𝐒𝐔𝐅𝐅𝐄𝐑 𝐈𝐍 𝐐𝐔𝐈𝐄𝐓, 𝐒𝐇𝐔𝐓 𝐔𝐏 𝐈𝐍 𝐒𝐔𝐅𝐅𝐄𝐑𝐈𝐍𝐆

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Sofrer calada, calar sofrendo

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Sofrer calada, calar sofrendo

Só te peço desculpas. Mais nada além de desculpas. Nunca quis que minha tristeza refletisse aos seus olhos, e com ela você se sentisse incomodado e triste também.

Estava indo em direção a sala de aula, porém andava em direção a mesma mais lentamente pois carregava uma bolsa azul e rosa clara, Jukyung me implorou que eu entregasse para o Suho. A sorte dela era que eu gostava dela, e talvez, só talvez, quisesse um motivo para falar com ele.

— Jukyung me pediu para entregar, a sua jaqueta. — Entrego a sacola para ele, que pareceu encarar meu pulso no ato, percebo que minha manga havia levantado um pouco e mostrava algumas cicatrizes antigas e recentes.

— Se você quiser conversar, eu estou aqui. — Ele parecia preocupado.

— Não se preocupe, Suho. Eu estou bem, e mesmo se não eu vou ficar. — Sorrio para ele, um sorriso calmo e gentil. Mas falso.

— A gente pode conversar? Depois da aula. — Ele parecia triste, mas aliviado por ter peço isso.

— Tá.

Vou em direção à saída da sala, afim de ir ao banheiro, sinto um pé pisar no meu. Olho para cima e vejo seus olhos, calmos e gentis. Acho que tudo mudou depois dele me ver chorar e desabafar um pouco antes de fugir daquela situação.

— Você está bem?

— Estou.

— Sobre ontem...

— Não conte a ninguém o que viu, eu nunca choro. Entendeu? Aquilo, foi apenas um cisco. — Vou em direção ao banheiro e lavo o rosto, será que eu devo parar de fingir? Será que eu posso ser apenas uma Sayeon? A verdadeira Sayeon? Não, não posso. Não posso ser trocada, a ideia de ser abandonada por meus próprios pais me dói tanto. 

— É por causa deles? Tudo é por causa deles? — O olho espantada ao ver ele me esperando do lado de fora do banheiro. Tento passar por ele, mas ele me segura. — Porque você visita a minha mãe?

— Porque eu queria que minha mãe fosse como a sua, eu queria a atenção que eu recebo da sua mãe pela minha. Porque eu sou um nada para a Soo-rin...  — Digo o que tanto estava entalado em minha garganta. — Você acha que eu queria ser assim? Eu me tornei o que sou hoje por conta da negligência e abuso psicológico que ela me fez passar, por conta das agressões e repreensões do meu pai, você acha que foi fácil crescer em uma família que não te amava? Onde o único do meu lado tirou a vida? Eu sou perfeita, é assim que todos tem que me ver, pois é o que eles querem. Se eu falhar eles podem achar alguém melhor e me deixar de vez, sabe que foi isso que fizeram com ele. Eles nem sequer me deixaram ir no velório dele, simplesmente me mandaram para o exterior para eu não perder a compostura da boneca deles. Eu mal como para manter o corpo, e isso me tornou doente, eu sou apenas um retrato do que eles querem que eu seja. Então visitar a sua mãe era a única escapatória para mim não enlouquecer. Fazem cinco anos que eu não falo com o meu pai, acredita que até mesmo pelo celular ele manda o secretário me ligar? Fazem dois meses que eu voltei, e eu só vi minha mãe ontem, meu pai nem sequer se deu ao trabalho de aparecer em casa. Então me desculpa, tá? Me desculpa por gostar da sua mãe. — Ele estava perplexo, novamente falei mais do que deveria.

Porque guardou as coisas só para você, sua idiota? Eu te odiei este tempo todo, eu te culpei por ter nos deixado, mas você sofria mais do que imaginávamos. Me perdoa.

— Por favor, não torne as coisas difíceis. Eu não mereço ser feliz, não depois do que eu fiz. Por favor me odeie, me culpe, assim é mais fácil. — Solto minha mão e me viro pronta para sair, percebo Suho nos encarando, seu olhar parecia triste e arrependido. Com certeza ele escutou, não sabe ou nem quis disfarçar. — Apenas me ignorem e me culpem, eu estou bem sozinha. E isso é tão engraçado.

——————«•»——————

Estávamos jogando queimada, meninas e meninos separados, maldito patriarcado de que não poderiam jogar contra. Estava meio distraída, mas com um sorriso na cara. Sempre sorrindo, para ninguém saber que sempre estou querendo chorar, apesar de que agora aqueles dois sabiam. Vejo a bola ir um pouco longe, calmamente vou atrás dela. Me abaixo para a pegar, mas um pé segura a mesma no lugar.

— Ei, quando vai me devolver o meu capacete? Foi você que fugiu com ele, não foi? — Ele pergunta, não tinha raiva na sua voz. Não pode estar tentando reatar nossa amizade, não é? Eu o pedi para continuar me odiando. — Não vou te odiar apenas porque me pediu isso, afinal você é minha melhor amiga. 

— Tanto faz, te devolvo amanhã. — Sorrio de lado pensando no porquê ele estar querendo tanto um capacete de volta, com a coleção que ele tem em seu quarto. — Cuidado.

— Não sorria mais se não quiser, e eu não vou cair nessa. — Ele leva uma bolada, o que me fez soltar um riso baixo. Acho que não quero odiar o fato dele não me odiar.

——————«•»——————

O resto do dia foi normal, bom tirando o fato da surpresa de 100 dias de namoro do Taehoon para a Soo-ah, e do fato de eu vomitar toda vez que eu comia algo. Algo espontâneo, eu ingeria, eu vomitava.

Cheguei em casa, e desta vez não saí de meu quarto. Estava sentada no chão frio do banheiro, eu e meus melhores amigos, navalhas e remédios.

Eu estou triste e não consigo dormir, está tão frio aqui que me dói os ossos, me dói a alma também... Eu sinto meu corpo se esvaindo de mim e continuo triste sem saber e talvez nem seja só tristeza, é apenas uma solidão inquietante... O meu silêncio uiva para os morros lá fora e apenas os ecos respondem sombrios palavras de angústia com gosto de sangue e sons que entoam morte.

A cada corte, a cada pílula, mais sentia meu corpo fraco, mais o sentia ceder para a escuridão do sono. Escuto meu celular tocar, e sem ler o nome de quem ligava o atendi.

— Sayeon? O que você está fazendo? — Era impressionante o fato dele me conhecer tão bem, talvez até melhor do que eu mesma.

— Han Seojun, com qual Sayeon você está falando? — Pergunto e minha voz sai baixa e lenta, o que me faz rir. — Isso é engraçado, muito engraçado.

— Fica parada, eu já estou chegando. — Pisquei os olhos confusas depois que o mesmo desligou a chamada, sinto meu corpo cansado, então me deito e fecho meus olhos cansados. 

— Vou ficar paradinha, Han.

Enquanto meus olhos estavam fechados me lembrei, naquele escuro, daquele incidente. Seyeon, o que eu faço? Sem você eu não tenho mais forças para lutar. Mamãe e papai te achavam má-influência porque eu sempre agia como eu queria e não como eles queriam com você por perto, você era a minha coragem. Mas agora só é uma lembrança do quão inútil eu realmente sou, no fim das contas mamãe realmente está certa. Eu nasci para ser tudo, mas eu cresci um nada.

— Sayeon! — Sinto seus braços fortes me segurando e me sacudirem desesperados, tento abrir meus olhos para poder ver sua expressão. — Por favor, acorda! 

—Han Seojun... — Consigo abrir meus olhos, ele estava com lágrimas presas em seus olhos, prestes a cair. Sorrio, pela primeira vez depois de um tempo verdadeiramente. — Eu não estou bem, quando eu acordar... Os efeitos dos remédios vão ter passado, mas... Insiste só mais um pouco, eu prometo que eu te contarei tudo. 

E realmente iria, na próxima vez que ele me perguntasse eu contaria, Seyeon não iria querer que eu sofresse sozinha, obedecendo cegamente aos meus pais. Eu sofreria ao lado do meu amigo Seojun.

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𝒪𝓊𝓇 𝑀𝑒𝓁𝑜𝒹𝓎 - 𝐇𝐚𝐧 𝐒𝐞𝐨𝐣𝐮𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora