De Universitária À Pirata

15 - Céu estrelado

Já era fim de tarde e aquele domingo eu tinha levado mais uma surra do Eros. Por agora ele finalmente tinha me deixado dar uma pausa pra respirar, e eu tinha me debruçado no casco da lateral direita do navio pra pegar um vento no rosto.

Assisti o sol começando a ir embora, tingindo o céu azul claro com um laranja pastel e um amarelo que de algum modo deixa as nuvens rosadas. Podia sentir todos os meus ossos e músculos reclamando, mas todos os componentes daquela paisagem, o céu, a brisa gelada com a maresia e as ondas quebrando, com espuma espirrando pra todo lado conforme o navio avançava pelo oceano a frente, sem nenhuma terra a vista no horizonte... era uma ótima recompensa, empolgante até.

Olhar aquele mar todo a nossa volta, dava uma sensação estranha de liberdade e uma paz de espírito.

Parece até mentira que faz uma semana que conheci melhor a tripulação de Blaze e que todos sejam tão gente boa, tirando o Eros é claro. Embora... devo admitir que, até que ele é um bom professor.

— Parece que alguem finalmente te deixou descansar. — olhei pro lado vendo um Silas simpático e sorridente, com um rolo de papel em mãos que julguei ser algum mapa.

— Pois é! E é melhor nem comentar muito, que ele pode aparecer e querer terminar de acabar com a minha raça. — resmunguei encolhendo os ombros e escutei o moreno, de cabelo longo preso no rabo de cavalo como de costume, dar uma gargalhada gostosa de se ouvir.

— Ele pode ser bem severo quando quer ser. — admitiu dando de ombros como se nao tivesse o que ser feito quanto a isso e eu entendia. O imediato do capitão era bem cabeça dura mas fazia o que achava certo. Quase me distrai, até que Silas se virou pra mim e abriu o mapa o segurando de modo que o vento nao o levasse nem atrapalhasse o que quer que fosse mostrar. — Em breve vamos ancorar perto da ilha Járvic, — vi a ilha com tal nome circulada no mapa. — e pode ver que estamos quase perto do continente Ferners que fica quase na metade da nossa rota até as ilhas do Sul.

— Isso é maneiro. — sorri olhando o mapa.

— Vamos parar em Járvic pra repor os mantimentos do navio, o mercado de lá é bem movimentado, se tem pessoas do mundo todo atras dos produtos dessa ilha, acho que você iria gostar. Minha irmã comentou que ama conhecer novos lugares e culturas. — assenti com um sorriso sem graça.

— Gosto mesmo. Na proxima semana, sem ser essa a outra, eu vou pra uma cidade que eu nunca tinha ouvido falar, para um trabalho de campo da faculdade com a minha turma. Gosto dessas viagens, conhecer outras pessoas, o lugar em si, e como é pro trabalho de Geomorfologia a gente vai andar muito no mato pra entender o relevo e eu to bem ansiosa com por isso. — eu falei tanto e vi Silas sorrindo.

Não me preocupei muito, apesar de pirata, ele é o navegador e descobri que ele é cartógrafo, então talvez me entendesse.

— Espero que quando voltar me conte tudo sobre esse trabalho de campo e as conclusões que chegaram sobre o relevo dessa cidade. — senti meu coração aquecido.

— Pode deixar, te trarei até minhas anotações se quiser e talvez alguns croquis, pois o professor disse que teremos que desenhar algumas coisas. — o moreno parecia empolgado.

— É tão bom conhecer alguem que entende dessas coisas por aqui. Eu nunca estudei com alguem que soubesse do assunto, aprendi tudo sozinho com os livros que tive acesso ao longo dos anos. Poucas vezes tive oportunidades conversar com alguém que entendesse o assunto. Também gosto muito de estudar sobre cada ilha e continente que tem nesse mundo, como cada pessoa desses lugares são e suas culturas e tradições.

— Você iria amar minha faculdade então. — comentei, ele sorriu e eu fiquei pensativa. — Eu posso tentar imprimir alguns textos sobre cartografia basica, pesquisas e artigos atuais sobre essas coisas, talvez seja interessante pra você.