05: Durma, flerte e se irrite.

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🐹

As dores de cabeça e o mal estar me pegaram na manhã seguinte, levantei para fazer minhas higienes matinais, tomar os remédios na mesa de cabeceira, mandar mensagem para Christopher para certeza de que Yuna estava bem e então voltar a dormir. 

Se não fosse pelas duas mensagens não lidas que Chou Tzuyu me mandou, me fazendo lembrar de toda a vergonha que passei com ela na noite passada. Só de recordar, minha cabeça doía mais do que o normal, chegava a ser preocupante. Eu acabei dormindo sem responde-la, não era mesmo algo que tinha condições de fazer naquele momento, já que a luz do celular só parou de incomodar meus olhos quando acordei na parte da noite, com batidas em minha porta.

— Boa noite!... — Momo parecia bem alegre, com sacolas nas mãos, mas seu sorriso murchou quando me observou de cima a baixo. — Gata, você está péssima.

Hirai Momo era minha amiga desde a adolescência, nós fizemos o ensino médio juntas no Japão, ela, mais do que todos, ficou arrasada quando descobriu que eu me mudaria para a Coréia do Sul, tanto que prontamente se mudou para cá também, arrastando Mina consigo. Aqui, ela conseguiu conquistar o que sonhava quando menina, um restaurante só dela e com o sobrenome dela, onde ela era a chefe de cozinha e ela quem administrava o dinheiro. Uma mulher independente.

— O que fazem aqui? — Minha voz quase não saiu, ainda tentava raciocinar as duas entrando em minha casa como se fosse as delas. 

— Você nos conhece, Sana. — A mais nova foi para a cozinha e começou a tirar coisas de dentro da sacola. — Momo quis vir cozinhar para você, já que não respondeu nossas mensagens o dia todo.

Nós conhecemos Myoui Mina um pouco depois que viramos amigas, não íamos com a cara dela, passamos horas de nossos dias falando mal de Minari, até as três se juntarem para não ir com a cara de uma outra garota e fazer o mesmo com ela. Mina não fugia muito do nosso nível de estupidez, mas de nós, ela era a mais pé no chão. A tia favorita de Yuna, baseado em seus desenhos. A maior razão disso é porque Mina ensina balé em seu próprio estúdio, para crianças de todas as idades.

Me sentei na cadeira da bancada.

— Ficamos preocupadas. E com razão. — Hirai me encarou de cima a baixo. — Shiba, o que houve com você?

Me lembrei de novo do incidente com Tzuyu e Jihyo, mas minha cabeça já não doía ao penar nisso. Eu me sentia arruinada. Caí o rosto no mármore gelado, gemendo em negação.

— Eu bebi demais ontem e flertei com duas colegas de trabalho. — Pude sentir Mina sorrir. — E uma delas me odeia.

— É melhor anotar para não beber em ambiente de trabalho. — Mina realmente estava rindo. 

— Qual delas você vai escolher para viver uma história de romance? — Momo cortava cenouras, não me dei muito tempo para pensar em como ela sabia onde a tábua e a faca ficavam. 

— Nenhuma. Eu trabalho com elas e seria inapropriado. — Levantei o rosto.

— Desde quando você faz coisas apropriadas? 

— Desde que estou trabalhando no lugar dos meus sonhos. — Momo assentiu, mas logo voltou a atenção para as cenouras. — Eu não posso perder esse emprego.

— Fique tranquila, Sannie. — A mais nova acariciou minhas costas. — O que elas falaram em relação a isso?

Arregalei os olhos, me lembrando que deixei as mensagens de Tzuyu esperando o dia todo. Corri até meu quarto, peguei meu celular por entre as cobertas e voltei para a cozinha.

— Jihyo, a legal, não disse nada. — Entreguei o aparelho nas mãos de Mina, Momo rapidamente secou as mãos e bisbilhotou atrás dela. — Mas eu propositalmente deixei meu casaco no carro de Chou Tzuyu.

— Porra, justo a insuportável? — Momo reclamou.

— Vá buscar. — Mina lia as mensagens pela caixa. 

— É humilhação demais. 

— Eu não diria isso. — Ela me entregou de volta o celular.

Franzi o cenho. Não havia mais só a mensagem de ontem.

"Ele fica melhor em mim, de qualquer maneira."

Mina e Momo embolsaram um assunto sobre em quais épocas do ano os alimentos são cultivados. Ajeitei-me no banco. Não fazia muito tempo desde que ela havia enviado, meia hora, no máximo.

"Boa noite. Desculpe por ontem, você pode ficar com ele."

Deixei o celular na mesa, fingindo não prestar atenção. Ele vibrou logo em seguida. Tzuyu era do tipo que respondia rápido, então.

"Jihyo ganhou desculpas também?"

Dei risada.

"Você realmente queria que fosse você."

Saí de meu transe quando ouvi novamente a maldita risadinha de Mina.

— Acho que ela já tem uma escolhida, Momoring. — Hirai gargalhou.

— Olhe para nossa Shiba, rindo para o celular. — Ela limpou lágrimas invisíveis. 

— Fale menos e cozinhe mais, Hirai.

Deixei novamente o celular de lado, e ele demorou para vibrar de novo, mesmo que Tzuyu tenha visualizado assim que mandei. Ainda sim, dei atenção para minhas amigas pelo resto da tarde. Momo contou que estava tendo algo com uma doutora, algo sério, mas insistiu que eu mostrasse à Mina todas as minhas colegas - solteiras - de trabalho. Ela não demonstrou reação para nenhuma delas, apenas olhava suas redes sem interesse. 

— Batalhas de rima? — Ela azedou a expressão. — Que desprezível. A pior que vi até agora.

— Ei? Chaeyoung não faz só batalhas de rima. — Defendi. — Ela é voluntária em um abrigo de animais, eu acho fofo.

— Isso a deixa mais sexy, na verdade. — Concordei com Momo, enquanto Mina revirava os olhos.

— Sai fora, você já tem a sua doutora. — Ela me entregou de volta o celular.

Depois de jantarmos conseguirem uma ligação de vídeo rápida com Yuna, Mina e Momo puderam ir embora em paz. 

Praticamente me arrastei até o quarto, cantarolando uma música que ouvi em Glee, mas que não sabia o nome. O dia foi todo perdido por um sono profundo, não pude fazer mais do que tomar um banho longo - lê-se fingir estar fazendo um show - e então vestir um pijama lilás, combinando com minhas mechas de cabelo, que já começavam a desbotar. 

Antes de cair no sono novamente, me apressei para mandar mais uma mensagem para Chan e me certificar de que minha filha já estava dormindo. Ao invés de ir para a conversa com ele, me perdi no contato abaixo.

"Mas foi, no final das contas."

Dei risada e revirei os olhos, pensando agora que Chou não era uma pessoa tão insuportável assim.

"Boa noite, srta. Chou."

Índigo | SatzuOnde histórias criam vida. Descubra agora