqueiro ao desviar acaba caindo também. — Ei, Jukyung. Você está bem? — Ela confirma com a cabeça olhando para meu joelho, que acabou machucando um pouco com a ação. — Moço, você está bem? Se machucou? Esquece, você quase atropelou a minha amiga, tem noção? Seu idiota!

E então ele retira seu capacete amarelo e preto balançando o cabelo para  o ajeitar, ele direciona seu olhar para mim e se surpreende. Meus olhos se arregalam ao notar quem era o motoqueiro com olhos de gato em minha frente, logo disfarço colocando um sorriso maldoso no rosto. Ele é o que mais me faz mal, pois sei que ele me culpa bem mais do que o Suho. Afinal, como eu pude abandonar eles naquele momento? Como eu fui fria demais para nem aparecer naquele velório? Como eu simplesmente fui embora e continuei vivendo minha vida luxuosa? Pois é, eu não tinha tempo para velórios, ou eu não me importava. Era isso que ele pensava, e talvez seja isso, mas tanto faz. Há muito tempo eu ignorava tudo que pensavam sobre mim, até mesmo o que eu mesma pensava.

— Han Seojun... — Sorrio de lado sentindo um nó em minha garganta, o qual eu ignorava sempre, ao olhar em seus olhos escuros. Antes que ele dissesse algo notamos algumas motos se aproximando, fazendo então ele jogar seu capacete para mim e sair correndo. — Eu não acredito que ele esteja se envolvendo com delinquentes agora, vem Ju.

Fomos correndo atrás do garoto, adentramos alguns becos e chegamos em uma área cheia de escadas, nos escondemos em uma ao ver cinco garotos cercando meu amigo. Percebi que o delinquente com um agasalho branco e roxo estava batendo nele, mas quando ia acertar o rosto do com brincos o mesmo se esquivou. Isso pareceu o irritar, então aciono um botão de emergência, que tinha um som parecido com a sirene da polícia. Sorrio de lado ao ver eles indo embora, desço um pouco de onde estávamos e desligo a sirene.

— Vem, acho que eles foram embora. — Percebo ela sair correndo com medo, iria atrás dela, mas esbarro com o maior, eu virei para sair dali, mas ele me puxa antes que o fizesse. Sinto ele me segurar pela cintura para eu não sair, acabando por grudar nossos corpos.

— Quando você voltou? — Me afasto ao ouvir sua voz perto do meu ouvido, seu hálito quente bate em minha nuca.  — Quer dizer, para onde você foi? Porque você foi embora? Sabe o quanto eu fiquei preocupado? Eu passei dias sem comer ou sair do quarto, com medo de você ter feito o mesmo que o Seyeon... Que droga, Sayeon, fala alguma coisa! Você realmente é tudo aquilo que eles dizem, mimada, egoísta, fria, insensível e sem coração — Sinto meus olhos marejarem, mas apenas escondo isso com meu sorriso mais  doce, para esconder toda a minha dor. — Sayeon, você mudou.

— Eu não mudei, Han Seojun, eu sempre fui assim. Preciso ir.

——————«•»——————

Ao entrar em casa retiro meus sapatos e calço a pantufa para usar dentro de casa, me deparo com a casa escura e silenciosa. Pode dar um sentimento de solidão estar em uma casa tão grande e vazia, mas pelo menos não precisaria lidar ainda com as faces de meus pais.

Vou para meu quarto e abro uma caixa, que eu deixava em baixo da cama, fotos, presentes, tudo que me lembrava ele estava ali. Incluindo aquela pulseira, aquela maldita pulseira. Talvez não seja um bom jeito de expressar a minha dor, colocar todo o ódio deles em mim para que não odiassem um ao outro, colocar a culpa toda em cima de mim, para tirar deles. Mas a maior culpa realmente era minha, qual o problema de assumir a culpa inteira então? Não é como se alguém fosse descobrir a minha dor, e acho que isso me faz mal, mas não é um problema.

Você faz falta, irmão...

De repente, sinto que estou triste. Triste pelo que sou, triste por tudo que não fui. Mas, não me aborrece essa tristeza, que vem e que flui através do cinza-azulado da fumaça do cigarro, projetada no teto mal pintado de meu quarto. O silêncio amigo que habita meu quarto divide comigo o frio da noite, que também se vai. Penso em voltar, penso em partir, em estar contigo, em dividir essa tristeza a dois... Que grita dentro de mim, dentro do quarto quieto, frio, de ar viciado, de teto mal pintado. Vejo as marcas incertas do pincel, como a arranharem também dentro de mim, a saudade do que era e a ansiedade do que será. Fecho os olhos, molhados e penso num poema que faria, se meus olhos molhados não estivessem cansados, fechados, tentando esquecer essa tristeza....

Quanto tempo aguentaria sem enlouquecer? Quanto tempo suportaria essa farsa toda? Por quanto tempo eu conseguiria aguentar essa dor sozinha? Será que é tarde demais para mim? Será que eu deveria contar para alguém? Mas quem acreditaria nas palavras da Sayeon contra a Jeong Sayeon? Ser a mesma pessoa, mas com personalidades e pensamentos diferentes cansa. Era as duas, mas ao mesmo tempo era nada. Era o quente e o frio, o céu e o mar, a luz e o escuro. O completo vazio.

Observando aquela foto em específico começo a sentir uma dor insuportável, sinto uma agonia ao respirar. Meus olhos vagam pelo quarto parando na primeira gaveta da cômoda ao lado da cama, vou indo com passos largos lentamente em direção à mesma, e ao abrir encontro. Minha melhor amiga.

Aquela noite seria longa.

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𝒪𝓊𝓇 𝑀𝑒𝓁𝑜𝒹𝓎 - 𝐇𝐚𝐧 𝐒𝐞𝐨𝐣𝐮𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora