"Amor"

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"Mas, Vanitas, o que é o amor?"

Que pergunta estranha. Parece tão fácil de responder, contudo não faço a mínima ideia da resposta.

O que dizer sobre o amor? É algo que eu mesmo sempre me questionei. O que é o amor? Seria o que eu sentia pelo Mikhail? O que sinto por Jeanne? O que é o amor?

Ele me encarou, sua mão ainda perto da minha - talvez até mais do que antes. Ainda tentando arrumar uma resposta para a pergunta, desviei o olhar.

"Eu... não sei. Eu não sei o que é o amor."

"Bem, isso é meio triste mas é normal. Eu mesmo não tenho certeza sobre o que é o amor e-"

"Noé, o que é o amor?"

"Eu não se-"

"O. Que. É. O. Amor?"

"Vanitas, eu já disse que-"

"Eu não sei o que é o amor, Noé. Você não entende isso?! EU NÃO SEI O QUE É O AMOR.", lembro que nesse momento eu levantei demais meu tom de voz, assustando tanto a mim mesmo quando a Archiviste, "Desculpe."

Silêncio novamente, e continuou assim o resto do dia. Saí de lá e me tranquei no quarto - que era separado do de Jeanne, para nossa sorte.

Passei o dia inteiro trancado, sozinho, apenas encarando o teto. A pergunta não saía da minha cabeça, "o que é o amor?". É tão agoniante saber que não há resposta certa, a agonia é com certeza a acompanhante das perguntas.

Pensei novamente em Jeanne, o tanto de vezes que me peguei pensando nela quando o assunto era amor me assustava, seria isso o amor? Não poderia ser, eu não amava Jeanne. Não poderia amar. Às vezes, me pegava pensando como seria se por acaso amasse ela, o que faria? Talvez assim eu, ironicamente, não teria me casado com ela. Afinal é o que dizem "quando amamos estamos dispostos a abrir mão da própria felicidade para ver a dos outros".

Contudo eu sei que não faria isso mesmo se a amasse, pois lá no fundo ela alimenta minha solidão a escondendo por um mínimo tempo. Era isso, Jeanne sempre fora apenas uma distração para meus pensamentos grotescos.

Quando anoiteceu resolvi sair de casa, talvez um ar acalmasse minhas paranóias, certo? Era o que eu esperava.

Comecei andar pelo jardim, procurando algo que nem eu sabia o que era. Uma resposta talvez? Não sei, todavia eu com certeza não a encontrei. Já era tarde, o suficiente para conseguir ver a lua o mais brilhantemente possível - para um dia nublado -, como dito mais cedo, a tal flor estava realmente florescendo, mostrando suas pétalas brancas e azuladas. Ela não era a única, haviam várias no jardim.

Percebi mais tarde que aquele jardim dava para uma floresta que conhecia muito bem. Ah, certo, aquele era o caminho para a casa do Demônio. Senti meu corpo parar de funcionar, como se estivesse sendo ameaçado apenas por estar ali.

Não fazia sentido, eu queria matar Vanitas, então não poderia temer ele, certo? Mas eu temi, temi como temia aquele médico do orfanato, temi como temia o mundo afora, temi como temia a doença de Mikhail, temi como eu temia a mim mesmo.

Então percebi algo: depois de toda esses anos me preparando para matar Vanitas, eu me tornei exatamente como ele dizia que eu seria.

Assinado, VanitasOnde histórias criam vida. Descubra agora