16. extraordinário

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Não é novidade alguma que a paternidade nunca foi algo que almejei.

Crianças são de fato adoráveis, e é claro que suas mãos pequenas e gorduchas junto com o cheiro gostoso e suave de seus cabelinhos deveria ser uma forma válida e eficaz de terapia. Contudo, a ideia e desejo de ser pai simplesmente não eram meus, e não foram por muito tempo.

Mas, quando comecei a considerar que talvez eu apenas não possuísse instintos paternos, Sunhye entrou na minha vida para me provar errado.

Eles estavam lá toda vez que a peste atentava contra a própria vida ao enfiar um brinquedo pequeno no nariz; quando ela conseguia fazer a proeza de alcançar um objeto perigoso e eu a impedia de se machucar com ele; ou quando eu não a deixava beber meio litro de detergente. E ingrata, ela ainda fica brava comigo todas as vezes que salvo sua vida.

É verdadeiramente complicado e cansativo. Seu choro que vem sem explicação me deixa maluco, assim como o cheiro nada agradável de sua fralda que eu troco enquanto o treinamento do penico não dá resultados. Também começa a ficar cada vez mais difícil inventar brincadeiras novas para que ela coma uma comida inovadora e desagradável que Jimin achou na Internet e nos usa como cobaia para testar as receitas, e Sunhye frequentemente rejeita. Com razão.

É exaustivo quando volto do trabalho completamente quebrado e cansado, mas Sunhye está me vendo pela primeira vez no dia e vem saltitante pedindo colo; ou quando está tarde e eu preciso dormir para durar o dia inteiro no trabalho, abraçado à Jimin na cama, e ela levanta no meio da noite com um dinossauro de pelúcia se enfiando no meio de nós dois. Não é fácil, e nunca esperei pelo contrário. Eu sabia que cuidar de uma criança era trabalhoso e exigia muito cuidado e responsabilidade. Consigo entender melhor ainda o porquê disso não ser para todo mundo. Mas ainda assim, com todo o cansaço, é extremamente gratificante ver meus próprios traços no desenvolvimento de sua personalidade e jeitinho meigo...

Dá para perceber na forma que a cabeça, cheia de adornos delicados e presilhas coloridas, se inclina para o lado sempre que ela não entende algo; ou como ela encolhe os ombros para rir, do exato jeito que eu faço. Também é adoravelmente engraçado o jeito que ela me chama com as bochechas vermelhas de raiva sempre que Jimin a nega biscoitos, então me faz brigar com ele –eu apenas finjo– para defendê-la e conseguir os doces que ela gosta, mas acabamos os dois resmungando juntos com os braços cruzados, porque ainda assim o homem ruim não cede.

Apesar de todos esses momentos que me fazem ter certeza que tenho, sim, instintos paternos, chamá-la de filha ainda me causa certa estranheza. Mas ser chamado de papai tem todo um efeito extraordinário que não tinha experimentado antes... e eu até que gosto.

— ...e é por isso que eu fielmente acredito que o Michael Jackson está vivo e escondido da mídia num terreiro de candomblé no Ceará, vivendo sua melhor vida. — Deitado no sofá com Sunhye confortavelmente deitada em meu peito, passo adiante meus conhecimentos mais preciosos e secretos, e ela ouve a história inteira atentamente.

Olivia também aprecia a narrativa, descansando seus pelos branquinhos e macios sobre os fios compridos de meus cabelos, quietinha e comportada.

Minha palma cobre quase completamente as costas de Sunhye ao que eu faço um carinho suave, trajada pelo tecido azul do vestidinho que ela escolheu usar naquela tarde.

Deitar na minha barriga é um dos hábitos favoritos dela atualmente. A pequena facilmente adormece me abraçando enquanto converso e lhe conto fábulas infantis e outras que vieram até mim num sonho, e Jimin me provoca dizendo que ela só cochila fácil por causa dos meus peitos em fase de crescimento. Mas é apenas dor-de-cotovelo, porque ele sabe que ela me ama mais e isso o irrita profundamente.

Flor Selvagem • jjk+pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora