"Jeanne"

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Noé fechou o livro, não sabia quantas vezes havia feito isso só naquele dia.

- Noé? - perguntou Amélia, batendo na porta - Está tudo bem? Eu ouvi uma barulho de coisas caindo. Eu posso entrar?

- Entre.

A mulher de cabelos caramelo abriu a porta, olhando para Archiviste com um semblante preocupado.

- Eu estava lendo - disse o garoto calmamente - Não é nada demais.

- Esse...esse é o tal livro do Vanitas?

Noé acena com a cabeça e abre um sorriso triste para o amigo, sorriso esse que logo desaparece ao se sentar na cama junto do garoto.

- A Jeanne já sabe?

- Não. Ele pediu para não contar.

- Entendo. E você? Como está?

- Bem, eu acho.

Amélia acaricia a mão de Noé, na tentativa de passar um conforto a ele. A garota se levanta, endireitando seu xale e indo em direção a porta.

- Quando quiser desabafar, se você quiser, eu vou estar pronta para ouvir.

Ela fecha a porta e Archiviste abre o livro novamente.

__________

Quando digo que não entendo o amor, sempre uso minha esposa de referência. Afinal, ela é uma mulher bastante bonita e interessante, contudo nunca consegui ama-la do jeito que deveria.

Isso nunca fez sentido na minha cabeça, ela tem tudo o que um homem gostaria, certo? Então por que eu não gosto?

Conheci minha esposa no horário do almoço, enquanto rabiscava em papéis usados.

Ela estava sentada na mesa em frente a minha, e estava encarando a vista parisiense como se fosse algo completamente único - que de certa forma é. Sem nem perceber, comecei a rabiscar seu rosto no papel.

Fiz isso uma, duas, três, quatro vezes. E em nenhuma delas parecia algo bonito perto da real pessoa.

Suspirei e voltei a escrever, mesmo que fosse meu intervalo.

Escrever é a minha maneira favorita de descontar os problemas. Talvez por isso escrevo tanto.

Quase acabei uma página inteira quando percebi que perdia a hora. Obviamente eu deveria me preocupar, contudo não é isso que fiz. Continuei sentado escrevendo, sempre preferi escrever na rua do que em locais fechados como minha casa ou no trabalho, pois, se estou sozinho, me perco em meus pensamentos. E eles são, com toda certeza, meu pior inimigo.

"É um belo desenho", disse uma voz vinda detrás de mim, "Ela se parece comigo."

Olhei para onde a voz veio, e era justamente a moça sentada em frente a mim. O que eu diria a ela? "Ah, sim, eu rabisquei você. Desculpa pelo garrancho" ou "Pode ficar parada novamente para eu rabiscar de novo?". Essa era a minha vontade, contudo não disse nada disso.

"Na verdade, é você."

"Oh, obrigada. Mas, eu não sou tão bonita assim."

Fora nesse momento que descobri algo sobre as mulheres: elas sempre se enxergam interiormente a como elas realmente são.

"Não rabisquei você melhor do que é. Fiz o que enxergo, ou pelo menos tentei. Se você é bonita, eu tento te desenhar bonita, e pelo que parece esse foi o caso."

Assinado, VanitasOnde histórias criam vida. Descubra agora