Flor Selvagem • jjk+pjm

11. estrela cadente

Não consigo entender como viajar de ônibus consegue ser ainda pior do que viajar de carro, se é, teoricamente, mais confortável.

Minhas costas estão estourando de tanta dor, minha bexiga transbordando porque o banheiro disponibilizado pelo ônibus de viagem é um perigo contra a saúde pública, e o lanche que trouxe para passar as horas não foi o suficiente, por isso, meu estômago está roncando que nem o motor de uma Kombi Furgão de 1965.

Eu desembarco na rodoviária e a primeira coisa que faço é procurar um banheiro para aliviar pelo menos um de meus três problemas, rezando para chegar em casa logo e poder dormir por horas, aproveitando que ainda não está tão tarde da noite.

Não preciso ligar ou mandar mensagem para a pessoa que ficou encarregada de me buscar, porque assim que saio do banheiro e me localizo na rodoviária, avisto de longe Sooyoung me esperando, sentada na mesa de um restaurante fast-food.

— Joy! — Grito, assim que estou perto o suficiente.

Ela sorri ao me ver, me recebendo com um abraço caloroso. Seus cabelos cor-de-mel estão amarrados em um rabo de cavalo, com alguns cachos soltos. O suéter azul macio que usa é tão confortável que a vontade é de não largá-la nunca e dormir em seus braços, sem falar no quão cheirosa ela está.

— Senta aqui comigo! Yoongi foi buscar um lanche, já deve estar voltando... — Sooyoung pede, e eu obedeço. — Como foi a viagem, meu bem?

— Péssima. Só percebi que perdi meu remédio pra dormir já dentro do ônibus e tive que ficar cheirando um limão a viagem toda pra não morrer de tanto enjoo; a mulher sentada do meu lado não parava de peidar; e meu banco não deitava de jeito nenhum. Cochilei todo torto e acordei com câimbra. Foi desumano.

Desrespeitosamente, ela gargalha, cobrindo a boca quando deixa escapar um leve roncar.

— Desculpa! Desculpa! Isso é terrível, sinto muito. — Ela se desculpa ao mesmo tempo que tenta cessar o riso, mas sem sucesso. — Que horror. Que sofrimento!

— Rir da desgraça dos outros é coisa de mau-caráter, viu, Sooyoung? — Magoado, eu dramatizo. — Nunca imaginaria uma coisa dessas vindo de você. Que decepção. As máscaras sempre caem!

— Eu já pedi desculpas!

Eu até dramatizaria um pouco mais para fazê-la se sentir verdadeiramente arrependida, mas o cheiro forte e delicioso de batatas fritas interrompe minha linha de pensamento. É Yoongi, que chega com três sacolas de papel com a logo do restaurante, empurrando um em minha direção pela mesa.

— Você me conhece tão bem, fala sério! O melhor amigo do mundo! — Emocionado por ele ter lembrado de mim, sou capaz até mesmo de lacrimejar, porque minha barriga ronca como louca enquanto tiro o lanche da embalagem. — Eu te amo, Guinho. Te amo!

— Ama mesmo, Jungkook? — Ele indaga, num tom frio e irônico tão fora do comum que eu estranho, olhando para ele sem entender a alfinetada.

Porém, antes que eu pudesse perguntar se há algo de errado, Sooyoung murmura:

— Ah... o meu pedido veio errado...

— Eu troco pra você. — Yoongi se oferece rapidamente.

— Não, não! Não era bem o que eu queria, mas vai servir. Eu como assim mesmo, tá tudo bem!

— Não tem problema, Joy. Eu troco! — Insiste, e mesmo não querendo dar trabalho, Sooyoung deixa que ele recolha o hambúrguer para ir trocar no restaurante, nos deixando sozinhos outra vez.

Ofereço-lhe a minha porção de batatas fritas para dividirmos enquanto seu pedido não chega, e ela aceita educadamente. Eu me ponho a desmontar meu sanduíche camada por camada à procura de picles, mas noto que até isso Yoongi lembrou de pedir para retirar, então apenas adiciono o ketchup, algumas tiras de batata frita no meio e volto a juntar tudo.