epílogo.

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Eu me lembro da primeira vez que me casei com Park Jimin, aos oito anos de idade.

Lembro de seus olhos ansiosos pela pequena cerimônia em seu quintal, e de como ele usava uma gravata do pai que era grande demais, e por isso deixava um contraste adoravelmente notável entre o tecido escuro e seu corpo miúdo.

Lembro de como ele insistiu em usar a gravata ao mesmo tempo que o véu de sua mãe, Haewon, que pouco se importou em emprestar a peça, deixando que as bochechas gordas e rosadas fossem escondidas pela renda branca. E também lembro de como suas mãos pequenas seguravam um punhado de flores aleatórias, uma de cada espécie, algumas murchas e secas, bem fodidas mesmo, mas que ele mesmo colheu pelo bairro com todo carinho do mundo. Então era especial.

Lembro de como tivemos a brilhante ideia de fazer minha pelúcia do Snoopy ser o padre que iria nos unir em matrimônio, mas esquecemos de um detalhe importante: Ele não fala. Portanto, esse trabalho ficou nas mãos de meu querido pai, Benício, que com uma expressão cansada no rosto dava voz ao cachorro como um fantoche, suspirando entre um discurso ou outro de introdução ao casamento. Ele se esforçou para continuar dando corda à nossa bobaiada de criança, mesmo que estivesse doido para sair dali e ir para casa almoçar.

Nossos votos de casamento foram escritos em uma folha de papel cinco minutos antes da cerimônia, declarando em poucas linhas nosso amor cândido um ao outro, melhores amigos e noivos-de-mentirinha. Não me lembro bem de tudo o que escrevemos, mas lembro vagamente de ter mencionado comprar doces de goiaba para ele e prometer sempre dividir meus brinquedos. Jimin, por sua vez, falou algo sobre como nossa amizade era mais forte do que os personagens dos filmes de heróis que assistimos juntos na televisão da minha casa, e que seríamos inseparáveis. E, é claro, prometeu que comeríamos chicletes juntos escondido da sua mãe sempre que pudéssemos.

Essa confidência foi feita somente para mim, sussurrada baixinho em meu ouvido, porque Haewon também estava nos assistindo com uma sobrancelha arqueada e um sorriso desconfiado no rosto. Pois é, Dona Won, pois é.

Não sabíamos na época, mas tivemos sorte que seu pai estava trabalhando naquele horário e não pôde presenciar o grande casamento entre seu filho e eu. Haewon sabia que ele não encararia a situação como uma mera brincadeira de criança e preferiu não comentar, instruindo Jimin que fizesse o mesmo, evitando qualquer confronto desnecessário.

Quando finalmente declarados Marido & Marido, com alianças de plástico trocadas e beijinhos dados nas bochechas um do outro, saímos correndo em direção à sua casinha da árvore. Deitados no chão de madeira, conversamos empolgadamente sobre como seria nosso futuro dali em diante, fazendo planos de mudança e refletindo sobre o quê exatamente seria uma lua-de-mel.

Naturalmente, em apenas dez minutos esquecemos de todo aquele papo e fomos jogar bola na pracinha, com nossas mentes curiosas que rapidamente transitavam de pensamentos e trocavam de interesses, se encantando com qualquer outra coisa colorida que nos chamasse atenção.

Durante nossos quase vinte anos de amizade, eu e Jimin tivemos muitas primeiras vezes. Nosso primeiro casamento; primeiro beijo; primeiro salário; a primeira vez que patinamos no gelo; primeira parada no hospital por causa de uma bebedeira excessiva na comemoração da chegada do filho de Seokjin e Namjoon, onde acabei descobrindo uma hérnia umbilical acidentalmente; e também a primeira e única vez que fomos expulsos de uma sala de cinema, porque Jimin teve uma crise de riso depois de uma piada que eu contei e não conseguiu se controlar depois disso.

Durante os nossos primeiros dois anos de namoro, nós também tivemos muitas primeiras vezes, como por exemplo, a primeira vez que levamos Sunhye à escolinha. Pensamos que ela daria trabalho para se despedir e acostumar a ficar longe dos papais dela, mas a surpresa veio quando ela apenas nos deu um tchau rápido e passou pela porta colorida, saltitando com a lancheira da Moranguinho nas costas e um sorriso ansioso no rosto gorducho.

Flor Selvagem • jjk+pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora