Flor Selvagem • jjk+pjm

3. estúpido cupido

— Eu nunca mais vou tomar conta daquela menina, tô falando sério. — Garanto, fazendo minha voz inconscientemente sair um pouco mais afinada para reforçar a negativa.

Taehyung ri, sentado no banco ao meu lado enquanto brinca com o piercing argola na lateral do lábio inferior. Do outro lado do balcão, Yoongi serve doses de bebida aos clientes mais próximos com um sorriso no rosto enquanto me ouve reclamar sobre minha primeira e, esperançosamente, única experiência como babá.

O bar da Aphros está relativamente cheio hoje, mas nada diferente das outras esporádicas noites que venho visitar este lugar. Música ao vivo, como sempre, preenche a boate com uma acústica agradável de volume baixo, mas ainda assim consegue ser ouvida por todo o local. Além do balcão principal com pessoas alinhadas em bancos recebendo suas bebidas e petiscos, há mesas individuais espalhadas e funcionários perambulando por entre elas, servindo os clientes sem problemas mesmo que a iluminação propositalmente em um degradê nos tons de laranja e roxo das lâmpadas deixasse o ambiente um tanto escuro, mas confortável.

— Ela derramou leite em você?

— Leite de peito! Ela derramou leite de peito em mim! — Choramingo ao lembrar, dando um gole na minha cerveja. — Eu só disse pro Jimin que faria de novo porque ele me deu um beijinho e eu estava carente. Estar com sono me deixa vulnerável a manipulações.

— Larga de ser mentiroso, Jungkook. — Yoongi logo diz, em tom de repreensão, me fazendo clicar a língua no céu da boca em um muxoxo e rolar os olhos. — Cê acha que engana quem além de si mesmo com esse papo, homem? Tu aceitou fazer de novo porque é a cadelinha dele. Aquele cara te tem nas palmas das mãos, e pior, nem sabe!

— Deixa ele, Guinho. — É a vez de Taehyung falar, trocando um olhar enigmático com o barista. — No fundo ele sabe que não consegue negar nada pro Bonitinho porque ainda é louco por ele.

— Eu superei, gente. — Solto um suspiro pesado ao rebater, cansado de ter que reforçar aquela declaração o tempo inteiro. — Não sinto mais nada por ele. E eu consigo, sim, negar as coisas pro Jimin. Não sou a cadelinha de ninguém. — Assim que as últimas palavras saem por minha boca, Yoongi solta um riso soprado tão sarcástico que me faz desafiadoramente erguer as sobrancelhas. — Que que foi, hein?!

— Nada...

— "Nada" é o cacete! Pode ir falando. — Cruzo os braços.

Ainda com aquele sorriso zombeteiro nos rosto, Yoongi troca mais uma vez um olhar cúmplice com Taehyung, que tenta disfarçar dando um gole em sua bebida, mas consigo ver seus lábios repuxados do mesmo jeito que o do barista.

— Só achei engraçado o jeito que você encheu a boca para dizer que não é cadelinha de ninguém, quando largou toda sua vida em Busan pra vir pra Seoul atrás dele, Jungkook. — Ele finalmente expõe o que se passa em sua mente.

E boquiaberto, é óbvio que me ponho na defensiva de imediato.

— Todo mund- Ei! Volte aqui! Volte! Você falou, agora escute! — Digo, me esticando para puxá-lo pelo pulso quando ele faz menção de se afastar e ir servir outra pessoa assim que abro a boca para rebater. E apenas quando tenho certeza que possuo sua completa atenção, passo a me defender: — Todo mundo abandona Busan. Está entendendo?! Eu vim para Seoul porque não havia nada lá naquele ovo para mim. Não vim somente por causa dele, vim em busca de um futuro melhor do que uma cidade pequena poderia me oferecer!

Quando Jimin se formou no Ensino Médio, um ano antes de mim, ele tinha planos para a faculdade.

Eu não.

Ele sabia exatamente o que queria fazer na sua carreira profissional e correu atrás disso, se mudando para Seoul assim que nossa cidadezinha ficou ainda menor para seus sonhos. Eu não pretendia ir a lugar algum. Não tinha planos ou visão ampla de um futuro acadêmico. Ele certamente não voltaria para Busan depois de formado, o que significaria uma separação quase que definitiva para nós dois que crescemos e compartilhamos cada um dos marcos da infância e adolescência juntos.