"Trabalho"

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Lembro-me claramente do quão difícil fora me adaptar a vida na cidade da luz, também conhecida como Paris.

Ela não me trás boas lembranças. Talvez por isso sempre evitei sair por aqui sozinho.

Depois da morte de meu irmão - como dito anteriormente -, planejei de várias maneiras como eu iria matar aquele Demônio que nós trouxe para esse lugar.

Em minha cabeça, naquela época pelo menos, eu cri que se fizesse-o sofrer o mesmo destino de meu irmão, talvez minha mente ficasse menos perturbada.

No dia seguinte ao óbito de Mikhail, fugi do que costumava chamar de moradia. Lembro de por um momento cogitar, pensando que talvez isso fosse o calor do momento e que em seguida me arrependeria, contudo lembrei que anos anteriores - cinco, mais especificamente - deixei o raciocínio de lado e aceitei o que a vida me deu na primeira oportunidade. E talvez isso tenha causado a morte de meu irmão.

Sabia muito bem que Demônio - vale lembrar que depois dos acontecimentos contados anteriormente, passei a chamá-lo assim - não sairia da casa. Ela não iria atrás de mim, eu sei.

Passei um certo período de tempo nas ruas, trabalhando (ainda no lado sombrio de Paris) até conseguir algo para chamar de teto. Anos atrás, eu preferiria morar com o Demônio- qualquer um dos dois - do que nas ruas.

Mas o tempos eram outros. E eu não era mais aquele irmão mais velho que pensava na sobrevivência dele e de seu caçula. Agora eram só eu e meus pensamentos invasivos.

Já me peguei inúmeras vezes pensando do porquê me importar tanto em vingar meu irmão, afinal de contas, ele não havia sido assassinado ou algo do gênero. Foi, de certa forma, algo natural.

A única resposta que encontrei foi: eu amava ele. Contudo nunca entendi o porquê. "Ah, ele era seu irmão, oras" porém essa lógica não funciona comigo. Se eu o amava por ser meu irmão, por que não amava minha mãe por ser minha criadora? Por que não amava Vanitas por ter cuidado de mim e de Mikhail? Nunca encontrei uma resposta certa. Nesse momento então, percebi que o amor não é algo que escolhemos, e romance menos ainda.

Um de meus contratos de uma noite que mais me marcaram, fora para um tal de August Ruthven. Estou bem ciente do poder que esse homem tem em Paris e na França em si, contudo não ligo do que há de acontecer caso descubram isso.

Digamos que foi um caso de uma noite, ele me pagou e deveríamos esquecer isso, certo? Todavia não fora o que aconteceu naquela vez.

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Noé fechou o livro abruptamente. Se recusava a acreditar que August Ruthven, um homem de tanto respeito, havia contrato serviços do que para ele, poderia quase ser chamado de criança - já que August tem, possivelmente, mais que o dobro da idade dele.

"Lembre-se que piora" pensou o garoto, na tentativa de se convencer de que aquilo era normal. Mas, na visão dele, não era.

Sim, Noé não teve uma vida tão fácil. Fora criado pelos avós que faleceram da mesma maneira que Mikhail. E logo em seguida fora acolhido pela família Sade, conhecendo Dominique e seu melhor amigo, e possível primeira paixonite, Louis.

Para ele, perder Louis por suicídio havia sido a pior coisa do mundo, contudo, lendo esse livro Noé percebera que a morte de Vanitas parecia tão ruim quanto - na verdade, até pior.

Assinado, VanitasOnde histórias criam vida. Descubra agora