Capítulo 6 | Emoções

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- Eu sou a princesa Amora de Florentia e ordeno que me obedeçam agora!

Os lobos, como por magia, param de rosnar e se baixam como se estivessem me fazendo uma vénia. Atrás de mim, ouço as pessoas em choque, sussurrando sem parar "ela é a princesa Amora".
Agora, todos sabem o meu segredo e eu só queria que isso acabasse aqui, mas não vai acabar, porque eu vejo o feixe de luz esverdeada vindo na minha direção. Quando tento perceber a sua origem, percebo que vem da Rainha Noturna, que está uns metros na minha frente.
O feixe voa pelo ar e vem diretamente para o meu peito.
E dói.
Encaro os olhos da Rainha Noturna, do outro lado, e ela olha pra mim de volta. A maldição estava se cumprindo, a profecia também. Toda a destruição, que ela me tirou no primeiro dia, estava voltando.

- Amora, não deveria ter feit... — A última coisa que ouço é a voz da Rainha Noturna na minha cabeça, mas não consigo ouvir o final da frase.
Porque, no segundo seguinte, tudo o que vejo é uma grande luz.
E, por fim, a escuridão.

Grito. Utilizo toda minha garganta para soltar um grito de puro terror, como se minha mente estivesse sendo dilacerada lentamente.

Não, não, não, não,não, não...

Começo repetindo como se fosse uma oração, uma súplica para acabar com tudo isso. Minha dor no peito cresce, como se uma força maior estivesse apertando meu coração, mais e mais, até esse órgão vital deixar de existir.

Ar. Eu precisava de ar.

Tento me levantar mas meu corpo não se move. Estava preso. As pernas simplesmente não se moviam, como se o corpo já tivesse desistido de lutar.
Sonolência ameaça aparecer, quando meus sentidos deixam de funcionar, mas quando luto para eles voltarem, já era tarde. O que antes era luz e vida, foi consumido por escuridão e morte.

• NARRADOR: RAINHA STENA •

Acordo assustada com o grito que ouço ao longe. Pego um casaco e me cubro para afastar o frio que me arrepia a espinha quando me levanto da cama em sobressalto. Abro lentamente a porta do meu quarto e a fecho com o mesmo cuidado. Era de madrugada e não pretendia alarmar nem acordar ninguém.
Tento seguir o rasto do grito que pareceu estar perto. No andar em que estava apenas existam meu quarto, o quarto de Olívia e o quarto de Amora, por isso seria mais fácil encontrar o responsável.

Quando chego no quarto de Olívia, abro a porta sem emitir qualquer ruído e entro de igual forma. Me aproximo de minha filha procurando sinais de medo ou angústia mas a única coisa que encontro é a calma e tranquilidade de um ser adormecido. Não deixo de soltar um fôlego de alívio. Olívia estava bem.

Só faltava o quarto de minha filha mais velha, Amora. Embora aliviada por Olívia, medo se apoderou de mim quando me apercebi que Amora era a provável responsável pelo grito. Me apresso pelos corredores, não evitando que minhas mãos começassem a libertar tremores e minha testa se fincasse com rugas. Temia por Amora. Porque, mesmo sendo mais velha do que Olívia, ela era o mistério e a preocupação que me assombrava desde do dia do seu nascimento. Culpava os seus poderes letais e Pandora por aquela preocupação acerca de minha filha e, por isso temia que essa noite pudesse enfrentar direta ou indiretamente com essas duas ameaças eminentes.

Segundos que pareceram eternidades desapareceram quando me vi perante a porta do quarto de Amora. Meu subconsciente me alertava para me preparar — "Não sabemos o que podemos enfrentar" — dizia ele e, por isso, só depois de duas inspirações e expirações e um despertar de meus poderes levemente retraídos, tomei de facto a decisão de entrar no quarto. Agarro na maçaneta e a giro, destrancando a porta e me dando acesso direto ao quarto, que estava silencioso, tal como o de Olívia. Avanço para o lugar silencioso e fecho a porta atrás de mim. Quando me viro na direção da cama de Amora, encaro uma expressão de terror e agitação típicas de um pesadelo. Dou passos em direção a minha filha adormecida, para a tentar acalmar mas quando estou a poucos centímetros de Amora, uma força superior a levita no ar e, num ato levado pelo terror, a vejo soltando chamas de todo o seu corpo. Mas não uma chama normal — chamas amarelas, quase douradas, e frias — algo que não causava dano a ela mas que emitiam um poder que até as florentias ao longe pareceram tremeluzir a sua luz inabalável. Amora parecia estar em agonia porque sua expressão revelava angústia e, ao mesmo tempo, como se uma sombra de poder estivesse a consumindo por dentro.
Perante aquilo, meu corpo ficou estático não conseguindo mexer nenhum osso ou músculo, mesmo que quisesse. A luz de presença ligada começou falhando e o quarto começou tremendo, como se aquele poder não só estivesse a consumindo mas também o mundo à sua volta. De repente, uma flecha de luz do corpo de minha filha se projeta na minha direção e, como se meu próprio corpo tivesse acordado de um devaneio, me desvio fazendo essa mesma chama atingir um quadro na parede, que rapidamente se transforma em cinzas.
Em choque e com minhas mãos persistindo em continuar tremendo, tento me aproximar de minha filha que parecia um ser divino sendo consumido pelo próprio poder. Quando me aproximo, sinto como se tivesse chocando em um escudo de poder — um poder mais antigo do que o próprio reino de Florentia — e que rapidamente me projeta para trás com tamanha força, que me faz chocar contra a secretária causando um pontada de dor na coluna, agora, recém-machucada. Minha pancada derruba alguns livros, o que faz com que subitamente Amora olhe em minha direção , como se o seu lado racional tivesse voltado por milésimos de segundo e estivesse tentando se livrar daquilo que a consumia — uma luta entre o seu lado humano e outro poder que a rodeava.

I Hate You - Amora & Scorpio Onde histórias criam vida. Descubra agora