Assinado, Noé

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Archiviste fechou o livro, olhando fixamente para o pôr do Sol, na esperança de que as lágrimas parassem.

Sempre soube que o mundo era injusto, e que às vezes, a injustiça ataca mais uns do que outros. A família De Sade eram um desses.

Prometeu a si mesmo que nunca mais deixaria ninguém que conhece viver o mesmo que Louis, não deixaria ninguém que se importava passar tanto sofrimento. Mesmo assim, lá estava ele lendo o último projeto de Vanitas antes de ser encontrado morto.

Pensava se talvez devesse contar a Jeanne o que aconteceu, todavia não queria que sua amiga sofresse em seus momentos de vida, que seriam breves já que a mesma estava com peste bubônica. Tudo o que podia fazer era seguir em frente.

Mas, como fazer isso se a única pessoa que parecia te entender acabou de tirar a própria vida?

O mundo é injusto, tanto com as pessoas quanto com quem está ao seu redor.

Pensando nisso, Noé resolveu escrever uma carta para sua amiga. Pegou um papel no final do livro e uma caneta encontrada ali na cama e começou a escrever.

Dominique,

Sei que está preocupada comigo, já que não a respondo há um bom tempo, devo-lhe atualizar das coisas.

Terminei de ler o livro há um tempinho, não sei o que dizer quanto a ele. Não sei o que devo sentir quanto a isso. Vanitas já está morto, eu o enterrei. Mas, mesmo assim, sinto que se acordar cedo e correr até a praça, consigo esbarrar nele.

É estranho, não? Já deveria ter aceitado isso.

Espero que Jeanne esteja melhorando, apesar de saber que seu caso não tem cura. Percebi enquanto lia que Vanitas não sabia da doença de Jeanne e a Jeanne não sabia do caso de Vanitas. É engraçado pensar que eles escondiam essas coisas uns dos outros para não preocupa-los.

Quando receber essa carta, já não estarei mais aqui. Estou indo para o interior novamente, não tenho nenhum motivo para ficar. Torço para que o trem não demore.

Assinado, Noé

Ps: mande um abraço a Luca, mas não a August, tenho certo receio com esse homem.


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O trem chegou atrasado na estação, e vários passageiros esbarraram uns nós outros. A estação de Annecy estava cheia de turistas, alguns indo alguns voltando.

Archiviste olhou para o relógio abaixo do nome da estação - que não chegou a ler - e apertou o passo se perguntando se conseguiria chegar antes de fecharem a igreja.

- Olha só quem está aqui, olá Noé - disse Roland se virando com um sorriso. O loiro abriu a porta da igreja, suspirando pesadamente - Quer entrar?

Archiviste acenou com a cabeça, se curvando ao chegar perto do tapete vermelho. Havia um padre rezando dentro do santuário, recitando algo em latim.

Noé e Roland se sentaram na antepenúltima fileira, o loiro pegando seu terço enquanto rezava o rosário e o moreno apenas observava o local. Nunca foi muito religioso, mas sempre acho a igreja um lugar bonito e que deveria ser respeitado - mesmo que não entendesse muito do assunto.

Quando o loiro finalmente terminou a reza, se virou para o amigo chamando-o para o fundo do local. Lá havia um cemitério.

- Ele era um bom garoto - disse abrindo a porta - Que Deus o tenha.

- Você acredita em Deus?

- Bem, eu sou um diácono, é esperado que eu acredite - respondeu rindo.

- Mas, se ele existe, por que as coisas são tão injustas?

O homem arregalou os olhos, sem saber como responder. Já lhe fizeram essa pergunta várias vezes, e ele sempre respondia o clássico "Deus sabe de todas as coisas" mas sempre se questionou sobre isso. As coisas às vezes são injustas, ele sabia. Mas, sério, por que? Vanitas era apenas uma pessoa que com palavras de um livro sagrado seria salva? Sinceramente, nem Roland acreditava nisso.

- Às vezes nem tudo é escolha de Deus - disse um homem de cabelos negros - Na verdade, eu não acredito que nossas escolhas sejam a mandato de Deus.

- Oh, Oliver está certo. Acho que Deus só nos observa enquanto fazemos escolhas e no final diz para onde iremos.

- Acho que estamos dando um péssimo exemplo ao Astolfo, a igreja vai nos queimar se descobrir que dissemos isso.

- Não dissemos na frente dele, pelo menos.

Enquanto conversavam sobre como deveriam cuidar do subordinado - quase filho - deles, Archiviste entrou no cemitério, procurando a lápide certa.

Quando encontrou a escrita "nascido em 1871 falecido em 1881" se sentou ao lado dela, quase abrindo um sorriso. As palavras escritas na lápide eram a descrição de Vanitas como um escritor por quem via de fora.

- "Tanto árvores como gênios são imortalizados junto de seus frutos", lembro desse trecho no livro.

Algumas lápides depois havia uma outra escrito "Louis de Sade", onde já estava florescendo vida ao redor dela. Enquanto a de Vanitas ainda estava vazia, apenas com as flores murchas de semana passada.

O garoto continuou ali, sentindo o vento passar por seu rosto, enquanto tentava imaginar se o garoto estava mais feliz do outro lado.

- Espero que, em outro lugar, possamos esquecer isso. E, quando você estiver totalmente sozinho, eu vou encontrar você.

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Notas da autora

Eu sei que esse final foi melancólico, e era isso que eu queria 🥰

Pus o Roland e o Oliver para serem a salvação de vcs pq eles são tão>>>>>🛐🛐🛐

Pensei me talvez fazer uma outra fic feliz mas...acho que fica melancólicas combinam mais com vanoé (Jun, sua fpd, casal canon não faz casal bom, okay????)

Eu espero que tenham gostado, e bjs da Spicy





Assinado, VanitasOnde histórias criam vida. Descubra agora